K.I.N.G TV - Departamento Financeiro
A inquietude não era uma sensação comum para Christopher. Geralmente ele tinha tudo sobre controle, assim, não existia nada capaz de abalar o equilíbrio do seu mundo. No entanto, desde que soube que Dulce estava trabalhando no andar debaixo, não teve mais paz.
É claro que ele exigiu que ela se demitisse! Não havia outra forma, os dois não poderiam estar no mesmo lugar. Ficou aliviado quando viu a carta assinada por ela em cima da sua mesa. Ainda assim, parecia que havia alguma coisa errada e o incomodava não saber o que estava deixando passar.
Estava aí a causa da sua falta de concentração. Ele não pensou que a ver novamente o abalasse tanto. Mais uma razão pra estar certa aquela demissão. Ali estava a prova de que nunca poderiam conviver normalmente. Isso é algo difícil quando não há respeito.
- Entra. - Respondeu as batidas na sua porta.
- Com licença Christopher, mandaram esse documento do RH.
- Pode deixar na minha mesa Karina, obrigada.
Karina era sua secretária a cerca de oito anos. Mais do que patrão e funcionária, eram amigos e enfrentaram muitos problemas no escritório juntos. Havia uma relação muito estreita entre eles. Christopher era até padrinho do pequeno Luca, filho de Karina e que no próximo mês completaria dois anos.
Ele se aproximou da mesa. Ficou surpreso com o documento que enviaram. Esperava assinar o acordo de demissão sem aviso prévio, porém ao contrário disso, recebeu um comunicado de que o cumprimento do aviso prévio era obrigatório para a senhorita Montesblanco que deveria continuar no seu cargo pelos próximos 30 dias.
- Mas que diabos é isso?
Geralmente a empresa era bem solícita quanto a isso. Quando um empregado pede demissão, a emissora sempre abre mão do aviso prévio. Essa é uma forma de evitar conflitos com o funcionário e impedir que isso acabe levando o caso a mídia. Em dez anos de casa nunca tinha visto isso. Então por que justo com ela tinha que ser diferente?
- Karina? Me transfere para o Roberto, por favor.
Aguardou alguns instantes na linha. Olhou o papel novamente tentando entender o que aconteceu e só havia uma pessoa que poderia explicar, Roberto Guzman, o gerente do RH.
- Christopher, precisa de alguma coisa?
- Acabei de receber um comunicado do RH de não concordância com a despensa da senhorita Montesblanco e não entendi. Por que isso?
- Não podemos abrir mão de Dulce até treinarmos outra pessoa para o seu lugar.
- Não entendo. O que tem de tão complicado em ser arquivista?
Não é que Christopher estivesse desprezando esse trabalho. Ao contrário, tinha muito respeito por cada cargo exercido dentro daquela empresa, sem dúvida todos eram importantes à medida que contribuíam para o crescimento da empresa. Ainda assim reconhecia que havia cargos mais difíceis e outros mais fáceis, o que era o caso de Dulce.
- O problema não é o cargo, isso qualquer um poderia fazer com apenas alguns dias de treinamento. O problema é quem pode ocupar essa função.
- Roberto pode falar claro? Ainda não entendi qual é o problema.
- Temos que aguardar o período de experiência para a contratação de outro funcionário com deficiência e até que isso ocorra não podemos abrir mão dos serviços dela ou a empresa será autuada por não respeitar a cota de integração e acessibilidade.
- Como assim deficiência?
Basicamente Christopher tinha parado de escutar ali. A princípio pensou que estavam falando de pessoas diferentes, uma vez que Dulce não tinha qualquer deficiência. Ele mesmo tinha comprovado, não havia nada de errado com ela. Depois pensou melhor e a conhecendo a tanto tempo ele sabia que ela deveria ter conseguido o emprego utilizando algum truque, mas tinha caído baixo demais ao fingir uma deficiência!
- Um momento Roberto, acho que está havendo uma confusão aqui. Desde quando Dul... a senhorita Montesblanco é deficiente? Eu a conheço, não a nada de errado com ela.
- A conhece e não reparou que ela é deficiente visual?
- O QUE?
Christopher quase deixou o telefone cair. Como assim Dulce? Cega? Ele tinha visto! Ela estava perfeitamente bem, até o reconheceu! Um momento... ele tinha visto, mas ela em nenhum momento tinha olhado pra ele! Não... não podia ser! Ele precisava ver isso com seus próprios olhos.
- Falo com você depois.
Christopher não esperou pela resposta de Roberto. No instante seguinte já avançava pelas escadas rumo ao setor de arquivos.
- Onde está Dulce? - Perguntou ao rapaz a sua frente. Ele não o conhecia, não era um setor que frequentasse. Quando precisava de algo era sempre Karina que buscava.
- Ela foi pra casa. Sofreu um acidente quando chegou e...
- Que acidente?
Ele não costumava ser tão direto. Geralmente era educado e paciente. Mas essa era uma situação diferente. Tinha pressa em saber a verdade.
- Ela foi atropelada por um patinete quando estava chegando e...
- Onde ela mora?
- Eu não sei senhor. Me chamaram apenas para substitui-la, mas sou estagiário do...
- Está certo. Obrigado.
Christopher deixou o lugar. Descobriria onde Dulce morava e então iria fundo naquela história. Ele odiava mentiras, principalmente as vindas dela, mas dessa vez ele estava torcendo pra que ela tivesse mentido...
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Dulcezinha e o triplex alugado na cabeça do Christopher
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O Jardim das Borboletas
RandomO que afinal as borboletas significam? Pra algumas culturas antigas elas representavam as mensageiras dos deuses. Já para os indígenas americanos, as borboletas significavam esperança e de renovação espiritual. Por outro lado a mitologia grega dizia...