| Epílogo |

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And for once, you let go
Of your fears and your ghosts
One step, not much
But it said enough

E, pela primeira vez, você abre mão
Dos seus medos e dos seus fantasmas
Um passo, não muito
Mas isso diz o suficiente

You Are In Love

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2 MESES DEPOIS


Estou entre duas avós no banco de trás do táxi, imbuída da tarefa complexa de traduzir suas reclamações uma para a outra.

— Eles fazem vocês trabalharem demais — Cornelia, a avó de Connie, resmunga enquanto vasculha o interior da própria bolsa. — Era de se esperar que vocês fossem ter pelo menos alguns dias de folga para visitar a família, mas não, nada disso. Nós temos que abandonar o conforto das nossas casas só para quê? Observarmos vocês no trabalho. — Ela finalmente encontra o que estava procurando, um frasco de creme para mãos, e o estende para mim. — Passe isso para a sua avó, querida.

Entrego o creme para vovó, que pergunta:

— O que ela disse?

— Que eu e a Connie trabalhamos demais.

— Rebeca, ela disse mais do que isso, pode traduzir direito.

Suspiro e tento recontar palavra por palavra em português. Estou começando a ficar com dor de cabeça por precisar sustentar um diálogo bilíngue em que as duas falam de mim quase como se eu não estivesse aqui. Já tentei dizer que, só porque Connie e eu trabalhamos com esporte, não quer dizer que teremos folgas assim, com tanta facilidade, mas nenhuma delas me deu muita atenção.

Vovó começa a passar o creme nas mãos, impregnando o interior do carro com cheiro de... bem, avós. E eu posso até estar um pouco mal-humorada por ter me metido nessa situação de intérprete há duas horas, desde que buscamos Cornelia no aeroporto, tendo eu mesma chegado à França algumas horas antes disso, mas, ao mesmo tempo, estou vibrando com energia acumulada. É sempre assim quando estou prestes a ver Connie de novo.

— Rebeca — Andressa chama, sentada no banco do passageiro como uma madame, para o desgosto do motorista. — Conta para a Dona Cornelia qual é o tipo de festinha de trabalho que você e suas colegas dão de vez em quando. Ela vai adorar.

— Ai, Andressa, conta você — retruco, a princípio irritada por ela me mandar fazer algo que, sendo fluente em inglês, pode muito bem fazer sozinha. Então entendo aonde ela quer chegar. — Quer dizer, deixa quieto e para de ser chata. Foi uma única festa na piscina, já me arrependi de ter te contado.

— Uma festa na piscina e todo mundo só de calcinha.

— Andressa!

— Todo mundo só de calcinha? — vovó pergunta, me lançando um olhar alarmado. — Isso em público, minha filha?

— Não! — Me inclino na direção da minha irmã, segurando na lateral dos bancos da frente para me apoiar. — Andressa, pode começar a rezar e acertar as suas contas com Satanás, porque, assim que a gente parar o carro, eu vou te mandar direto para o inferno.

Ela só ri, sem nem olhar na minha direção. Está ocupada demais trocando mensagens com a sua mais nova paquera — é uma paquera de meses, mas ela se recusa a chamar a garota de namorada. Ser desmiolada quando se trata de relacionamentos, pelo visto, é de família.

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