LARA FERRAZ
O centro de Lagoa dos Santos era como todo centro de cidade do interior, havia uma catedral católica enorme que marcava o lugar como centro e todas as lojas de "alto padrão" (ou tão quanto fosse possível) se localizavam, assim como outros escritórios importantes. Em volta da Igreja, estavam as lojas com roupas do Brás da Senhora Toledo, que jurava vir direto das lojas de luxo da capital, o escritório de advocacia do Senhor Carlos, o escritório de contabilidade da Senhora Mendes e outros mais diversos segmentos de negócios. Contudo, o mais importante para mim era o consultório de Giovana Lacerda,
Parei na frente do prédio comercial de quatro andares com fachada de tijolinho onde ficava seu consultório de ginecologia e obstetrícia, eu não tinha um motivo específico para estar ali. Tinha realizado meus exames de rotina há três meses e não havia nenhuma possibilidade de estar grávida, eu não tinha como justificar minha ida ao seu consultório. Por isso, a preocupação de Olívia era tão clara, eu não tinha porque estar ali e se meu pai descobrisse, ele não ficaria nada feliz comigo.
Pelo o que já tinha ouvido pela cidade, meu pai e Giovana eram melhores amigos. Amigos de infância que fizeram absolutamente tudo juntos até... até não fazerem mais. Não sabia exatamente o que aconteceu para que parassem de se falar, só sabia que tinha sido sério, porque Giovana ficou alguns anos morando na capital antes de voltar para Lagoa dos Santos há um mês.
A volta dela havia sido tema de uma conversa entre meu pai e meus avôs, que eu não deveria ter escutado de nenhuma forma, já que o assunto estava sendo falado de madrugada e em tom baixo pelos três. Vovô era o único inclinado a falar com ela, enquanto minha avó parecia estar pronta para expulsá-la da cidade. Entretanto, nem a quatro vezes primeira dama da cidade poderia fazer algo contra ela, uma vez que sua família rivalizava com a nossa no quesito influência, era uma versão estranha de Romeu e Julieta, só que sem a parte do romance entre os protagonistas.
Meu pai, Augusto Ferraz, parecia inseguro sobre o que fazer e insegurança não é algo que acontece com meu pai. Papai é insuportavelmente confiante e bom em tudo o que faz, seja me ensinando matemática quando era pequena, seja debatendo em um palanque na frente de toda cidade sobre o que ele fará se for eleito prefeito. Eu consegui aprender matemática e ele venceu as eleições, Então, se papai estava preocupado, algo estava errado. Porque, diferente de mim, Augusto não foge de nenhum tipo de combate e foi isso que chamou minha atenção. Talvez, mais do que deveria.
E por mais que não gostasse de debater ou tomasse decisões impulsivas, não contive a curiosidade e perguntei da forma mais discreta possível para Marta, a faxineira que ia em casa duas vezes por semana para cuidar da limpeza pesada sobre os acontecimentos da cidade e por meio dela, descobri que ia abrir um consultório no centro da cidade. Eu não gostava de fofocas, mas se a chegada de uma única pessoa fosse capaz de abalar meu pai e avós, eu queria descobrir o motivo.
Minhas mãos suavam quando parei na frente do centro comercial. A minha decisão já não parecia tão boa agora que estava prestes a realmente conhecer Giovana Lacerda, esfreguei as mãos na calça do uniforme, tentando secá-las da forma que dava.
Era uma péssima ideia, péssima péssima péssima péssima péssima ideia.
Meus dedos dos pés se contraíram dentro do tênis sentindo a necessidade de agir, mas meu cérebro não enviava a mensagem, não saia do lugar. Não conseguia andar nem para longe dali, nem para dentro do prédio. Os degraus de pedra pareciam zombar de mim, assim como o vento frio que ultrapassava minha blusa de moletom, apesar de já termos passado da metade de setembro, a primavera não parecia disposta a dar às caras.
Ajeitei os óculos no rosto, em seguida pesquei o celular no bolso canguru, desbloqueei e permaneci alguns instantes com ícone de chamadas aberto, meu dedo pairando sobre o número da clínica, queria desesperadamente tomar uma decisão: entrar no prédio ou cancelar a consulta. A prefeitura e o gabinete onde papai trabalhava não era tão longe, poderia passar lá e dizer que tinha ido vê-lo.
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Boa Garota
ChickLitLara Ferraz é a típica garota que seria descrita nos romances clichês de 2010 como: ela não é como as outras garotas. Ela não sabe se maquiar e vive com o rosto enfiado em um livro. Ela é considerada uma nerd por sempre ter as maiores notas e dar po...