Capítulo Onze

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Lara Ferraz

As minhas mãos suavam enquanto caminhávamos pelo pátio. Estava tendo uma pausa quase normal, com Breno e Olívia trocando suas farpas diárias quando Pedro resolveu vir falar comigo e relembrar que agora teria uma quantidade razoável de pessoas prestando atenção em nós. Não queria ser mal educada com ele, mas ele poderia falar comigo em outro momento, certo?

— Desculpa te interromper sua pausa, mas como não sei como são suas tardes, preferi não te atrapalhar depois da aula. — sentados um do lado do outro, me senti mal por ficar irritada com ele. Pedro claramente estava deslocado no meio de ambiente, deveria ser uma droga mudar de colégio no meio do ano letivo e para uma escola totalmente nova em outro munícipio totalmente diferente de sua antiga cidade.

Com um pouco de vergonha por estar agindo de forma mesquinha, ofereci um sorriso solidário à ele. — Tudo bem, você não está atrapalhando, essa coisa de mudar de colégio deve ser um saco.

— Um saco você está sendo gentil, na verdade tá sendo uma merda do caralho se me permite a sinceridade.

— Permito a sinceridade sim. — apoiando o cotovelo na coxa direita, usou a mão de apoio e olhou para mim. — O que quer saber? — repuxando um sorriso de ladino, ele parecia querer saber muitas coisas. Bom, no lugar dele, eu também gostaria de saber tudo sobre o novo lugar onde passaria o resto do meu ano.

— Me fala de você, já que vou ficar o resto da semana grudado em você, preciso saber pelo menos alguma coisa além do seu nome. — me surpreendendo um pouco, Pedro desviou do assunto que o fez cruzar o pátio e falar comigo. Surpresa, não soube muito bem o que responder a ele.

— Não tem muito o que saber sobre mim. — dei de ombros, sem saber o que dizer a ele. O que é saber algo sobre alguém? Nome, idade, cor favorita?

— Lógico que tem, Lara — L A R A, ele falou de uma forma prolongada, como se sentisse cada letra e a forma que cada letra formava uma sílaba até formar meu nome. — Não posso correr o risco de ofender sua matéria favorita e conquistar o seu ódio para no fim acabar com você me passando todas as anotações erradas. Seria um desastre para mim e frustrante para meus pais.

— Pelo jeito, eles decidiram vir morar no interior.

— De maneira nenhuma, eu que escolhi me enfiar num município do tamanho da região onde morava e onde os lugares fecham dez horas da noite. A energia daqui é totalmente revitalizadora. — Sua expressão e voz séria não combinavam em nada com o sarcasmo que escorria pelas palavras, o que me arrancou uma risada. A ideia inicial, de entender sobre as aulas pode ter sido descarta e a segunda ideia, de me conhecer, demonstrava mais dele do que de mim.

— Realmente, Lagoa dos Santos não é para qualquer um. Mas é o charme dela. — falei sorrindo. De fato, o lugar não era para quem gostava da vida agitada e rotinas corridas, mas ela tinha suas coisas boas. Como as noites tranquilas, suas trilhas e quedas d'água.

— O seu charme combina com o dela. — Pedro falou, já não conservava a expressão séria, porém nem longe sorria como eu. Um pequeno sorriso ameaçou sair, até que suas palavras de segundos atrás me acertaram.

— Isso foi uma ofensa? — perguntei, um tanto desacreditada. 

— Lógico que não! — ele aprumou o corpo. — Por que acha isso?

— Você acabou de chamar Lagoa dos Santos de pequena e parada, um eufemismo para morta e depois disse que combina comigo. — Pedro finalmente pareceu entender ao o que ele me associou, ele se esticou todo no banco, apoiando a mão na minha perna. — É uma forma não muito sutil de ofender alguém.

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