Capítulo 08 - A Verdade de uma Mentira

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K.I.N.G TV - Departamento Financeiro

A inquietude não era uma sensação comum para Christopher. Geralmente ele tinha tudo sobre controle, assim, não existia nada capaz de abalar o equilíbrio do seu mundo. No entanto, desde que soube que Dulce estava trabalhando no andar debaixo, não teve mais paz.

É claro que ele exigiu que ela se demitisse! Não havia outra forma, os dois não poderiam estar no mesmo lugar. Ficou aliviado quando viu a carta assinada por ela em cima da sua mesa. Ainda assim, parecia que havia alguma coisa errada e o incomodava não saber o que estava deixando passar.

Estava aí a causa da sua falta de concentração. Ele não pensou que a ver novamente o abalasse tanto. Mais uma razão pra estar certa aquela demissão. Ali estava a prova de que nunca poderiam conviver normalmente. Isso é algo difícil quando não há respeito.

- Entra. - Respondeu as batidas na sua porta.

- Com licença Christopher, mandaram esse documento do RH.

- Pode deixar na minha mesa Karina, obrigada.

Karina era sua secretária a cerca de oito anos. Mais do que patrão e funcionária, eram amigos e enfrentaram muitos problemas no escritório juntos. Havia uma relação muito estreita entre eles. Christopher era até padrinho do pequeno Luca, filho de Karina e que no próximo mês completaria dois anos.

Ele se aproximou da mesa. Ficou surpreso com o documento que enviaram. Esperava assinar o acordo de demissão sem aviso prévio, porém ao contrário disso, recebeu um comunicado de que o cumprimento do aviso prévio era obrigatório para a senhorita Montesblanco que deveria continuar no seu cargo pelos próximos 30 dias.

- Mas que diabos é isso?

Geralmente a empresa era bem solícita quanto a isso. Quando um empregado pede demissão, a emissora sempre abre mão do aviso prévio. Essa é uma forma de evitar conflitos com o funcionário e impedir que isso acabe levando o caso a mídia. Em dez anos de casa nunca tinha visto isso. Então por que justo com ela tinha que ser diferente?

- Karina? Me transfere para o Roberto, por favor.

Aguardou alguns instantes na linha. Olhou o papel novamente tentando entender o que aconteceu e só havia uma pessoa que poderia explicar, Roberto Guzman, o gerente do RH.

- Christopher, precisa de alguma coisa?

- Acabei de receber um comunicado do RH de não concordância com a despensa da senhorita Montesblanco e não entendi. Por que isso?

- Não podemos abrir mão de Dulce até treinarmos outra pessoa para o seu lugar.

- Não entendo. O que tem de tão complicado em ser arquivista?

Não é que Christopher estivesse desprezando esse trabalho. Ao contrário, tinha muito respeito por cada cargo exercido dentro daquela empresa, sem dúvida todos eram importantes à medida que contribuíam para o crescimento da empresa. Ainda assim reconhecia que havia cargos mais difíceis e outros mais fáceis, o que era o caso de Dulce.

- O problema não é o cargo, isso qualquer um poderia fazer com apenas alguns dias de treinamento. O problema é quem pode ocupar essa função.

- Roberto pode falar claro? Ainda não entendi qual é o problema.

- Temos que aguardar o período de experiência para a contratação de outro funcionário com deficiência e até que isso ocorra não podemos abrir mão dos serviços dela ou a empresa será autuada por não respeitar a cota de integração e acessibilidade.

- Como assim deficiência?

Basicamente Christopher tinha parado de escutar ali. A princípio pensou que estavam falando de pessoas diferentes, uma vez que Dulce não tinha qualquer deficiência. Ele mesmo tinha comprovado, não havia nada de errado com ela. Depois pensou melhor e a conhecendo a tanto tempo ele sabia que ela deveria ter conseguido o emprego utilizando algum truque, mas tinha caído baixo demais ao fingir uma deficiência!

- Um momento Roberto, acho que está havendo uma confusão aqui. Desde quando Dul... a senhorita Montesblanco é deficiente? Eu a conheço, não a nada de errado com ela.

- A conhece e não reparou que ela é deficiente visual?

- O QUE?

Christopher quase deixou o telefone cair. Como assim Dulce? Cega? Ele tinha visto! Ela estava perfeitamente bem, até o reconheceu! Um momento... ele tinha visto, mas ela em nenhum momento tinha olhado pra ele! Não... não podia ser! Ele precisava ver isso com seus próprios olhos.

- Falo com você depois.

Christopher não esperou pela resposta de Roberto. No instante seguinte já avançava pelas escadas rumo ao setor de arquivos.

- Onde está Dulce? - Perguntou ao rapaz a sua frente. Ele não o conhecia, não era um setor que frequentasse. Quando precisava de algo era sempre Karina que buscava.

- Ela foi pra casa. Sofreu um acidente quando chegou e...

- Que acidente?

Ele não costumava ser tão direto. Geralmente era educado e paciente. Mas essa era uma situação diferente. Tinha pressa em saber a verdade.

- Ela foi atropelada por um patinete quando estava chegando e...

- Onde ela mora?

- Eu não sei senhor. Me chamaram apenas para substitui-la, mas sou estagiário do...

- Está certo. Obrigado.

Christopher deixou o lugar. Descobriria onde Dulce morava e então iria fundo naquela história. Ele odiava mentiras, principalmente as vindas dela, mas dessa vez ele estava torcendo pra que ela tivesse mentido...

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Dulcezinha e o triplex alugado na cabeça do Christopher

O Jardim das BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora