Capítulo Dez

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Pedro Coimbra

O Mário de Quintana não era um colégio ruim, o pão de queijo era bom e os poucos professores que tive aula eram tão bem preparados quanto o do Álvares de Azevedo, talvez até melhores devido à menor quantidade de alunos e possibilidade de estarem mais próximos durante as aulas e realização das atividades. Mas, uma coisa que é igual em qualquer colégio do mundo, é a praga do adolescente.

Porém, eu estava começando a achar que o adolescente do interior era feito de um material diferente do adolescente de São Paulo, porque na capital ainda existe algum tipo de distração dos mais variados tipos. É adolescente cult? Tem museu, tem exposições, tem cantor torrando no sol da Avenida Paulista todo domingo. É um adolescente festeiro? Tem balada que aceita RG falso (não que eu as conhecesse), tem rave, tem baile dentro de comunidade. É adolescente consumista? Tem shopping em todo canto, tem a 25 de Março, tem o Brás.

Resumindo, tem a porra toda na capital. Só que Lagoa dos Santos era totalmente o contrário. Não tinha uma linha de ônibus circulando na rua, um shopping, uma buzina de carro... Vinte e duas horas da noite a cidade estava morta.

Por isso, eu estava à beira de um colapso e estar sendo alvo da atenção massiva de todos os alunos durante o intervalo não ajudava muito meu humor e lembrar que estar enfiado nessa cidade é 50% culpa minha não melhorava nada. Uma parte minha entendia a atenção, aluno novo no meio do ano em uma escola de cidade pequena, numa cidade grande já chama atenção, mas aqui em que a maior novidade deve ser um estabelecimento ficar aberto até às vinte e três horas, tinha uma proporção muito maior. Pelo menos, o meu mais novo colega era legal.

Felipe não era muito de conversar, mas o cara merecia um agradecimento por me livrar de um princípio de medição de pau com a abelha rainha da escola, que não era a loira que faltou quebrar a minha mão mais cedo na aula, Olívia, amiga, ou melhor, melhor amiga da minha tutora pela semana.

Falando neles, o garoto (que não me esforcei em gravar o nome), Olívia e Lara desciam pela rampa que dava acesso ao espaço do pátio. Olívia andava no meio, enquanto Lara e o garoto ficavam na lateral formando um trio heterogêneo. Os cabelos pretos e lisos de Lara contrastavam com os loiros ondulados de Olívia e o crespo do queridíssimo colega de sala. Os três juntos pareciam ter algum tipo de relevância na hierarquia do colégio, já que a maioria dos alunos aparentava ter uma certa curiosidade sobre eles.

— Então, Felipe... — chamei o garoto, distraído pelo celular — Qual é a da abelha rainha e damas de companhia? — perguntei indicando com a cabeça.

— Quem? — perguntou antes de perceber de quem se tratava — O trio de ouro você diz?

— Se vai fazer referência a Harry Potter, adianto que só vi os filmes. — ele soltou uma risada com o comentário.

— Você é meio engraçado, gostei disso. — dei de ombros, engraçado era forçado demais, só soltava uns comentários de vez em quando. — Acredite, os três poderiam Harry, Rony e Hermione com alguma adaptação na história. Mas, não chamo eles de Trio de Ouro por causa de Harry Potter, apesar de ser uma boa referência. Vou te contextualizar sobre o triozinho ali, vamos começar pela integrante mais importante para você por enquanto: Lara Ferraz — indicou a minha tutora particular, que agora encontrava-se sentada comendo alguma coisa. — Filha do prefeito da cidade e neta do antigo prefeito e vereador da cidade. A família dela é da política, pai, avô e bisavô, todos já foram prefeitos e vereadores. O pai foi eleito vereador na penúltima eleição e na última eleição foi eleito prefeito, outra coisa importante, todos, sem exceção, cursaram Direito, os Ferraz são uma família de juristas. — Encarei a garota novamente, colocando o cabelo atrás da orelha, parecendo um pouco tímida.

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