13 | Livramento

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Hung my head as I lost the war
And the sky turned black like a perfect storm

Abaixei a cabeça enquanto eu perdia a guerra
E o céu escureceu como em uma tempestade perfeita


Clean

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Entro devagar na sala, segurando tão firme no puxador da minha mala de rodinhas que os nós dos meus dedos ficam pálidos.

— Acho que não quero voltar a passar as férias aqui — falo para a minha avó.

Ela para de preparar o bolo de nozes que estava montando sobre a bancada de pedra da cozinha e se vira para mim. Seu olhar vacila entre a minha mala e as roupas que estou usando: uma calça cargo, um cropped e um tênis colorido que eu trouxe na esperança de ter algum lugar descolado em que poderia usá-lo.

E não é só isso. Até sequei o cabelo com o secador, para deixá-lo com o aspecto mais leve, e coloquei anéis nos dedos. Deve ser um choque para ela, depois de me ver todos esses dias só de moletom e com o cabelo embaraçado. Parecia que eu estava tentando ser escalada para um filme de comédia romântica, mas só para as partes em que a protagonista está na fossa, sofrendo por alguém.

Vovó coloca as mãos na cintura e, enfim, me olha nos olhos.

— Faz bem, meu amor. Sabe, eu só te vejo feliz assim no dia em que você chega e no dia em que vai embora.

Ela pega um pano de prato, joga-o sobre o ombro e anda até mim.

— Não é culpa sua — digo, trocando o peso de um pé para o outro. — É só... todo o resto. Esta cidade, meus pais, Andressa...

Antes que eu termine, ela me alcança e pousa uma mão sobre o meu ombro. Seus olhos se enrugam em um sorriso, e ela me puxa para um abraço. Suspiro, envolvendo seu corpo, e deixo a minha cabeça repousar no topo da dela. Ela tem cheiro de sabonete Phebo, bolo de nozes e lar.

— Você é uma boa menina, Rebeca. Está na hora de parar de tentar agradar todo mundo e cuidar mais de si mesma. — Ela se afasta, ainda segurando meus ombros, e continua: — Só não se esqueça de mim. Já que vai ficar longe, pelo menos faça umas chamadas de vídeo com a sua velha.

— Ai, vó, a senhora também não me liga. — Mas estou sorrindo quando digo isso.

— Eu não sei mexer nessas tecnologias, você é que precisa me ligar.

— Sabe sim! — Coloco as mãos na cintura, balançando a cabeça. — Vive me marcando em sorteios do Instagram!

Ela agita a mão.

— Ah, bobagem. Só me liga de vez em quando, tá certo?

Assinto, meu sorriso diminuindo um pouco.

— A senhora bem que poderia me visitar, né? Na Espanha.

— É só comprar a passagem que eu vou. A gente aqui não recebe em euro, minha filha.

— Pode deixar. — Suspiro, olhando de relance para a minha mala. — Posso comprar passagens para todo mundo, se quiserem mesmo me ver. Eu só... cansei de vir aqui todo ano e sentir que, no fundo, as pessoas preferiam que eu tivesse ficado longe. Não vou mais ficar correndo atrás de ninguém. O pai, a mãe e a Dêssa podem ir até mim se quiserem.

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