Capítulo 48 - E o Jogo Virou

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Toda festa de Natal com uma grande família também significa uma grande confusão. Muitas conversas acontecendo ao mesmo tempo, cachorros correndo, crianças gritando, enfim uma atmosfera caótica.

Em outros tempos, Sebastian teria tido um ataque de ver toda aquela bagunça dentro da sua casa. No entanto, isso era o que mais desejava no momento. Sua filha estava feliz, dava risada cada vez que ouvia os bebês de Anahí gargalharem. Naquele momento a felicidade parecia ser tão simples...

Ouviu a porta da cozinha bater e pensou logo em Maite, ela era a única que não estava nem na sala de tv, nem na de jantar, então só poderia ser ela. Apenas avisou Dani e saiu atrás da garota.

Por alguns instantes se questionou onde ela poderia ter ido, mas não precisou pensar demais já que as luzes do jardim da casa ao lado se acenderam.

Seguiu a trilha de flores que levava até o borboletário. Ele sabia que aquele lugar era especial pra ela porque lembrava a mãe dela. Foi por isso mesmo que convenceu Juan a não destruí-lo quando ela foi expulsa porque de alguma forma ele sabia que um dia ela estaria de volta.

- Minha nossa quantas!

Além disso ele tinha mandado algumas espécies raras pra lá. Ele sabia que umas estavam em extinção e essa era uma maneira de ajudar a natureza a conversar algumas borboletas. Ele não sabia ao certo o que o levou a fazer isso, mas desconfiava que essa era uma maneira de não afastar Maite durante todos aqueles anos.

Ele a observou rir e estender as mãos. Uma linda borboleta laranja pousou delicadamente na mão de Maite que a olhava encantada. Naquele momento ele se viu estranhamente desejando que aquele olhar fosse pra ele. Por muitos anos, era exatamente assim que os olhos da garota o fitavam, com fascínio, com admiração, mas agora, eles pareciam desprovidos de sentimento por ele. Se a sua nova versão tinha amnésia e pensava que era a adolescente de dez anos atrás, como é que ela parecia tão... indiferente a ele?

- Sabia que você linda? Mas eu sei que sofreu muito até ficar assim. Não é fácil sair do casulo, não é querida?

Maite falava com a linda borboleta que estava em suas mãos. Não se tratava de uma espécie rara, ao contrário, diria que era das mais comuns, mas aí mesmo é que estava a beleza dela. Ela não precisava ser diferente pra se destacar. Aquela versão delicada era espetacular. Ela podia ser indiferente a ele, mas quando se tratava dos pequenos, como a sua filha, ela era um doce e não podia negar que aquilo era encantador.

- Sabe, aparentemente parece que eu saí do casulo também, mas daria qualquer coisa pra voltar. É difícil abandonar o casulo quando não se lembra de nada.

Sebastian não tinha pensado nisso. Parte da indiferença de Maite vinha daí. Certamente não era fácil ver metade da sua vida apagada, isso deve gerar muita insegurança.

- Eu gostaria de me lembrar das coisas, mesmo que não sejam boas, ao menos eu me sentiria menos cega... não sei como as borboletas enxergam, mas é horrível ver, mas sem enxergar nada.

O desabafo de Maite podia parecer confuso, mas Sebastian era capaz de compreender. Sua mãe foi a primeira esposa do seu pai e ela faleceu devido a uma demência precoce depois de sofrer um acidente de carro. Ela morreu sem lembrar do filho, nem do marido, então conseguia entender o sentimento de estar em vida, mas não saber de nada. Teve sorte com a sua madrasta, ela realmente o apoiou e ainda lhe deu irmãos que embora briguem um pouco, um está ali para o outro quando precisa.

- Christian falou que dividimos um apartamento e que eu tenho um bar com ele e Diego na capital...

Diego era dono de um bar com Maite? Desde quando? Fez uma nota mental de ter uma conversinha com seu irmão mais novo que pelo visto só servia pra se meter em confusão.

O Jardim das BorboletasOnde histórias criam vida. Descubra agora