Intervalo | Três coisas sobre Rebeca Ferraz

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Por Connie Ember


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Rebeca Ferraz. O nome estava na ponta da minha língua.

Eu sabia que ela viria para o Barcelona. Na minha cabeça, ensaiei maneiras de me aproximar dela, de me apresentar, na mesma proporção em que me preparei para mantê-la longe. Ela poderia fazer amizade com outras pessoas, não comigo. Porque eu... bom, eu tinha feito merda, e ela não precisava saber, não podia saber.

Mas, nos dias que antecederam a chegada dela, eu me distraí. Quando entrei no vestiário, não estava esperando me deparar com o rosto de olhos castanhos, sardas claras e lábios com arco de cupido da mulher cuja carreira eu talvez tivesse chegado muito perto de destruir. Rebeca Ferraz. Deus, era mesmo ela.

Seus olhos eram mais claros pessoalmente, num tom que lembrava amêndoas e bebidas quentes. Quente... sim, ela parecia acesa por dentro. Com o rosto corado, me encarando com uma expressão de deslumbramento que eu estava acostumada a ver em algumas jogadoras mais novas, ela quase me fez sorrir.

Tentei manter a calma, forçar naturalidade, e me comportar da maneira como o faria diante de qualquer colega de time nova.

Comecei a dizer:

— Ah! Você deve ser...

O nome quase escapou. Rebeca Ferraz. Como seria falar as palavras em voz alta? Será que o meu sotaque destruiria a pronúncia? Ele ainda soaria doce, mas intenso? Forte, como ela?

Eu me entregaria no processo? O nome dela, uma confissão.

Melhor se eu não dissesse nada.

Melhor fingir não saber de nada.

Melhor fazer de conta que eu nunca tinha feito nada.

Na minha pausa, ela presumiu que eu oferecera uma lacuna para que se apresentasse.

— Rebeca — disse, sua voz alta o bastante para ser ouvida em todo o vestiário. Percebi que jamais conseguiria rolar o "r" como ela fazia, mas, inferno, eu queria tentar. — Prazer em conhecer vocês.

Ela desviou o olhar de mim nesse momento, estendendo a apresentação a todas as demais. Eu a observei por alguns segundos a mais, tentando a sorte.

Rebeca Ferraz... Eu sabia mais sobre ela do que jamais me permitiria contar.

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Em primeiro lugar, eu sabia o nome dela porque havia pedido por ele em uma festa, como quem pede um copo de whisky que não deveria tomar.

— Quem é ela? — perguntei a Erick Sanders, goleiro da Seleção masculina da Inglaterra.

Eu era a única jogadora do futebol feminino naquela festa, ou pelo menos era o que pensava até vê-la. E ainda não tinha conseguido desviar o olhar.

— Quem? — Sanders devolveu, parado ao meu lado com um copo de cerveja na mão.

Ele se movia devagar ao som da música eletrônica. Estávamos na varanda da mansão de Stephen Andrews e, através das portas de vidro abertas, eu só tinha olhos para a mulher sentada em um dos sofás de couro, com as pernas dobradas diante de si e bebericando do que parecia ser uma taça de gin e tônica.

— Ela — repeti, inclinando o queixo na direção dela.

Não foi só a beleza dela — por mais que ela fosse, sim, muito bonita —, que chamou a minha atenção. Ela tinha o cabelo castanho liso e comprido, caindo sobre a blusa preta de gola alta que, no entanto, deixava bem aparentes seus ombros bem definidos e os músculos nos braços. Quando ela gesticulou para o homem com quem conversava, que era ninguém menos que o nosso anfitrião, algo no jeito como ela se movia me pareceu imediatamente familiar. Ela era uma jogadora, eu tinha certeza.

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