37 | Agora que não conversamos mais

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I cannot bе your friend, so I pay the price of what I lost
And what it cost, now that we don't talk

Eu não posso ser sua amiga, então pago o preço do que perdi
E quanto isso custou, agora que não conversamos mais


Now That We Don't Talk

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— Acho que não seria profissional falar sobre isso — eu digo depois de alguns minutos daquela sessão, quando meu terapeuta começa a insistir demais no meu medo do abandono, recentemente engatilhado por Connie indo jogar no Lyon.

— Estamos em uma sessão de terapia. — Ele tira os óculos e começa a limpar a lente na camiseta, mas olha para mim. Sinto que estou decepcionando-o como paciente, mas o que eu posso fazer? — Você não precisa ser profissional.

— Não sei. No fim do dia, a gente trabalha para o Barcelona.

Ele recoloca os óculos, depois pousa as mãos sobre as pernas.

— Isso não está funcionando.

Ok, então eu de fato o decepcionei.

— Estou sendo demitida da terapia?

— Não. — A voz dele é muito paciente e, em alguns momentos, como agora, chega a ser quase condescendente. Porém suprimo a minha irritação antes que ela venha à tona. — E eu recomendo que você continue com o acompanhamento psicológico, mas dessa vez com alguém em quem de fato consiga confiar. Seria até bom você encontrar um profissional que fale português, eu percebo como você às vezes tem dificuldade para se expressar em inglês e espanhol.

Agora ele está criticando a minha fluência nos idiomas. Perfeito.

— Eu confio em você — murmuro, meio na defensiva.

— E nós fizemos um bom progresso nas últimas semanas, mas sinto que estamos em um impasse. Para ir adiante, você vai precisar deixar o profissionalismo de lado.

Fico em silêncio, comprimindo os lábios, e encaro as minhas mãos entrelaçadas no colo.

Meu orgulho está ferido, mas compreendo por que ele diz isso. Consegui falar sobre meus problemas com a minha família, em especial sobre Andressa, mas me sinto travada toda vez que tento expressar algo sobre Stephen ou Connie. Talvez por causa da relação com o futebol, e por saber que Dr. Fulano é contratado pelo time. Sei que é contra o código de ética da Psicologia, ou pelo menos deveria ser, sair espalhando por aí o que os pacientes contam, mas e se algo do que eu disser aqui impactar a minha carreira?

Por fim, eu assinto.

— Está bem. — Ergo novamente o olhar para ele, e até consigo forçar um sorriso. — Obrigada por tudo.

— Não deixe isso pesar na sua consciência. Terapia dá trabalho, e nem sempre é possível encontrar o profissional perfeito na primeira tentativa. Mas não desista, eu até recomendaria você já marcar uma sessão para a semana que vem com um novo terapeuta.

Inclino a cabeça para o lado, semicerrando os olhos.

— Preciso tanto assim de ajuda? — Meu tom é brincalhão, mas as palavras têm um fundo de verdade.

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