Capítulo 29 - O Diário Perdido

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Maite acariciou as orelhinhas peludas de Paulo. O bichinho dormia tranquilamente em seu colo. Ela invejou essa tranquilidade, era tudo o que queria sentir, mas no momento se via em meio a sala fria da sua antiga casa em Rosa Azul.

Na sala haviam dois vizinhos, velhos amigos de Juan com suas esposas. Os quatro a olhavam condenando cada mínimo gesto seu, mas ela não se preocupou, em menos de duas horas pretendia estar fora dali o quanto antes.

Sebastian chegou naquele exato momento. Pode sentir a tensão no ar entre seus vizinhos e a garota. Cada um estava de um lado da sala como se houvesse uma linha de fogo cortando o meio do ambiente.

Mai não era a pessoa favorita dele, mas achava uma falta de respeito o comportamento hostil dos idosos, afinal estavam dentro da casa dela. Ainda assim, por educação, os cumprimentou e sentou-se ao lado de Maite.

- Tinha mesmo que trazer esse bicho pra cá?

- Oras por que não? Não foi você mesmo que me fez ir lá pegá-lo?

Mai sentia vontade de rir a cada vez que se lembrava da confusão que Sebastian fez pensando que Paulo fosse uma criança. Depois de arrastá-la para a casa, atrás da "criança", a situação piorou quando Paulo roeu uma de suas botas. Aí sim Christian deixou de ser o único a se tornar inimigo declarado do seu filho.

- Por que não me esperou?

A verdade é que Mai não planejou. Quando acordou Sebastian já tinha saído para a delegacia e só voltaria pra buscá-la ao meio-dia. Acabou então decidindo dar uma volta e quando viu, estava ali, afinal as fazendas eram vizinhas e havia um atalho que conectava as duas em apenas dez minutos.

De certa forma foi bom, pela primeira vez em muito tempo, Mai visitou cada cantinho daquele lugar. O seu favorito era o Borboletário da sua mãe e ficou surpresa de que Juan o tivesse mantido.

Andou por toda a casa, só evitou o quarto de Juan. Quando entrou no seu viu que as coisas continuavam exatamente como tinha deixado quando saiu: a roupa de cama florida, o chapéu azul pendurado no cabideiro, o livro esquecido em cima da mesinha de cabeceira. Se perguntou o que queria dizer tudo aquilo. Da forma como tudo acabou entre ela e o tio esperava que ele tivesse tacado fogo nas suas coisas.

Lembrou-se então do seu diário! Será que ainda estava lá? Abriu a gaveta da penteadeira, mas pra sua decepção não estava lá. Será que tinha mesmo deixado lá ou será que alguém havia pegado? No dia em que foi expulsa de casa pegou suas coisas com muita pressa e estava tão nervosa que fez as coisas sem pensar.

Ali ela tinha escrito os momentos mais importantes da vida dela. Pensando bem, talvez hoje desse um pouco de risada ao ler as coisas que escreveu sobre Sebastian. Ainda bem que a gente cresce porque as vezes dá um pouquinho de vergonha alheia lembrar da adolescência. Bem, pelo menos se alguém pegou não deve ter conseguido abrir, aquela era uma fechadura especial e a chave ainda estava com ela. Por outro lado, talvez seu tio realmente tivesse tacado fogo e pensando bem, até era um favor que ele faria.

- Está ouvindo o que eu falei ou continua no mundo da lua?

- Que?

Só então Maite se deu conta de que todos a encaravam, inclusive o advogado que tinha a mão estendida pra ela. Era um senhor já de idade, Mai nunca o tinha visto por lá. Enquanto morava ali o advogado de Juan costumava ser o pai de Alfonso.

- Ah claro, me desculpe. Muito prazer, sou Maite.

- Muito prazer, sou Augusto Lowis, advogado do seu tio. Só falta mais uma pessoa.

- Desculpem o atraso.

Alfonso entrou e ela estranhou um pouco. Até onde sabia, Alfonso não costumava frequentar aquele lugar, mas aí se lembrou que ele também era sobrinho de Juan.

- Muito bem, agora podemos começar.

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O Jardim das BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora