Capítulo 17

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Era tudo tão barulhento naquele cubículo chamado sala de aula que ele precisava estar. Apesar de estar feliz por ter parado na mesma turma que Kel, Aubrey e Basil, estava extremamente assustado.

Sabia que Kel e Aubrey eram um tanto quanto populares, então não poderia depender deles para não surtar. Ele precisava aprender a sobreviver sozinho no ensino médio, então começou com o básico: onde sentaria.

Não queria sentar nas primeiras fileiras porque essas fileiras garantiriam que os professores mantessem seus olhos atentos nele, e não podia sentar no fundão da esquerda já que a porta dos fundos estava ali e esse lugar estava destinado aos encrenqueiros, como Aubrey, que cabulam aula por essa porta sem que os professores percebam. Sentar no meio também não era boa idéia já que estaria no centro da sala e consequentemente no centro dos olhares alheios. A fileira perto da janela parecia agradável, mas se sentasse da 4° mesa á 2° mesa estaria de cara com as plantas e animais da turma, que por acaso Basil cuidava. Logo Basil se sentava na 4° carteira da janela.

Então Sunny, sem pensar de novo foi para a 5° e última carteira da janela. Fez uma ótima escolha, já que estaria atrás de seu amigo e ao lado da desenhista da classe, Mincy. Nada de mal poderia acontecer naquele lugar.

Ele permaneceu olhando para o dia ensolarado de primavera pela janela. As flores dessa estação pareciam pintar Tão-Distante com cores tão vivas e exóticas, tornando tudo incrivelmente belo. Sunny já tinha se esquecido de como era por causa do tempo que passou isolado, mas agora estava tão feliz por ter saído de casa.

Ele começou a observar cada detalhe das flores que voavam sobre o vento, e por um momento se viu divagando sobre esse cenário. Podia ver cada linha das árvores, cada detalhe das pétalas das flores, e por um momento viu uma bela borboleta azul e preto passando pela janela. Ela parecia bater as asas de forma tão delicada e suave, mas ainda assim parecia ser tão rápido.

Mas infelizmente, seu transe foi interrompido por um pequeno toque em seu ombro. Mincy estava cutucando o garoto com o lápis, e quando ele finalmente olhou para ela, ela apontou para o professor, que já estava chamando o nome de Sunny a um tempo.

– Sunny Nightgale, poderia se levantar para se apresentar? – perguntou o homem barbudo, professor de geometria.

Sunny se envergonhou quando sentiu cada olhar de seus colegas pousando sobre si. Que tipos de pensamentos eles tinham sobre Sunny? Pensavam nele como um assassino? Pensavam nele como um garoto esquisito? Pensavam nele como moleque caolho? Apenas imaginar isso já o fazia se arrepiar. Mas ele respirou fundo para se acalmar e focou no professor a sua frente.

– Meu nome é Sunny...Sunny Nightgale... é um prazer. – disse ele, ajeitando seu tapa-olho.

– Ótimo, Sunny, poderia falar um pouco sobre você? – perguntou o professor, de forma simpática, esperando que Sunny falasse mais alguma coisa.

– Não.

E ele se sentou de volta em sua carteira. Não? Que resposta péssima! Agora Sunny já podia prever como todos claramente o taxariam de insensível e seco. Ele poderia muito bem se afundar nessa cadeira agora mesmo, de tanta vergonha que sentia, apesar de não demonstrar isso facilmente.

Sunny estava tão submerso em seus pensamentos negativos que mal pôde prestar atenção na aula, estava vivendo no automático, e quando viu era hora do intervalo.

Ele havia trazido 20 reais para comprar um lanche na cantina, até descobrir que aquele dinheiro só era suficiente para um pão na chapa e um refrigerante. Ele tirou nota de cada um dos preços para não cometer esse erro novamente, e se contentou com o que tinha. Não era ruim, porém se sentiu indignado com o quanto os preços haviam aumentado com apenas 4 anos de ausência.

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