Capítulo 10

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– Senhor policial...– perguntou Sunny, enquanto tentava comer um pouco – o que vai acontecer comigo? Ou com minha mãe? E o Basil?

– Bom, Sunny – respondeu o policial de olhos verdes, Gilbert, comendo suas próprias batatas, com um pouco de pena do menino – Se o seu pai não voltar em 24 horas, podemos da-lo como desaparecido... Já se passaram 6 horas desde que eu tô aqui, e eu cheguei duas horas depois do incidente. Já é bastante tempo.

– Ele deve ter abandonado a mamãe e eu...– suspirou Sunny, melancólico – e minha mãe?

– Pelo seu testemunho, do seu amigo e das testemunhas oculares, ela estava extremamente instável, por isso levamos-a em um hospital psiquiátrico para um exame. Dependendo do resultado, ela pode ser internada temporaria ou permanentemente. – respondeu Gilbert, com tom de tristeza – Sinto muito garoto, mas se seu pai não der as caras e sua mãe for internada, temo pelo o que vá acontecer com você.

– Eu morei sozinho por 4 anos depois que minha irmã morreu, quando eu tinha 12. Vou ficar bem. – declarou, apesar de não ter tanta confiança nessas palavras, já que nesses 4 anos ele mal comia ou levantava da cama, vivendo em seu mundo de fantasias perfeitas.

– Meus pêsames, Sunny.

– Não se preocupe, senhor policial. Foi minha culpa mesmo.

Sunny olhou pela janela. Em seu reflexo, Abbi estava sorrindo gentilmente no meio dele e de Gilbert, balançando seus tentáculos como uma criança. A garotinha era tão baixinha que seus pés não encostavam no chão, mas seus grandes tentáculos estavam apertados pela lanchonete toda.

– Ei, ei! – dizia ela, repetidamente, querendo atenção, que Sunny não podia dar agora para não parar no mesmo hospital que sua mãe.

– Não vou perguntar o que aconteceu para você pensar isso. – disse o homem – Mas eu não acho que seja culpa sua. Você parece ser uma pessoa boa, e sua irmã devia ser também, então não ia gostar que você pensasse nisso. Pode me corrigir se eu estiver errado, eu não sei nada sobre sua irmã no fim das contas.

Sunny balançou a cabeça, negando, e pensou sobre isso por um tempo, olhando para a chuva do lado de fora, enquanto tentava ignorar Abbi, agitada e impaciente.

– Sonhador!... Não tem graça! – dizia Abbi, balançando seus tentáculos para lá e para cá, mas no fim desistiu e desapareceu, falando – Sonhador... não vai ignorar Abbi... não para sempre!

Ele suspirou aliviado, um problema a menos.

Não que botasse fé que Abbi fosse um problema, mas saber que ele ainda via coisas não era exatamente uma boa notícia. Resolveu focar no que era real.

– Senhor policial, antes a senhorita Polly, responsável pelo Basil, ofereceu para ficar comigo. – disse Sunny – se não tiver problema, posso ir com ela?

– Bom, vou ver o que posso fazer. Sei que não deve ser legal ficar aqui com um policial, acredite. – ele se levantou da cadeira e disse – Vou ligar para meus superiores e para Polly, relatório básico, entende? Fique aí!

Gilbert se afastou um pouco, para que o garoto não ouvisse nenhuma informação confidencial.

Ele deitou a cabeça na mesa, fechando seus olhos e suspirando calmamente para se acalmar. Pegou seu celular e seus fones de ouvido, abrindo sua playlist com músicas alternativas que ele gostava de ouvir, mas se deparou com mensagens.

"'Kel' enviou 124 mensagens"
"'Basil' enviou 3 mensagens"

Certamente, Basil e Kel eram polos completamente opostos, tendo apenas em comum sua positividade compulsiva, dado os números.

Primeiro, Sunny abriu as mensagens de Basil, já que estava preocupado com o garoto, tendo em vistas os eventos de antemão.

"Olá, Sunny. Você está bem? Seu pai já te buscou?"

"Estou um pouco preocupado já que agora sua mãe já sabe de toda a verdade, e ela provavelmente não vai mais querer que a gente se veja de novo por causa do que eu fiz. Aliás, me perdoe por ter sido daquele jeito lá no carro, eu fui um extremo estorvo, assim como sua mãe disse."

"Também me preocupo com o fato da mãe de Kel, a senhora Hernandez, ter ligado para sua mãe logo antes dela descobrir, sem sombra de dúvidas foi ela quem contou, mas me pergunto como ela poderia saber do que fizemos? Hero é sensato e maduro, não gosta de guardar segredos importantes e desde quando éramos crianças sempre foi honesto com todos, e não aguentaria deixar a própria mãe na ignorância, ele deve ter tido a necessidade de desabafar apesar que eu nunca vi ele falar o que sente de verdade, então é pouco provável que ele tenha desabafado para alguém. Por outro lado a gente tem o Kel, ele é leal e confiável mas a Aubrey sempre o chamou de 'Mega fone ambulante do caralho', o que eu acho ofensivo mas tenho que concordar um pouco, mas como eu falei o Kel é leal então não acho que seja isso."

Sunny pensou um pouco nessa possibilidade. Kel realmente é leal demais para contar algo assim, e Hero jamais desabafaria, nem mesmo com seus próprios pais.

Então o jovem respondeu:

"Pode ter sido a Aubrey."

"Lá é pequeno. Fofocas se espalham rápido."

Basil não respondeu de imediato, por isso Sunny abriu as mensagens de Kel.
Dessa vez havia apenas 5 figurinhas do Capitão SpaceBoy no final das mensagens, apenas alguns erros gramaticais e mensagens bem espaçadas:

"Oi"

"Sunny"

"Eu tenho que te contar"

"Mano"

"Eu tava conversando no telefone"

"Uns dias atrás"

"Acho que 2 dias"

"Com a Aubrey"

"Pedi pra ela ir ai em Garça Branca pelo Hero"

"O Hero tava preocupado com você"

"Ela disse que te encontrou"

"E tá preocupada com você "

"Mesmo que não admita"

"A"

"E também"

"Não sei se é seguro você voltar para Tão distante agora"

"Tu é fofoca"

"Fofoca do momento é você"

"Mas logo logo vão esquecer"

"Relaxa"

"E mesmo que não esqueçam"

"Vão perdoar"

"Eu perdoei"

"Aliás"

"Te mandei um treco"

"Ai pelo correio"

"Se tu gostar me fala"

"Se tu não gostar também"

"Me fala"

"Falou parça"

Sunny sorriu um pouco ao ver a mensagem de Kel, e não tinha muito o que dizer. Rolou um pouco pelas barras de emoji, em busca de algo que pudesse concordar com tudo que ele disse de uma vez e demonstrar sua compreensão e empatia.

"Fala pro Hero e pra Aubrey que eu tô bem 👍"

Logo, o carro de Polly chegou, com Basil no banco de trás para buscar Sunny. Ele se despediu silenciosamente de Gilbert e entrou no carro, sentando-se ao lado de Basil.

O garoto já não usava um vestido ou nenhuma flor, em vez disso usava uma camisa alguns números acima, exagerado considerando o tamanho do garoto, e uma bermuda verde. Também tinha um curativo a mais que antes, agora no seu pescoço, graças aos puxões de sua mãe.

Polly sorriu para os garotos, cumprimentando Sunny. Não parecia irritada ou triste, tinha seu mesmo olhar de compaixão e caridade, como sempre.
Sunny colocou o cinto e tentou sorrir, falhamente.

Dessa vez, Sunny se sentou no meio, ficando um pouco mais perto de Basil, para poder tentar dar um pouco mais de apoio a ele.

Mas nada aconteceria agora, estava tudo bem.

O que vem depois da Verdade?Onde histórias criam vida. Descubra agora