Capítulo 35

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Não era como se Sunny fosse capaz de falar ou fazer qualquer coisa. Basil o estava encarando de uma forma doce mas melancólica, bem como quase sempre era, porém, chegava a ser cruel a forma como ele não mudava nem quando estava se sacrificando naquele ponto, escolhendo ser órfão pelos 2 últimos anos antes da sua maioridade para que a enfermeira que outrora cuidara dele pudesse cobrir a cirurgia de Aubrey.

O olhar de Basil era como uma censura, que impedia que fossem contra ele, talvez como um gato quando ronronava. Ninguém briga com um gato que está ronronando aos seus pés, e se brigar, então a crueldade dos homens já chegou em um nível catastrófico.

Dessa forma, Sunny não podia falar absolutamente nada contra Basil.

Pelo menos, não sabia como falar.

Afinal, quais palavras poderiam realmente convencer Basil a voltar atrás? Realmente haviam palavras tão poderosas nesse ponto? Nem se proferisse todo o dicionário, não importa qual idioma estejas falando, poderia mudar sua mente.

Aquilo começou a desesperar Sunny, e uma lágrima, raridade, começou a escorrer pela bochecha oposta da que o bicolor segurava. Acho que para os olhos de quem via, no caso só Basil, chegava a ser até um tanto quanto artístico.

Sunny mordeu seu lábio e olhou para adiante de Basil, evitando qualquer contado visual direto com o loiro, e só o puxou para perto. Abraçou-o forte, com seus braços fracos, e afundou seu rosto no ombro de Basil, que não foi capaz de retribuir o abraço. O por quê de não ter essa capacidade? Devem haver vários motivos: medo de que Sunny ache que ele vai parar, não achar que mereça esse abraço ou os dois, talvez outra coisa, nem mesmo ele sabia.

- Basil... - começou Sunny, falando com a cabeça apoiada entre o pescoço e o ombro de Basil - o que você vai fazer?

- Hm? Eu...- Basil pausou, surpreso com a pergunta repentina - Eu acho que vou ficar aqui, na casa da vó...Eu posso continuar trabalhando na Concerta-já e também...eu tenho muitos parentes mortos... Eu posso usar o dinheiro do seguro de vida de cada um para viver sozinho...

- Quem disse que eu vou deixar você ficar sozinho?! - interrompeu Sunny, elevando a voz - meu pai tentou me abandonar, ele deve perder minha guarda em poucas semanas! O tribunal provavelmente vai fazer ele me pagar pensão...

- E o que tem isso? - perguntou Basil, não que não se importasse, só não sabia onde Sunny queria chegar.

- Eu vou ficar aqui morando com você. - respondeu ele, voltando a olhar nos olhos de Basil.

Basil se assustou por um certo intervalo de tempo, atônito com a idéia inusitada de Sunny. Ele o encarou de volta com um certo receio, podendo ver seu olhar. Era sério.

O bicolor nem ao menos pôde pensar no que dizer, mas apenas escolheu dizer sem pensar, e as palavras que saíram de seus lábios foram apenas:

- Obrigado, Sunny...- sussurrou ele, retribuindo o abraço - eu te...

Interrompendo a fala de Basil, o telefone começou a tocar. Basil se soltou de Sunny, murmurando um curto "só um minuto", e se levantou do chão para atender.

Era Polly, retornando a ligação que ela não pôde atender antes. O bicolor saiu do quarto de sua avó e foi para o corredor, para que pudesse falar com Polly com um pouco de silêncio.

Sunny voltou para o quarto de Basil, sem querer interromper a ligação, já sabendo que seria importante. Se perguntava, enquanto andava, o que Basil diria? "Eu te devo essa"? Provavelmente.

O quarto estava vazio, todos já haviam ido embora, deixando apenas um bilhete feito em uma folha de caderno velha, escrito com várias canetinhas coloridas. Cada cor estava assinada com um nome diferente.
Porém, a verdadeira mensagem estava escrita em azul escuro, cor que Hero havia assinado.

"Está ficando tarde, por isso vamos ir embora! Mas não se preocupe, vamos achar um jeito de inteirar o valor e a Aubrey logo vai acordar!"

