Kaylian.
Sempre pensei no que me unia ao Gael, sinceramente, agora não tinha praticamente nada que nós tínhamos em comum. Principalmente quando a questão era família, pois eu nem sequer sabia mais qual era o lugar de quem ali.
Passaram anos, a minha vida toda praticamente mentindo para mim e por alguma razão, eu sentia vergonha de contar isso a ele ou a qualquer outra pessoa, incluindo Maria ou Taissa.
- Kaylian, por favor, diga alguma coisa - Implorou Jorge, ainda sentado àquela mesa na qual estava fazia quase uma hora. Eu não conseguia olhá-lo nos olhos.
- Filho, você é tudo para mim, é minha vida, por favor... só diga que me perdoará um dia - Colocou a mão em cima da minha, e eu a retirei.
Eu tinha planos, queria recomeçar, principalmente depois de descobrir tudo, esse era o impulso final que daria a certeza na qual eu precisava.
- Vou pegar o dinheiro da poupança, abrir um negócio de tatuagens e sumir daqui, construir uma vida, longe de vocês e de tanta mentira - Apenas avisei, embora não merecessem, ainda tinha essa consideração por eles.
- Não faça isso, seu irmão, o Bernardo é muito apegado a você e não vai suportar que fique longe dele...
- CHEGA! EU CANSEI! SERÁ QUE UMA VEZ NA SUA VIDA, PODE PARAR SE USAR AS PESSOAS COMO DESCULPA? - Espalmei a mesa bruscamente.
- Se eu fiz o que fiz, foi pelo seu bem! Se quer a verdade nua e crua, aí vai - Levantou-se e apontou o dedo. - Seu tio era um viciado em drogas, usou cocaína durante praticamente toda adolescência e quando sua mãe descobriu que estava grávida, fazia poucos meses que tinha terminado com ele - Tomou força para continuar.
- Aí você ajudou seu irmão, se envolvendo com a ex-mulher dele e ainda grávida? Puta que pariu! Como é caridoso! - Bati palmas.
- Sua mãe não sabia se era meu ou dele, então acabou registrando como meu, porque seu tio sofreu um acidente no dia em que ela contaria e ficou em coma por quase um ano, quando acordou, fizemos o teste de paternidade e contamos tudo, ele estava se recuperando e não quis estar daquela maneira na sua vida! - explicou, nervoso.
Então eu ainda fui rejeitado pelo meu pai? É isso?
Tamar.
Lilith me alimentou e me deu roupas limpas, também mostrou um lugar aonde se banha, seria um alívio, se não fosse pelos constantes e perturbadores gritos vindos de uma área cinzenta tenebrosa.
Caminhando pelos corredores largos e vastos que causavam arrepios, até chegar à uma porta muito alta e larga, tinham ossos entalhados em cima formando uma cruz e as maçanetas eram de bronze em formato de argolas. Estava aberta, a empurrei devagar e entrei.
O quarto era extremamente espaçoso, dava o dobro em largura do que eu tinha na minha casa.
- Educação não é forte de vocês humanos, não é? - A voz imponente ecoou pelas paredes douradas do quarto, me fazendo estremecer por dentro.
Quando meu olhar o encontrou, Lúcifer estava debruçado sobre o parapeito de uma janela larga, observando a vista além dela.
- Nem a cortesia de vocês demônios - retruquei, ríspida. Ele me lançou um olhar flamejante, como se quisesse cortar minha garganta ali mesmo.
- O que quer aqui? - Sentou-se em sua cama de rei a poucos metros da janela.
- Negociar - falei, mais corajosa do que realmente me sentia.
- Por que eu negociaria com você? O que tem a me oferecer? - Ergueu a sobrancelha com desdém.
- Sei que deseja ele morto, eu posso te ajudar com isso - disse, firme.
Ele deu uma risadinha em escárnio. Aquilo não valia nada ao diabo.
Me aproximei mais, ficando de frente para ele.
- Eu mesma o mato, em troca, quero que convença Azazel a me tirar daqui - Dei a condição, esperançosa de que conseguiria algo.
Lúcifer se manteve em silêncios por alguns segundos, talvez considerando a proposta.
