Capítulo Cinco

46 7 0
                                    

Lara Ferraz

Olívia encarava a janela do meu quarto concentrada. Ontem, depois da chegada nada discreta dos meus novos vizinhos, recebi mensagens dela e do Breno no nosso grupo no WhatsApp, ambos perguntando se já tinha conhecido meus novos vizinhos e se era verdade que o casal tinha um filho na nossa idade (Olívia perguntou, na verdade). Quando respondi falando que não havia conhecido meus novos vizinhos e sim, eles tinham um filho que aparentava ser da nossa idade, Olívia enviou algumas figurinhas de comemoração falando sobre finalmente ter alguém diferente para conhecer.

A troca de mensagens aconteceu em menos de 30 minutos depois da chegada deles. Uma vizinha contou para uma vizinha, que contou a outra vizinha e em 25 minutos, praticamente todo mundo sabia sobre os novos moradores da cidade. Depois de responder às perguntas dos dois, me desliguei do celular para me concentrar na maratona de Harry Potter que passava na TV, enquanto meu pai respondia alguns e-mails, já não compareceu ao almoço com os deputados para poder estudar comigo.

A recepção a sua atitude não foi boa, notava pela forma que revirava os olhos e bufava vez ou outra devido ao conteúdo que lia. Contudo, quando perguntei se tinha algum problema ele ter furado o almoço, papai respondeu que não, eram os velhos ranzinzas agindo feitos velhos ranzinzas. Apesar de não acreditar muito, preferi não insistir no assunto, já que, agora, não mudaria nada, o dia já tinha acabado e o almoço também. A única coisa que poderia fazer para que sua chateação não fosse em vão seria ir bem na prova de matemática da próxima semana.

Com o celular deixado de lado, não vi a mensagem que Olívia me mandou no privado perguntando se poderia vir aqui em casa tomar café comigo. Por isso, quando a campainha de casa tocou tanto eu quanto papai estranhamos, ao abrir a porta e dar de cara com Olívia me questionei se tinha marcado algo com ela e esquecido. Porém, quando ela explicou que tentou falar comigo noite passada e não conseguiu, preferiu vir assim mesmo. Ela tomou café conosco enquanto conversava com Augusto sobre o trabalho dele, sua família e seu futuro na área da saúde. Olívia queria cursar Enfermagem, mas, de vez em quando, balançava por Fisioterapia.

Ficamos um bom tempo conversando na mesa, Augusto e Olívia falavam muito mais do que eu, preferi me concentrar em ouvir mais do que falar. Minha amiga me ajudou a tirar a mesa e lavar a pouca louça suja antes de subirmos para o meu quarto e ela perceber que eu poderia ter visão privilegiada dos novos vizinhos.

— Você conseguiu ver eles ontem? — perguntou, sentada na cadeira da escrivaninha. Olívia continuava sentada de frente para a janela como uma stalker.

— Não muito, eles chegaram e já entraram. — dei de ombros como se fosse algo sem importância, o novo assunto de Lagoa dos Santos seria esse pelas próximas semanas, até a chegada deles deixar de ser novidade e se tornar cotidiano. Ignorando totalmente a avaliação rápida, mas muito eficiente que havia feito do motoqueiro e filho do casal. Ainda não queria compartilhar a informação que tinha.

— O que acha de fazer o papel de boa vizinha e levar um dos seus pães doces para eles? Num gesto de boas vindas é claro — o sorriso sapeca de Olívia não escondia em nada sua curiosidade.

— E você faria a gentileza de me acompanhar nesse gesto? — sorri também, preferindo acreditar que esconder a informação de Olívia não era um absurdo, já que ela sempre acabava sabendo de tudo antes de mim e nem sempre me contava na mesma hora.

— É claro! Seria uma forma de mostrar para os novos habitantes que somos um município acolhedor.

— Só por isso, né?

— É lógico! Teria algum outro motivo? — Questionou erguendo uma das sobrancelhas, desejando saber se eu tinha alguma informação não contada. Até tinha, mas por enquanto ela continuaria restrita à mim.

Boa GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora