Daniel encostou a cabeça no pilar atrás de si. Fechou os olhos soltando um longo suspiro. O que tinha feito?
Havia escutado a conversa entre Diego e a prima de Kiraz e sentiu raiva pelo próprio comportamento. Ele tinha assumido que seu meio irmão e a novata estavam tendo um caso e por isso se atrasaram, mas a realidade não poderia ser mais diferente.
- Maldição!
Bater o punho fechado na parede não aliviou nem um pouco a tensão. Daniel estava de acordo que não era um sujeito fácil e talvez essa fosse a causa de todos os temerem e o respeitarem. Por outro lado, ele detestava a sensação de injustiça e foi exatamente isso que fez hoje.
Daniel voltou para o prédio do estúdio. Precisava fazer alguma coisa, mas o que? Tudo bem, ele ainda não acreditava que a garota fosse durar muito tempo entre os leões. Ainda assim não desejava ele ser a causa da sua desistência.
Ela o lembrava um pequeno filhote de gato com aqueles olhos doces e que aparentavam inocência. Era uma pena que isso fosse se perder em pouco tempo. Para sobreviver nessa selva precisava deixar de ser um simples filhote e se transformar num leão ou numa leoa.
As luzes já estavam apagadas. Pegou o corredor rumo aos camarins. Ele não a tinha visto sair e a garota da lanchonete que agora sabia ser sua prima, confirmou que ela ainda não tinha ido embora.
Bateu na porta do camarim número 3, era ali que Kiraz deveria estar. Ninguém abriu. Encostou o ouvido e não havia som nenhum vindo do lado de dentro. A luz passava por debaixo da porta, sinal de que havia alguém do outro lado. Teria ela passado mal?
Não pensou duas vezes antes de abrir a porta e dar de cara com o camarim aparentemente vazio. Já ia dar meia volta, quando algo lhe chamou a atenção. A porta do banheiro estava entreaberta. Uma voz melodiosa entoava uma canção. Ele não reconhecia o idioma, mas apostou no grego quando viu Kiraz trocando de roupa de costas para a porta.
Ele não fazia ideia do que a música dizia, mas era capaz de dizer que era a canção mais bonita que tinha escutado. Estava hipnotizado pela imagem, ela parecia uma deusa saída do Olimpo. E mais uma vez se viu surpreso por aquela figura tão doce e ao mesmo tempo tão atraente.
Alheia a isso Kiraz cantava enquanto se arrumava pra ir embora. O estúdio já estava vazio e preferia assim, o conforto do silêncio. Hoje mais do que nunca sentia falta de casa. A discussão com o diretor a fez perceber que o mundo que tanto ela quanto a mãe sonharam não era perfeito. Ela sabia que haveria muitos obstáculos no caminho, mas não imaginou que a sua moral fosse colocada a prova na primeira ocasião.
Cantar sempre ajudava a relaxar. Entrava em um mundo à parte onde nada poderia fazer mal. Tinha escolhido uma música calma, suave e grega, assim parecia diminuir a distância de mais de 11.000 km entre os dois países.
Se olhou no espelho e foi então que o viu. O par de olhos verdes escuros pareciam duelar com os seus verdes claros. Ficou parada, como uma presa hipnotizada pelo caçador. Ela o conhecia a poucos dias, não sabia tanta coisa assim dele, mas de uma pelo menos ela estava certa: Daniel era perigoso, mas o quanto, isso ela ainda não sabia.
Daniel não soube explicar o que aconteceu, mas simplesmente se viu avançando alguns passos para dentro do banheiro. Kiraz permanecia de costas. Vestia uma saia comprida e usava um soutien. A blusa permanecia entre suas mãos tampando os seios enquanto o olhava pelo espelho.
Ela não sabia o que esperar. Ele não sabia o que fazer. Eram apenas duas almas atraídas uma pela outra ainda que não percebessem isso. Daniel tirou a jaqueta lentamente. Kiraz arregalou os olhos e finalmente moveu-se para o lado pensando em escapar. Daniel encostou seu peito nas suas costas a impedindo de sair. As palavras não saiam da sua boca, aliás nem um som. Viu ele erguer a mão e afastar seus cabelos para o lado. Fechou os olhos quando seus dedos roçarem a sua pele. De repente sentiu algo pesado a cobrindo. Daniel tinha colocado a jaqueta sobre os seus ombros, deu uma última olhada pelo espelho e então se afastou deixando o ambiente. Kiraz se apoiou no balcão sem forças. O que tinha acontecido ali?
------//-------
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Jardim das Borboletas
CasualeO que afinal as borboletas significam? Pra algumas culturas antigas elas representavam as mensageiras dos deuses. Já para os indígenas americanos, as borboletas significavam esperança e de renovação espiritual. Por outro lado a mitologia grega dizia...