O que vem depois da Verdade?

Capítulo 1

- Eu tenho que contar uma coisa.

Foram as palavras que ecoaram pelo quarto de hospital de Basil, que até o momento estava inconsciente. Sunny simplesmente havia entrado falando essas 6 palavras, de uma forma mais melancólico e hesitante, diferente do seu usual tom seco e direto, o que já chamou a atenção de Kel, Aubrey e Hero.

Aubrey deu um passo a frente, olhando no seu olho restante, cheio de medo e pesar. Não é como se ela tivesse notado isso nos primeiros segundos, pois estava aflita.

- O que diabos aconteceu?! - perguntou em um tom elevado. Era possível ver que sua voz, geralmente forte e alta, estava rouca e errante, e isso trouxe a tona todo o medo que Aubrey estava sentindo - No meio da noite o Hero encontrou vocês dois machucados no quarto do Basil, não tem como ter sido do nada!

Hero colocou uma mão no ombro de Aubrey, para acalma-la enquanto ainda podia. Ela respirou fundo e ficou quieta.

- Sunny - começou Hero, sendo sempre o mais calmo dentre os três. Parecia que manter esse papel de mais velho era algo que o mantinha vivo. - O que você tem a dizer? O que aconteceu?

Sunny respirou fundo. Acalmou-se. Focou. Persistiu. Superou. E disse em uma voz baixa:

- É sobre a Mari... - começou, sentando-se na cama de Basil, olhando para o estado machucado dele, ao invés de olhar nos olhos de seus amigos - Naquele dia, ela não cometeu suicídio...

Os três ao seu redor o encararam perplexos. Um sorriso nervoso habitava os lábios de Kel, junto de um olhar atônito e suas mãos se esfregando uma contra a outra. Aubrey colocou seu cabelo atrás de sua orelha, enquanto mordia seus próprios lábios rosados. Hero deu alguns passos a frente e se abaixou para poder ficar na altura do pequeno caolho.
Nenhum dos três esperava que Mari fosse trazida no assunto, ainda mais de uma forma tão absurda.

- Então o que aconteceu com ela, Sunny? - Perguntou o mais velho, aflito, seu coração saindo pela boca. Sunny se encontrava no mesmo estado, seu coração estava a mil, pois mesmo que estivesse determinado a contar a verdade, sentir ansiedade era inevitável. Mas agora não tinha mais volta, tinha?

- É minha culpa. Brigamos feio no dia do recital, e eu disse que não queria mais tocar, então...taquei o violino escadas abaixo. - confessou, sentindo se como um maldito ingrato, afinal, seus amigos quem haviam lhe comprado o violino - Ela gritou, e segurou meu braço com força, então eu a empurrei escadaria abaixo!

Dizendo a parte com uma entonação maior, como se para que fosse ouvido, ele olhou para cima com seus olhos lacrimejantes, apenas para encontrar olhares assustados. Fazia sentido, ele havia acabado de se revelar assassino mirim.
Mesmo com a culpa já o comendo por dentro, ele continuou:

- O Basil estava lá naquele dia...ele queria me proteger, então sugeriu para que a gente pendurasse ela em uma árvore no quintal, para fazer parecer que ela tinha cometido suicídio...eu acabei concordando, e lá fomos nós...que merda...- finalizou ele, respirando fundo, e segurando na mão de Basil inconsciente. Era delicada e sempre trazia conforto a ele quando ele mais precisava. Foram as mesmas mãos que seguraram seus ombros e murmuravam 4 doces palavras.

"Tudo vai ficar bem!"

Ele nunca acreditou realmente nessa positividade compulsiva do loiro, mas secretamente ansiava para que ele tivesse razão.

O olhar antes compreensivo de Hero se tornou algo mais doloroso de se olhar. Ele soltou dos ombros de Sunny e levantou-se. Aubrey estava nervosa, cerrou os punhos e fechou o cenho, estava vermelha quase como um tomate devido ao sangue indo para seu cérebro, o que não há dava uma expressão agradável quando combinado com as suas lágrimas de delineador e seu cabelo rosa na frente de seu rosto.

Já Kel, em um único passo, caiu de joelhos em frente a Sunny e o abraçou, para a surpresa de Sunny e dele mesmo. Aquele tagarela não falou uma única sílaba, já que nem todas as palavras do mundo poderiam entender o que ele estava sentindo, mesmo que antes quando criança, ele fosse alguém tão simplista.

Sunny não sentiu-se digno de retribuir o abraço. Ele também não sabia por quê Kel estava o abraçando naquele momento ou o que ele estava pensando. Mas ele sentiu lágrimas em sua camisola branca hospitalar, e apenas mordeu seus próprios lábios.

- Por que você não contou antes? - foram as primeiras palavras que Kel disse, em forma de sussurro, sem nem ele mesmo perceber - você podia ter contado antes. Mas agora...- ele se afastou um pouco do abraço e olhou nos olhos de Sunny. Contato visual era desconfortável. - eu...eu não sei...eu acho que vou beber um gole de água.

Então Kel se levantou, saiu da sala e foi em direção ao corredor do hospital em busca de um bebedouro.

Aubrey deu um tapa em Sunny enquanto ele olhava a porta lentamente se fechando, e gritou:

- Como você quer que perdoemos algo assim do nada?! Depois de 4 anos no escuro, 4 anos, porra! Que caralho, Sunny! O que aconteceu com você?!

Então, bateu os pés no chão, seus tênis All Star fazendo um barulho tão alto que Basil gemeu, ameaçando a acordar. Ela foi embora, e logo atrás foi Hero, que não disse uma única palavra desde que a verdade foi revelada.

Os olhos azuis de Basil lentamente se abriram, e encararam Sunny, que segurava sua mão firmemente. Ele olhou para o estrago que havia feito em Sunny durante sua briga, e pousou a mão sobre a bochecha esquerda dele, lado sem olho.

- Sunny... - murmurou ele, com sua voz doce e melodiosa sendo a única coisa ouvida na sala de hospital.

- Basil. - disse Sunny, com um sorriso raro e lágrimas no olho - a coisa atrás de você não vai voltar...eu consegui falar a verdade...

Basil arregalou os olhos e imediatamente pois se a chorar feito um bebê, levantando-se com dificuldade para abraçar Sunny.

A verdade foi revelada.
Mas as consequências ainda hão de ser encaradas...

No final das contas, confessar era apenas o primeiro passo para realmente se libertar, porém as coisas jamais poderiam acabar aqui quando ainda há tantas emoções guardadas...
Porém agora, não haverá mais sonhos, tudo isso é real, apartir de agora.