Capítulo Oito

57 7 0
                                    

Pedro Coimbra

Estava me sentindo a pior espécie de famoso dentro do Mário de Quintana. Aquele que ainda não sabe o porquê é famoso.

Enquanto caminho pelo pátio às sete horas da manhã, todos parecem já saber quem eu sou, especulado com seus colegas sobre o garoto novo. Não me faria de hipócrita e fingir que nunca agi da mesma forma que eles, porque já tinha tido a mesma atitude outras vezes.

A escola tende a ser um lugar com pessoas constantes e poucas mudanças, na maioria dos casos, os anos de colégio são compostos pelos mesmos alunos e círculo de amigos. Se os pais te colocam cedo numa instituição e entendem que ali são atendas às expectativas de ensino e respeito, inevitavelmente, é lá que os próximos anos serão passados. E quando alguém novo chega...

A atenção se volta para a pessoa nova, para a novidade. Num lugar de constância, qualquer mínima mudança torna-se um acontecimento. O acontecimento era eu, Pedro Coimbra. Obrigado, genitores.

Com Police Station, do Red Hot Chilli Pepers estourando no ouvido, ignorei toda a atenção. Não era a primeira vez que me colocava sob os "holofotes" e não me incomodava o suficiente para tomar uma atitude. Afinal, logo estaria de volta a São Paulo e toda a mudança para Lagoa dos Santos seria apenas um grande surto coletivo dos meus pais, comigo incluso. Desejando um lugar sossegado para sentar, onde não correria o risco de entrar numa conversa nada interessante ou invasiva, busquei a pessoa que parecia estar pouco se fodendo para mim. E encontrei.

Sentado numa mesa sozinho, um garoto com traços orientais e lápis de olho preto delineando as proximidades dos olhos mexia no celular ignorando totalmente o ambiente ao seu redor. De todos ali, ele era a melhor escolha. Evitando pensar demais, tomei minha decisão de sentar ao lado dele.

— Ei, de boa, cara? — perguntei, o pegando um pouco de surpresa, ele afastou os olhos da tela do celular para me olhar, foi quando pude notar as unhas pintadas de preto. Ele acenou, meio constrangido com a minha aproximação. — Posso sentar aqui? — iria sentar de qualquer forma, só não queria parecer um babaca com a única pessoa que não me encarava como se eu fosse o próximo a ser jogado numa trincheira ou feito de café da manhã.

— Pode, cara, senta aí — respondeu e logo voltou a focar no celular. Agradecendo por ele não ser do tipo que puxa conversa, arrumei os fones no ouvido e apoiei a cabeça nos braços, fingindo que estava no meio de um sonho muito louco e com curto prazo de duração. Todo o tempo entre a minha chegada e o toque do sinal foi com a cabeça enfiada entre os braços, o meu corpo doía por ter passado o domingo inteiro arrumando o meu quarto e trocando a maioria dos móveis da casa de lugar, já que segundo Lorena, a disposição deles não combinava com ela.

Os sofás, mesas, aparadores, decorações... tudo foi reorganizado por Lorena, mas a parte braçal, de efetivamente trocar o móvel de lugar, ficou para Henrique e eu fazer.

Meu corpo quebrado não aprovava em nada a vinda para o colégio hoje, ele bem como meu cérebro só queriam ficar deitados dormindo até tarde repondo a energia antes de encarar realmente a realidade. Lorena e Henrique deixaram? Óbvio que não, por isso às seis horas da manhã eles tiveram a falta de vergonha na cara de me acordar e depois voltarem a dormir. "Eu sabia que não tinha programado o alarme, Pedro! Pode levantar! Anda"

E aqui estava eu agora, sendo tratado feito um animal num zoológico. Novamente, obrigado, genitores.

O alarme tocou ao fundo, não esbocei nenhuma reação de sair do lugar ou mudar de posição, ainda precisava entregar os restante dos documentos na coordenação e reservar os uniformes para compra. Porém pretendia esperar que os alunos saíssem primeiro.

Boa GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora