Capítulo Nove

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Lara Ferraz

Pedro continuava me encarando, esperando alguma reação da minha parte, mas eu me encontrava constrangida. Pois, mesmo Eric tendo chamado a atenção da sala, uma novidade é uma novidade e o colega ao meu lado, era a NOVIDADE.

— É ótimo te conhecer também, Pedro, bem-vindo à Lagoa dos Santos. — ele ofereceu um pequeno sorriso para mim.

— Obrigado, Lara... parece que serei sua sombra pela semana toda. — concordei com um aceno. — Espero não te atrapalhar. — Pedro passou a mão no cabelo, bagunçando os fios pretos.

— Não vai, acredite, Lara é ótima em lidar com várias coisas ao mesmo tempo. — Olívia falou, atraindo a nossa atenção para ela. Ela se aprumou, quando percebeu que ambos desviamos o olhar para ela. Olívia me fez um favor ao me fazer perceber que eu deveria estar corrigindo a minha lição e não, distraída pelo aluno novo. — Bem-vindo, Pedro.

— Você é? — minhas mãos e olhos foram rápidos na comparação a lousa com meu caderno, corrigindo o que precisava, sinalizando o que acertava e grifando os erros que não entendia.

— Olívia Marins, melhor amiga da Lara. — ela estendeu a mão para Pedro, como se fosse uma política conhecendo um possível eleitor, papai teria orgulho. O mais novo integrante da nossa sala e cidade encarou a mão da minha amiga, parecendo avaliar o que faria. Olívia ergueu uma sobrancelha, medindo-o de cima a baixo, impondo a próxima ação do nosso mais novo colega.

— Pedro Coimbra, sombra da Lara. — ele apertou sua mão, oferecendo um pequeno repuxar dos lábios. Os dois soltaram as mãos logo em seguida. Franzi o cenho achando graça da postura a lá mamãe leoa de Olívia comigo, mostrando para Pedro que ele até poderia ser a minha sombra durante a semana. Mas que ela era minha MELHOR AMIGA posto que não seria alcançado por ele jamais. O que eu duvidava que quisesse, ele não parecia nenhum pouco animado com, bem, nada. Talvez fosse a tensão do primeiro dia... Olívia percebeu que também deveria estar prestando atenção na aula e voltou a atenção para a lousa.

— Não sei se já te passaram qual a grade horária de hoje, mas são dois tempos de física, um de gramática e um de redação e dois tempos de química para encerrar.

— Quem montou a grade, claramente, odeia a sua sala — resmungou bem baixo, sua voz não era mais que um murmúrio. Talvez devido à proximidade, talvez devido a hiperconsciência de sua proximidade, fui capaz de escutar à reclamação.

— Depois temos aulas extras. As aulas extras se dividem em anuais e semestrais, nós sempre escolhemos no começo e fim de semestre. — Pedro prestava atenção, acenando uma vez e outra. — No intervalo te dou mais informações, tudo bem?

— Sem problemas, Lara. — fiquei em dúvida se continuava explicando sobre o funcionamento das aulas, já que Pedro se demonstrava apático, diferente de quando sentou ao meu lado mais cedo. Insegura de como continuar, optei por ficar quieta corrigindo os exercícios e anotar minhas dúvidas no canto das resoluções das questões.

O garoto também seguiu em silêncio, anotando tudo no caderno e vez ou outra perguntando algo para mim com sua voz baixa e grossa. Uma sensação de nervosismo crescia no meu estômago, conforme as aulas passavam e o intervalo nunca parecia se aproximar. Minha perna balançava debaixo da mesa, enquanto a professora Priscila explicava sobre as orações subordinadas, a vontade de checar as horas no celular coçava na ponta dos meus dedos e o desejo de me movimentar aumentando cada vez mais.

A sala parecia mais claustrofóbica a cada instante, ser os centros das atenções nunca foi meu forte, mesmo que a comunicação e a oratória fossem o dom da família, eu saí totalmente avessa a habilidade de agir normalmente em situações de exposição. A tremedeira na perna se intensificou ao ponto de precisar colocar a mão na coxa para conter o balançar rápido e um desgovernado. Se Olívia notou a forma que meu pé balançava sua cadeira preferiu não comentar no momento.

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