"Se não acordar, eu viro homofóbica e paro de acreditar no amor" assinou Kim logo abaixo, com roxo.

"Ela tá brincando" escreveu Kel, com laranja, e desenhou uma carinha sorridente.

"Creia em minhas palavras, Kimberly não brinca" Maverick, em azul bebê.

Todas as escritas alí eram respondendo umas as outras, e Sunny leu cada uma. Pensar que era para ser apenas um bilhete anunciando sua despedida. O bilhete apenas terminou, quando Mincy escreveu em marrom:

"Se querem conversar, vou criar um chat online para todos nós. Já deu."

Um detalhe alheio, que chamou a atenção de Sunny, era a ausência do rosa alí. Ele se lembrou da Aubrey, apenas por essa ser sua cor favorita.

Só ela estava faltando alí, e ela fazia falta.

Sunny deitou se na sua cama, virando-se para a parede, mas quando o fez deu de cara com Omori, olhando para o teto, e isso o fez cair da cama, no chão duro de madeira e bater a cabeça.

Com a pancada, sua visão, que já estava pela metade, ficou turva, e sua audição foi preenchida por um som de apito, ou talvez de quando o microfone falhava e fazia aquele som agudo.

O som foi o que durou menos, e assim que parou, ouviu a voz familiar da figura em preto e branco com nome de piano dizer em seu ouvido:

- Você parece que se apegou a um raio de esperança... Me pergunto se ainda tenho que te proteger...- disse ele, sem muita emoção em sua voz, apesar de parecer um deboche - Inútil do jeito que você é, é capaz de mesmo quando tudo está dando certo, mesmo ter uma luz na sua mão, você fazer as coisas piorarem e a luz escapar, como sempre...

Sunny tentou ignorar o que Omori dizia, fazê-lo sumir, afinal era só sua cabeça. Mas ele não conseguia, Omori continuava alí, e sorria com uma expressão maníaca (a visão de Sunny estava voltando), assustador como sempre.

Espere. Ele estava achando o alter ego que ele mesmo criou baseado nele mesmo assustador? Isso começou a fazê-lo se achar tão patético quanto Omori-o fazia parecer.

- Isso, veja como você é! - murmurou Omori, rindo - eu tentei te proteger da verdade, mas agora que você deu de querer saber dela, eu vou te contar! A verdade é que você - no "você", Omori colocou o indicador bem no centro da testa de Sunny - a verdade é que você não é inútil... não, não é... Você é mais que inútil, você é do...

Antes que pudesse terminar de falar, a familiar tesoura de jardinagem cortou seu pescoço com ódio. Sua cabeça caiu para o lado, e o sangue jorrou como uma mangueira conforme seu coração ainda batia antes dele morrer (uns 5 segundos). O sangue jorrou bem em cima de Sunny, o sujando com pelo menos um litro daquele líquido vermelho e fedido.

Segurando a tesoura responsável, Basil estava alí, bem atrás da onde Omori estava. E agora, atrás de Basil, aquela coisa havia retornado, e o abraçava com um sorriso.

Sua boca estava encolhida e retraída em seu lugar, seu nariz e queixo estavam empinados, olhando a situação de cima, e suas sobrancelhas finas não esboçavam nenhuma reação. Porém seus olhos claros estavam assustados, quase não correspondendo com o resto de seu rosto, que depois foi se contraindo em uma certa agonia.

Depois de cortado, Omori sumiu dali como pó, não ficando nem mesmo o sangue. Logo depois, a coisa atrás de Basil quem se foi, com uma risadinha.

Basil largou a tesoura, que caiu com um som metálico no chão, e viu Sunny chorar.

- Sunny, eu não vou embora! - gritou Basil, que chorou junto - Não me adianta pedir para você não ir embora, mas de qualquer jeito eu não vou embora! E enquanto eu estiver aqui, não vou deixar você se depreciar assim! Tá bom?! Vou matar o Omori quantas vezes precisar! - dizia ele, já ficando sem voz - O Omori não passa de...de...um pensamento intrusivo! Eu vou ficar aqui e vou te encher de coisas boas, até não ter mais espaço para esses pensamentos ruins?! Tudo bem?!

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