- Tia Maaaaaaaaaai!
O pequeno furacão grudou nas suas pernas e Mai nunca ficou tão feliz de ver a garotinha. A garotinha de tranças tortas sorria feliz, mas o mesmo não se podia dizer do pai dela que parecia prestes a matar um.
- O que faz aqui Borboletinha?
- Eu queria ver o Paulo. Você deixa?
- Hã? Ah claro!
Agora dava pra entender porque Sebastian parecia querer o seu fígado. Não era história do noivado (e nem poderia ser por isso, afinal se fosse pra se livrar dela ele com certeza soltaria fogos de artifícios). Mas ter que viajar apenas porque a filha quer ver um coelho que ele não foi com a cara deve ser difícil.
- Hum, com licença. É Borboletinha não?
- Sim e você?
- Me chamo Christian sou... ami.... noivo da tia Mai.
Christian se corrigiu. Desmentir a situação agora só pioraria as coisas. Além do mais, era sempre bom qualquer oportunidade que tivesse para provocá-lo. Ele até podia ser irmão de Leo, mas nem por isso era boa pessoa. Por outro lado, a cara do homem não era das melhores e a garotinha que era sobrinha do seu namorado não tinha nada que ver com essa bagunça.
- O que acha de irmos na frente? Tenho certeza que Paulo deve estar querendo o café da manhã. Podemos alimentá-lo.
- Papai eu posso ir?
- Não se preocupa, Chris é de confiança, eu posso garantir.
Sebastian apenas assentiu e a pequena deu a mão ao seu mais novo amigo. Mai sorriu pensando que a dupla tinha algo em comum: os dois tinham neurônios de uma criança de cinco anos.
- Como sabia o que eu estava pensando?
- Bem, não sei se alguém já te disse, mas a sua cara azeda diz tudo.
Mai respondeu e começou a caminhar para fora do hotel onde ficava a cafeteria. A chance dela e de Sebastian brigarem era sempre grande e não queria um escândalo no lugar onde justamente estavam chamando a atenção.
Sebastian não estava nada satisfeito. Na verdade, não estava acostumado àquela nova versão de Maite. Durante toda a vida a garota corria atrás dele e agora simplesmente dava as costas com muita facilidade! Era claro que ele entedia que não havia possibilidade de serem amigos, mas esperava ao menos que fosse uma coisa mais civilizada.
- Precisa ser tão grosseira?
Maite parou de andar e o olhou erguendo uma das sobrancelhas. Era irônico que logo ele, o próprio Ogro de Botas estivesse cobrando boa educação.
- Do que está rindo?
- É a primeira vez que eu vejo o rei da grosseria pedir por educação.
- Quando eu fui grosseiro com você?!
- Você quer mesmo uma resposta com a lista ou é só uma pergunta retórica?
Maite não poderia contar nos dedos todas as vezes em que Sebastian foi grosso com ela. A diferença é que quando era mais nova estava apaixonada por ele, então não enxergava os defeitos. Mas agora, depois de tudo o que aconteceu, se tornou difícil justamente o oposto: enxergar qualidades no Ogro de Botas!
- Hey, o que pensa que está fazendo?
Maite levou um susto quando o Ogro a jogou sobre as suas costas mais uma vez. Pelo visto, ele tinha esse péssimo hábito. Alguém precisava lembrar ao delegado que sequestrar pessoas era crime!
- Precisamos conversar!
- Devo chamar a polícia para a polícia?
Sebastian abriu a caminhonete e jogou Maite no banco do carona. Não pretendia sair dali, apenas precisava de um espaço para conversar sem ninguém. Estava cansado, incomodado por ter que vir atrás dela e parece que piorou ao presenciar o show na cafeteria do hotel, então não estava no melhor dos seus humores, mas tentaria resolver as coisas civilizadamente.
- Eu precisava conversar com você antes que fosse embora de Rosa Azul, mas você saiu de lá mais rápido que um foguete.
- Sim, mas pra isso precisa sequestrar pessoas? Alguém por acaso já avisou ao senhor delegado que isso é crime?
Sebastian escolheu ignorar. Se começasse a responder aquilo não terminaria nunca. Por isso, foi direto ao ponto e entregou uma pasta vermelha a Maite.
- O que é isso?
- O contrato da sociedade, você deveria ler.
- E isso por que?
- Leia e tire as suas próprias contribuições.
Maite sentia vontade de falar umas boas verdades na cara do sujeito, mas teimoso como ele era, ela sabia que não a deixaria sair enquanto ela não lesse o dito documento. Assim, resolveu poupar energia e passou os próximos minutos dando uma rápida olhada no arquivo.
- Você só pode está de brincadeira comigo! O que deu de colocar na cabeça de vocês essa cláusula de fiscalização?
- O seu tio e eu estabelecemos uma cláusula de segurança. A minha fazenda é responsável por trabalhar a plantação, mas as terras são suas, logo, a sociedade só funciona se uma parte estiver fiscalizando a outra.
- Sim, esse era o acordo de vocês, mas o que eu tenho a ver com isso? Por que não posso mandar um representante no meu lugar?
- Estamos tentando cultivar uma nova espécie de azeitonas e desenvolver um azeite diferenciado. Eu e o seu tio concordamos em manter o projeto sobre sigilo.
Aquilo era ridículo! Quanto mais ela buscava se afastar de Rosa Azul, mas aconteciam coisas que a atraiam para aquele lugar!
- Eu não posso me mudar pra Rosa Azul.
- Eu não estou pedindo isso.
- Então o que quer? Pode ser mais claro?
- Preciso que vá a cada quinze dias, fique dois dias, veja a plantação, assine a ata em cartório e volte, simples.
Simples uma ova! Agora além desse dividir entre o bar e as reuniões com Tom sobre a emissora, ainda precisaria lidar com a fazenda e o Ogro de Botas no pacote! Se perguntou o que fez de tão grave na vida passada pra receber tantos karmas nessa.
- Por que não fingimos que eu fui e pronto? Basta me enviar os papeis e...
- Maite, está mesmo sugerindo que um policial minta para a lei?
Contrato idiota. Cláusula idiota. Delegado idiota!
Mai estava mesmo sem saída. Pelo visto, a não ser que morresse, estava condenada por dois anos a ter que lidar com o Ogro de Botas! Aquilo era realmente irônico, já que no dia em que ela foi expulsa da fazenda, ele gritou aos quatro ventos que não queria vê-la nunca mais.
Lembrar daquilo costumava doer como um inferno, mas os anos foram realmente generosos com ela e, aos poucos, conseguiu apagar o amor que sentia e aquela imagem passou a ser apenas uma lembrança ruim.
Hoje, estava segura. Sabia que nada assim voltaria a acontecer, porque essa sua versão era muito mais forte. No entanto, estar imune ao Ogro de Botas, não significa que também estava imune a todo o resto e retornar pra fazenda.
- Se não estiver se sentindo segura, pode levar o seu noivo junto.
- Levar quem?
- O rapaz que saiu daqui não é seu noivo?
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O Jardim das Borboletas
RandomO que afinal as borboletas significam? Pra algumas culturas antigas elas representavam as mensageiras dos deuses. Já para os indígenas americanos, as borboletas significavam esperança e de renovação espiritual. Por outro lado a mitologia grega dizia...