Capítulo 29

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Durante toda a noite, bateram de porta em porta na procura de guloseimas, como se fossem pequenas crianças de novo. Porém agora não eram apenas 6, agora haviam feito tantos outros amigos para compartilhar esse momento, embora os mais próximos sempre fossem os velhos Basil Sunflower, Aubrey Aubergine, Kelsey Hernandez, Sunny Nightgale, o ausente Henry Hernandez e a falecida Marilla Nightgale.

Todos alí faziam corridas diversas vezes para ver quem chegava na próxima casa mais rápida, todas terminando com uma vitória ou de Kel, ou de Cris, e terminando com Basil e Mincy em último. As vezes paravam para alimentar o gatinho amarelo que ficava sempre no topo de alguma árvore, onde Kim escalava para entregar uma lata de sardinha para o gato, comprada com o dinheiro de todos alí.

Em alguns momentos, eles paravam para assustar uns aos outros, principalmente a gangue dos The Hooligan, grupinho de Aubrey. Porém o maior susto era sempre quando ouviam o "click" seguido do flash da câmera de Basil. Este bom momento estava rendendo tantas fotos boas para o álbum, que talvez ele precisasse adicionar um número maior de páginas.

No fim, só voltaram para casa em torno da meia-noite e meia.

E em todas essas horas, Kel não traduziu o que sua mãe disse, e sempre que passavam pela rua da mãe dele, ele parecia um tanto quanto apreensivo.

Os últimos a irem embora foram justamente ele e Aubrey, que havia acabado de deixar sua namorada, Kim e Vance em casa. Por um tempo, eles caminharam em silêncio pelas ruas agora silenciosas da cidade.

- Oh, idiota. - falou Aubrey, parando de andar. Ela ainda estava preocupada com ele - O que que você acha de eu te pagar aquele Orange Joe que você tanto gosta?

- Mesmo? - perguntou Kel, sorrindo - Então, corrida até a maquina! O último a chegar é feio!

Aubrey sorriu um pouco, em ver que Kel continuava com a mesma atitude de sempre, e por isso, para não destruir isso nele, como ela já havia destruído tantas coisas antes, ela tirou seus saltos altos que compunham sua fantasia de Sweetheart e correu.

No fim da corrida, Aubrey venceu pela primeira vez naquela noite, apenas para poder zoar o Kel. Mas ainda assim, ela comprou o Orange Joe e ainda completou com um chocolate sabor morango para ela. Eles se sentaram na calçada e degustaram em silêncio, até que Aubrey perguntou para Kel, séria.

- Kel. - começou a garota, olhando fixamente prós próprios pés descalços - tá tudo bem na sua casa?

Kel engoliu em seco com a pergunta, e quase engasgou com sua bebida de laranja e café. Mas então, ele sorriu da mesma forma de sempre, de orelha a orelha.

- Eu...

- Não sorria desse jeito! - interrompeu Aubrey - eu sei que você não tá bem! Por que você tem que fazer isso sempre? É pior que o Basil!

Kel obedeceu, e parou de sorrir. Ele estava sério agora, o que parecia um pouco mais genuíno.

- É, tem razão. - admitiu Kel, suspirando, tomando todo seu Orange Joe de uma vez e guardando o lixo no bolso para jogar no lugar certo depois, então disse - As coisas estão turbulentas lá depois que a fofoca do Sunny ter matado a Mari se espalhou, e piorou depois que o Hero foi embora. Eu não queria falar isso, porque o Hero, do jeito que é, ia se preocupar comigo e voltar...eu não quero que ele se preocupe comigo...nem que ele me veja como alguém que precisa de proteção...eu não quero ser fraco do jeito que sou.

Aubrey apenas assentiu. Ela entendia esse sentimento de querer ser independente melhor do que ninguém, desde que seu pai foi embora. Porém a diferença é que ela queria ser independente, mas também queria ser cuidada. Não queria estar sozinha.

Mas Kel estava disposto a se trancar dentro de um sorriso e afastar como se sentia de verdade de todo mundo. Essa triste natureza provavelmente vinha da sua mãe o dizendo para não causar problemas. Afinal, os Hernandez eram imigrantes de mexicanos, e por isso tinham como mentalidade que precisavam causar boa impressão sempre. E talvez até por isso que obrigaram o Hero a cursar medicina e ao Kel a se afastar dela, de Sunny e de Basil.

- Mas você sabe...- ela respondeu - você não precisa de proteção. Você tá lidando bem com isso. Além disso, ele voltou de qualquer jeito, e voltar não foi uma coisa ruim. Ele parece determinado a reatar as coisas, não por um idiota feito você, mas por ele. - ela finalizou, jogando a embalagem do chocolate no chão, e Kel a pegou e guardou no bolso também - Uma coisa que você tem que entender é que mesmo que as pessoas te julguem, ninguém tá dando um caralho pelas suas inseguranças de se sentir fraco. Tipo, tá ali, as pessoas sabem, algumas vão falar coisas maldosas e outras gentis, mas vão seguir suas vidas logo depois. O Hero é seu irmão, e ele pode até voltar se saber que você tava se sentindo mal, você é importante para ele e você sabe disso. Mas ser importante para alguém não é uma responsabilidade, é uma dádiva. Então larga dessa mentalidade de "eu não vou sentir isso porque ele vai fazer aquilo".

Aubrey terminou, e deu um pequeno soco na cabeça de Kel, de leve. Kel não sorriu dessa vez, mas estava feliz. Feliz de ver esse ponto de vista. Claro que nada mudaria de uma hora para outro, mas pensar que não dependia tudo dele era incrível.

Depois disso, Kel foi para casa, e Aubrey também, se separando.

Enquanto isso, na casa de Basil, Sunny estava deitado ao seu lado, com o bicolor dormindo. Já haviam se acostumado a dormirem juntos, e nem se incomodavam mais com isso, se tornou natural. Ele olhava para o teto e via o Estranho o encarando de volta. Atrás dele, estavam Abbi, O Grande Gato Amarelo e Humphrey.

Não era possível identificar se ele estava sorrindo ou estava chorando, suas expressões eram inteligíveis, e por isso Sunny sempre o considerou como "neutro". Mas dessa vez, pôde ver pelos seus olhos brancos, ele estava feliz.

Ele olhou para Basil que dormia, e mexeu em suas mechas azuis com a ponta de seus dedos.

- Ele está feliz... - murmurou o Estranho, sorrindo com o olhar - A culpa ainda existe mas não está mais presa nele... Que alívio... até pouco tempo ele ainda tinha seus monstros consigo, e algo simples como sair com os amigos no Halloween o libertou...mas você...ainda não se livrou completamente disso, não é, Sunny? - perguntou a figura, mudando sua mão de lugar e acariciando a bochecha de Sunny - me fala...por que o Omori voltou?

Então, após essa pergunta, Estranho sumiu, e Sunny passou a se perguntar sobre isso. Mas estava feliz que Basil estava seguindo em frente, mesmo que com culpa, mas sem os monstros dela. Por isso sentiu que ele não importava agora.

Tudo estava bem.

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