46 | As novas românticas

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I want you for worse or for better
I would wait forever and ever
Broke your heart, I'll put it back together
I would wait forever and ever

Eu quero você por bem ou por mal
Eu esperaria para sempre e sempre
Parti seu coração, vou juntar os pedaços
Eu esperaria para sempre e sempre

How You Get The Girl

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Depois de dar o meu máximo, de todo o suor e todo o choro, o que me resta?

Eu me fiz essa pergunta por dias. Cheguei a entrar no banho com a medalha de prata, a água molhando a fita que a amarrava ao redor do meu pescoço, o ladrilho sob meus pés tão gelado quanto o metal contra o meu peito. O que me resta?

Minha terapeuta diz que é normal eu me sentir frustrada e que é importante reconhecer a raiva de ter sido derrotada, são sentimentos que fazem parte da vida. Não sinto apenas raiva. Sinto que não dei tudo de mim. É decepção misturada à estranha sensação de que eu deveria estar mais orgulhosa do que fizemos, porque essa medalha foi, sim, importante.

Saí de campo, tirei as chuteiras e voltei para casa, mas não foi o bastante. Falhei na única coisa que me propus a fazer — e pode ter sido a coisa mais difícil a ser feita naquela Olimpíada, mas era o que eu queria. Enquanto descansava, olhei para dentro de mim e tentei filtrar o turbilhão de pensamentos horríveis em busca de alguma luz. Está tudo bem, eu queria dizer, mas só terminava me questionando: e agora?

Levei quase uma semana para me dar conta do óbvio: eu não queria só o ouro. Aquele vazio no peito e a dor que ameaçava arrebentar as minhas costelas não era o anseio por uma medalha, era o tipo de sentimento que medalha nenhuma aplacaria. Era só saudade. E eu era uma idiota.

Da minha casa até Connie, foi questão de horas.

E agora...

— Estou aqui. — As palavras são tão simples, tão bobas.

Observo Connie inspirar e assentir, como se precisasse ouvi-las.

Devo parecer uma assombração, surgindo assim na porta dela, no meio da madrugada e trazendo até uma mala à tiracolo.

Eu cochilei no avião até aqui e sonhei que tinha vencido o jogo da final. No sonho, eu estava, na verdade, voltando para o Brasil com uma medalha de ouro brilhando sobre a blusa. Quando acordei, virei para o lado e chorei em silêncio para não atrapalhar o sono dos passageiros ao meu redor.

Agora as lágrimas secaram. Apenas as minhas roupas estão molhadas por causa da chuva que tomei entre o táxi e a porta do prédio de Connie.

Fico olhando para ela, os segundos vão passando e minha respiração vai se tornando ritmada. Ela ainda me acalma ao mesmo tempo em que faz meus batimentos cardíacos dispararem.

Finalmente, Connie dá um passo para o lado, me convidando a entrar sem precisar dizer nada. Faço isso, puxando a mala comigo, e olho para o cachorro pequeno que ela segura no colo. Ele latiu estridentemente enquanto eu tocava a campainha, mas agora me observa com os olhos úmidos e a língua para fora. Paro e acaricio sua cabeça peluda.

— Oi, Benedito. — Lembro do nome que Connie mencionou nas redes sociais, Benedict, mas prefiro a minha versão.

O cãozinho abana o rabo como se a preferisse também.

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