- Por que não diz você mesma a ele? - A voz era intesa feito tempestade, erguendo sutilmente a cabeça e fazendo os cabelos negros despencarem de lado.
Engoli a seco.
- Ele não me dará ouvidos, além disso, é muito amiga do... pensei que talvez, pudesse ter outra maneira - Ergui o vestido, exibindo minha coxa, a qual coloquei entre suas pernas.
Lúcifer me lançou um sorriso lascivo e aproximou a boca da minha.
- Está tentando enganar o rei da mentira? - Seu hálito quente atingiu minha pele que gelou.
Lúcifer me agarrou pela coxa e me jogou na cama segurando minha cintura.
Cada canto da minha pele suava frio.
- Sua beleza é uma arma, aprenda a usá-la Tamar - Passou o nariz pela minha bochecha e os cabelos, apreciando meu cheiro como se eu fosse algo incrivelmente envolvente.
Meu coração quase saia pela boca e talvez tenha saído e voltado quando Lúcifer me olhou direto nos olhos, a luz flamejante igual ao que havia em Lilith me fez sentir um inexplicável fascínio, uma vontade estranha de sentir... de sentir ele. Sentir sua pele macia como pêssego contra a minha, seus lábios carmim...
- Viu? É assim que se usa a arte da sedução - Deu um selinho em minha bochecha e se afastou, me deixando com o vazio do calor de seu corpo.
Voltei a si.
Lúcifer era assustador. Pensamentos intrusivos vieram a minha mente e eu os sufoquei, antes de me envenenarem.
Lembrei de Lilith falando todas as crueldades e senti o estômago embrulhar.
Tinha praticamente me enfeitiçado, a facilidade com que fez isso foi ainda mais aterrorizante.
Eu não deveria achá-lo belo e me atrair, entretanto depois de sair sob aquele efeito, ainda era extremamente lindo e sedutor. Demorei a assimilar aquilo.
- Você é desprezível, como se atreve? - Sai da cama, indo até ele, disposta a fazê-lo engolir aquelas palavras sujas.
- Ah! Não me diga, não vou conseguir dormir com esse peso hoje a noite! - Pôs a mão no próprio peito de maneira teatral. Perdi o pouco controle em mim e agarrei a primeira coisa que vi pela frente, avançando nele para feri-lo.
Lúcifer previu o meu ato impulsivo e agarrou meu pulso no ar, tomando o punhal da minha mão esquerda rapidamente.
- Acha que pode me matar? - Abriu um sorriso largo, parecia se divertir com aquela situação, seus olhos escuros brilhavam. Ele me soltou e pôs novamente o punhal na minha mão, abrindo a túnica dourada e expondo o peito, segurou meu punho e colocou a ponta dele contra seu peito.
- Faça - Ordenou com uma lentidão perigosa tomando os olhos negros.
Estremeci, quase sem conseguir me mover, os músculos do meu corpo pareciam querer explodir.
Lúcifer tomou o punhal de volta e pegou meu indicador, deslizando a lâmina antiga por minha pele fina, fazendo sangue surgir, seus olhos sombrios fixaram-se aos meus quando levou meu dedo a seu lábio inferior e passou o sangue lentamente nele.
Em seguida saboreou o gosto do meu sangue, ainda me olhando nos olhos.
- Pode ir se quiser, eu vou ajudá-la, se me trouxer aquele bastardo, eu mesmo o matarei - disse, quase em sussurro.
- Convencerá Azazel? - indaguei, mais perto. Suas mãos me puxaram com força para si e sua língua entrou em conexão com a minha feito uma ventania imparável, o beijei como se não soubesse quem era, os movimentos lentos se tornaram cada vez mais ávidos e excitantes, nada se comparava a sentir o gosto do mal e querer mais.
Lúcifer sorriu, segurando meu queixo com pressão.
- Suas horas estão contadas, mas talvez seja possível - Me deu um selinho.
Maldito!
Desgraçado!
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Somos feitos de sangue e mentiras [Finalizada]
RandomTaissa é uma estudante de astronomia que por obséquio do destino acabou se afastando de seu amigo. Quando as aulas voltaram na universidade em que estudam, os dois retomam convivência, ela acaba notando estranhos comportamentos do ex-amigo, sem imag...