Capítulo Quatro

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Lara Ferraz

Era sábado de manhã e um barulho irritante atrapalhava o meu sono. Abri primeiro um olho, uma fresta de luz vazava pela porta fechada e pela janela, o local de onde vinha o barulho, parecia que alguém estava martelando algo dentro do meu quarto. Me acostumando com a claridade do quarto, abri o outro olho. Minha cabeça latejava pelas poucas horas de sono, estiquei minha mão, procurando os óculos, bati a mão na superfície da mesinha de cabeceira.

Senti a textura do livro e continuei procurando, estiquei a cabeça, a vista embaçada e a claridade parcial do quarto não facilitava muito. Bati a mão no que imaginava serem os óculos, com a mão esticada para o chão, enfim o resgatei e o coloquei no rosto, finalmente enxergando com nitidez, pude levantar da cama e ir até a janela. Com cuidado, abri a cortina e com cuidado, abri a janela para poder espiar o que estava acontecendo na casa ao lado.

O sobrado que ficava ao lado da minha casa estava fechado há dois anos, a família Oliveira, meus vizinhos, tinham se mudado para a capital e nunca alugaram a casa. Mas parece que agora eles conseguiram inquilinos. Pela fresta da minha janela, podia ver os rapazes trabalhando em montar algo na parede, o barulho alto da furadeira alcançou novamente meus ouvidos. Me afastando da janela, voltei a deitar na cama com o intuito de descobrir se meu corpo seria capaz de voltar a dormir novamente, afinal, era sábado e eu não tinha nada acumulado para fazer hoje, poderia ficar na cama até tarde.

O barulho alto e constante provou que não seria possível ficar na cama até tarde, levantei novamente a contragosto, indo ao banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto. Saindo do quarto, desci até a cozinha com intuito de comer algo, encontrando meu pai tomando seu café enquanto lia alguma notícia no celular.

— Bom dia, filha. — me aproximei, beijando seu rosto.

— Bom dia, pai. — sentei na cadeira encarando o que tinha na mesa, esperando que meu cérebro entrasse em pleno funcionamento. Devagar, comecei a montar meu sanduíche. — Dormiu bem?

— Dormi sim, filha. Teria sido um pouco melhor se não tivesse acordado de manhã com esse barulho. E você?

— O mesmo. Já sabe quem vai mudar para a casa dos Oliveiras?

— Ainda não tive muitas informações, sei que é uma família com um filho. O Jorge não quis dar muitas informações sobre eles. — Jorge era o único corretor de imóveis da cidade e também faz tudo, já que Lagoa dos Santos não é exatamente uma cidade com alta rotatividade de pessoas, por consequência de aluguel de lugares, ele acaba fazendo um pouco de tudo.

— Entendi, pai. Estranhei o barulho, porque não vi ninguém visitando a casa durante as semanas passadas.

— Pelo o que entendi, eles são da capital e não conseguiam vir pessoalmente conhecer a casa, o Jorge fez tudo remoto. — concordei com um aceno, dando uma mordida no lanche.

Papai voltou a ler o seu jornal, enquanto eu comia em silêncio, sem nem conseguir pensar direito sobre o fato de ter novos vizinhos devido ao sono que pesava nos meus olhos. Mastigava devagar com a cabeça mais lenta que o normal pelas poucas horas de sono.

— Fiquei pensando sobre o que conversamos na quarta... — papai falou após alguns minutos de silêncio, ergui meus olhos em sua direção, ele bloqueou o celular para dar sua atenção a mim. — Sobre chamar uma pessoa mais jovem para palestrar nas escolas... — ele fez uma espécie de suspense antes de continuar.

— Foi uma ótima ideia, mas você já sabe disso. — Abri um pequeno sorriso, porque sim, tinha sido uma boa ideia. E papai provavelmente já havia pensado nisso, só deveria estar resistente por algum motivo. — Enviei um e-mail para a doutora para entender se ela teria interesse em participar da iniciativa.

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