Capítulo Treze

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Pedro Coimbra

Meus pais pareciam ter alcançado um novo tipo de paraíso, após um pequeno tour por Lagoa dos Santos.

Desde a nossa chegada, nenhum dos dois tiveram a oportunidade de explorar a cidade, já que precisaram ficar arrumando a casa e trabalhando loucamente para colocar em dia os assuntos corporativos que acabaram atrasados devido a nossa mudança para cá. Por isso, nos últimos dias meus pais agiam como se fossem vampiros entocados no escritório com fones de ouvido e duas garrafas térmicas de café, saindo vez ou outra para realizar as funções básicas do corpo.

Eu, ao contrário, já tinha dado um passeio pela cidade, quando sai para comprar comida e hoje indo e voltando do colégio, onde servi de experimento social para meu mais novo colega de turma, Felipe, um cara gente boa demais, apesar do humor duvidoso, para quem gosta de pagar de integrante das trevas. Além, é claro, de Lara Ferraz, minha colega suporte, garota de ouro, filha do prefeito e adepta a residir numa cidade menor que a Zona Leste. Ela parecia ser legal e eu esperava mesmo que fosse, porque ficar colado uma semana inteira em gente chata seria insuportável, já bastava, segundo ela, eu ter a chamado de sem graça. O que seria impossível já que ela passa uma energia total de nerd gostosa, ela só não poderia ser uma nerd gostosa chata, porque, bem, seria um desperdício sem tamanho de personalidade.

Mas, o ponto em tudo isso é: meus pais não tinham conhecido o lugar que escolheram morar. Eles só conheciam por fotos e pela fama das cachoeiras (fator decisivo na escolha, o que era uma mentira sem tamanho porque nenhum deles nunca fez uma trilha na vida!), por causa disso, nós três estávamos dando voltas de carro ao redor do centro (uma igreja e lojas em volta) e dos bairros depois de sair do supermercado. A última coisa que eu poderia esperar da segunda-feira seria fazer um mini passeio turístico por Lagoa dos Santos depois de uma manhã atribulada e com um monte de coisa para decidir. Sinceramente, eu estava estressado pra caralho com a mudança de cidade, de colégio e de vida e para piorar ainda precisava escolher essas caralhas de aulas, a paz interior não era uma opção no momento.

— Aqui é tão bonito e calmo, não acha, amor? — fingindo que havia morrido no banco de trás, apoiei a cabeça no encosto do banco com o intuito de ignorar totalmente meus pais. Decidido a escolher as malditas aulas, massageie as têmporas esperando que isso ajudasse meu cérebro voltar a funcionar.

Tinha literatura brasileira, literatura inglesa, desenho e pintura, robótica, escrita criativa, física, química e matemática para olimpíadas, programação, teatro...

— Sim, amor, o lugar é ótimo. — meu pai respirou fundo antes de continuar — O ar aqui é bem mais limpo que dá capital, vai ser ótimo para a sua rinite.

Robótica e programação é legal. Exatas para competição nem fudendo. Teatro, desenho e pintura, não fudendo em dobro. Escrita criativa? Pior ainda. Não tinha futebol na lista? Fazer algum esporte seria ótimo...

— Quase me sinto num filme da sessão da tarde. — revirei os olhos mesmo com as pálpebras fechadas. — Será que precisamos fazer algo para conhecer nossos vizinhos? Uma fornada de biscoitos talvez? — para quem mandava num monte de homem, minha mãe parecia uma adolescente besta.

— Não se preocupe, mãe, já estão todos fofocando sobre nós. — falei sem conseguir conter a porra da boca fechada. — Mas a fornada de biscoitos é super bem-vinda. — Ter aberto a boca foi uma das piores escolhas que poderia fazer, pois atraiu a atenção dos meus pais para mim, que até o momento, pareciam ter esquecido da minha existência no banco de trás.

Uma pena não ter continuado assim.

— Que tal VOCÊ fazer a fofoca agora e contar como foi seu primeiro dia de aula. — Lorena falou inclinando o corpo para mim. Com os olhos levemente abertos, a visão da minha mãe era só um borrão ruivo.

Boa GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora