Lara Ferraz
Havia um clima de expectativa rondando o Mário de Quintana na manhã de segunda-feira.
Todo mundo ficava encarando a entrada do colégio com expectativa, esperando que o novo habitante de Lagoa dos Santos fosse um estudante da nossa escola. Se ainda estivesse no ensino médio, havia 50% de chance dele vir para o Mário de Quintana e 50% de chance de ir à Escola Municipal Guimarães Rosa. E se ele não fosse um estudante, toda a expectativa que instigava e pesava o ar seria para nada.
Olívia estava sentada ao meu lado, terminando as questões que a professora de espanhol tinha passado semana passada, ela assim como eu, preferiu continuar com as duas línguas, inglês e espanhol, ao invés de escolher apenas uma como é o recomendado quando ingressamos no ensino médio.
A estrutura curricular do Mário de Quintana oferecia, além das matérias obrigatórias, uma boa quantidade de matérias extracurriculares, desde robótica até estudo de literatura inglesa. O que tornava o único colégio particular de Lagoa dos Santos a melhor opção para as famílias que vinham morar aqui. Mas a escola municipal não sofria com o mesmo sucateamento que acontecia nas escolas da capital, já que não precisava disputar os recursos recebidos com outras instituições e não sofrer com a falta de interesse dos políticos. Não duvidava que papai em algum momento quisesse ter uma universidade federal por aqui.
Apesar de que lotar Lagoa dos Santos de universitários que gostam de festas e bebedeira não parece muito ser seu objetivo, por enquanto.
— Bom dia — disse Breno, se jogando na cadeira à nossa frente, aparentando cansaço. Esfregou os olhos, antes de os arregalar, destacando o castanho da íris, ao ver Olívia terminando o questionário. — Tinha lição para entregar hoje?
— Está na turma de espanhol? — Olivia perguntou sem dar muita atenção para sua preocupação iminente.
— Não, estou fazendo só inglês.
— Então, não tem lição para entregar — falou sem muita atenção, ou era o que eu achava. — Agora, se você tem aula de física hoje... — ela sabia que ele tinha, já que estávamos na mesma sala. — Tem lição sim, o Eric passou umas 20 questões para entregar hoje. — Olívia falou com tranquilidade, quase como se contasse sobre um assunto leviano.
— Ela está falando sério ou mentindo para mim? — Breno voltou sua atenção para mim, porque Olívia tinha o péssimo, e um pouco engraçado, hábito de fazer nosso amigo pensar que não fez alguma lição. Na maioria das vezes, Olívia estava apenas sacaneando o Breno, mas hoje, para a tristeza dele, ela falava sério.
— Ela está falando sério mesmo, ele passou na aula passada, quatro páginas com cinco exercícios em cada. — respondi, cedendo a expectativa e passei a encarar a entrada do pátio. O início das aulas estava chegando e nada do meu vizinho chegar. Se ele ainda fosse um estudante de ensino médio...
— Qual o nível dos exercícios? Eles são fáceis? — Acenei sem prestar muita atenção, porque naquele momento, o garoto que eu vi descer da moto no sábado a noite, aparecia lentamente na entrada do pátio. Ele não usava o uniforme e uma pequena parte de mim ficou bem feliz por isso. O meu novo vizinho parou na entrada do pátio, passando os olhos por todo o espaço. — Lara, o que foi? Você tá bem? O que tá... — a voz de Breno sumiu quando ele viu o que estava tirando minha atenção dele. — Quem é esse?
— Meu deus... — A interlocução saiu da boca de Olívia, olhei para ela, concordando com a cabeça. Breno bufou ao fundo, mas ele já tinha ficado totalmente em segundo plano. Pois, o meu vizinho sem nome usava uma calça jeans preta, daquelas que não ficam grudadas nas pernas como uma segunda pele e uma camiseta de manga longa cinza, o tecido era justo no corpo dele, principalmente nos braços. No tórax, dava para ver, devido ao tecido, os músculos do peito bem trabalhados. Para completar, o cabelo preto estava com aquele ar bagunçado arrumado, quando os fios ficam elegantemente rebeldes. Talvez para se mostrar, ou não, ele passou a mão no cabelo, evidenciando os músculos do braço e peito. — Não acredito que ele seja o novo morador de Lagoa dos Santos.
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Boa Garota
ChickLitLara Ferraz é a típica garota que seria descrita nos romances clichês de 2010 como: ela não é como as outras garotas. Ela não sabe se maquiar e vive com o rosto enfiado em um livro. Ela é considerada uma nerd por sempre ter as maiores notas e dar po...