12 | Sobrevivendo ao Natal

4.8K 441 302
                                    

You're still all over me
Like a wine-stained dress I can't wear anymore

Você ainda está sobre mim
Como um vestido manchado de vinho que não posso mais usar


Clean

━━━━●─────

⇆ㅤ ㅤ◁ㅤ ❚❚ ㅤ▷ ㅤㅤ↻


Encaro meu reflexo nas lentes espelhadas dos óculos Juliet da Emily. Não é uma imagem muito bonita, a minha. Estou com olheiras fundas e o cabelo evidentemente embaraçado apesar do coque em que o amarrei.

A ressaca da noite passada me atropelou. E aí o arrependimento ficou com inveja e decidiu me atropelar também.

Perdi a chance de transar com uma mulher linda porque estava ocupada demais sendo trouxa pela Ember. Ainda lembro do toque dos lábios dela nos meus, das suas mãos nas minhas coxas. Estaria tudo bem se, logo depois de nos afastarmos, ela não tivesse deixado claro sua falta de interesse em passar a noite comigo.

No fundo, sei que não trocaria o beijo com Ember por uma noite inteira com Lúcia, mesmo que o beijo tenha custado um pedaço do meu orgulho.

Desvio o olhar dos Juliet e, consequentemente, do meu reflexo. Nem faz sentido Emily estar usando óculos de sol dentro de um avião e, quando lhe digo isso, ela retruca:

— Esses óculos são a única coisa preservando a minha dignidade.

— Tudo isso porque você sentou no colo da Alba e se atracou com ela na frente de todo mundo?

— E precisa de mais?

— Quer mesmo que eu responda com sinceridade?

Ela abana a mão.

— Não, foi uma pergunta retórica. Sei bem qual é a sua opinião sobre esse assunto.

— Pois vou te contar algo que você não sabe.

Ela se vira na minha direção, mas os óculos me impedem de decifrar bem sua expressão. Estamos no vôo que nos levará até o aeroporto de Guarulhos, e lá nos separaremos. Ela vai para Curitiba, no Paraná, onde sua família mora, e eu vou passar o Natal com a minha família no interior de São Paulo.

Não há mais ninguém do time perto de nós que possa entreouvir qualquer coisa, cada uma seguiu seu próprio rumo depois da festa de ontem, então me sinto segura para dizer em voz alta:

— Ember e eu nos beijamos.

Isso faz com que ela tire os óculos. Está com os olhos avermelhados e, sob eles, sombras escuras revelam a noite mal dormida. Mesmo assim, um sorriso ilumina sua expressão.

— Foi naquela hora no banheiro? Quando você estava na bancada? — Eu assinto e ela dá uma risada. — Ela estava mesmo te "acalmando", hein! — Emily faz aspas no ar, e eu reviro os olhos.

— Mas você lembra do que ela disse depois, né?

Ela franze a testa.

— Não exatamente...

— Eu falei que ia voltar para o hotel e basicamente a convidei para ir junto, mas ela disse que preferia ficar mais na festa.

— Esse convite que você fez foi verbalmente ou, tipo, telepaticamente?

Empurro o ombro dela com o meu.

— Foi implícito — digo, meu rosto esquentando. Depois respiro fundo e tomo coragem para questioná-la sobre algo que vem me atormentando desde que acordei. — Um tempo atrás, você comentou que ela gosta de joguinhos. Por que disse isso?

As Novas Românticas ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora