12 de Maio.
Tamar.
Laura andava de um lado para o outro, enquanto Lúcifer e eu planejavamos como iríamos agir.
— Se fizermos isso, a probabilidade dele nos matar é muito grande, esqueceu que somos humanas? — Protestei contra sua armadilha mal elaborada e perigosa.
— Pare de fazer drama, conseguiu bater em Azazel e está viva, pode fazer mais contra o bastardo — falou, revirando os olhos negros.
Continuei me colocando contra aquela ideia estúpida.
— Estamos perdendo tempo! — Espalmei a mesa velha de madeira do casarão abandonado aonde estávamos.
Ouvi Laura gritar quando um rato passou por ela.
— Que ideia genial você tem? Não se esqueça que agora, Azazel também está querendo apertar seu pescoço, você o fez se sentir tão fraco quando um rato insignificante, arque com as consequências! — redarguiu, se inclinando sobre a mesa.
— Ele me quer de outra maneira e sabe disso, eu jamais vou permitir que aquele maldito demônio encoste um dedo sequer em mim! — O lembrei, controlando a vontade de extravasar minha raiva ao pressionar os dentes com força
— Nem que ele quisesse, isso seria impossível — disse, dando um sorrisinho sarcástico.
— O que? — Aquilo fez um nó dentro do meu cérebro.
— Azazel é um demônio poderoso demais, assim como o bastardo de Lilith, nem que quisessem, poderia tê-la para si, isso acabaria te matando, humanas são frágeis demais para usufruir de relações carnais com demônios, existem os succubus e inccubus que podem fazer isso, mas são exceção e eles também causam estrago — explicou, mexendo nos fios escuros feito carvão que caiam em seus ombros.
— Quer dizer que enquanto minha irmã está lá com aquele desgraçado, vocês estão discutindo e literalmente ela pode morrer por trepar com ele? — berrou a irmã mais nova da mulher que tentariamos salvar.
Lúcifer soltou uma gargalhada estranhamente sensual.
— Para mim isso é coisa de filme de terror, tipo um demônio que gosta de transar com gente dormindo? Que porra de feitiche estranho é esse? — Interpôs a garota.
— Taissa não irá morrer, se não aconteceu da primeira vez, não vai acontecer futuramente, até porque, o corpo humano precisa da capacidade de fazer isso sem feri-la, o que irá acontecer provavelmente é: ele drenar tudo de bom que ele tem a ofertar — Gesticulou, simulando um copo cheio graças a líquido do outro.
— Como sabe disso? — indaguei, curiosa. Ele me lançou um olhar sério e se aproximou deliberadamente, parando na direção oposta e falando no meu ouvido:
— Talvez eu tenha desejado sentir naquele dia, mas sabia o que aconteceria se tentasse, eu sei do passado e do futuro Tamar — A ponta de seu nariz roçou o lóbulo da minha orelha.
— Eu não ia trepar com alguém que fede a coisa queimada, sem ofensa — murmurou a garota, do outro lado da sala.
— Ainda cheiro melhor que o seu namorado, se decompondo e sendo devorado pelos vermes debaixo da terra — Lançou um olhar cruel a garota que o xingou de vários nomes ao escutar aquilo.
— Estou lidando com dois adultos ou não? Foi o que pensei — falei, sem paciência para aquele tipo de coisa logo cedo. Lúcifer suspirou, entediado.
Iríamos surpreender o usurpador, porque ele não sabia aonde nós estávamos, estaria desprevenido, sem saber onde e quando seria atacado.
— O punhal, precisamos pegar — Alertou Lúcifer.
— Que punhal? Um punhal idiota vai nos proteger dele? — Questionou Laura, cruzando os braços.
— Nada pode proteger vocês dele, porém o punhal é a única arma capaz de separar o corpo do Rubens do corpo de Bas... portanto, temos que pegá-lo, você fará isso — elucidou, admirando as próprias unhas.
— Por que eu? A morte aqui vai ser por ordem de idade ou o que? Tamar deveria ir, quem foi possuído foi o tapado do irmão dela! — Protestou feito uma criança mimada.
— Sua irmã é a pessoa mais perto dele agora, então também corre risco, ele pode ser muita coisa, mas não é burro Laura, se estiver perto de Taissa, se tornará uma ameaça, mas também a garantia de que não te atacará diante dela — expliquei, ajeitando a manga da minha camiseta preta.
— Ela tem razão, ele se importa demais com ela para te machucar, pelo menos quando estiver perto — Foi bem especifido ao dizer.
Estava decidido, Laura seria a isca, embora isso a fizesse bater o pé.
Meus pais estavam num estado que podia se chamar de coma espiritual, os encontramos guardados em caixões feito dois mortos vivos dentro da casa em que meu irmão e eu morávamos, não sabia dizer como o usurpador havia feito aquilo, mas de acordo com Lúcifer, era um mal sinal, pois tal alto significava que o poder do demônio havia aumentado, tornando-o mais difícil de deter a cada dia que passava.
Seria arriscado demais sair, porém eu precisava ir ao confessionário.
Pedi ao padre que pudesse me receber fora do horário, quando a lua já tinha subido ao céu.
— Quero me confessar padre — disse, segurando meu terço em mãos.
— Sim, filha — Respondeu, entrando do lado de dentro e fechando a porta de madeira do local apertado. Sentei no banco sem encosto e tomei força para começar.
— O que quer confessar filha? — Perguntou, a voz mansa e acolhedora.
Meu coração acelerou dentro do peito.
— Eu pequei padre... — Comecei
— Qual o seu pecado? — indagou, sendo tão bom ouvinte quanto um pai.
— A malícia padre, eu quis me deitar com ele, o fruto do pecado — Continuei, segurando o terço com tanta força que quase o arrebentei.
Havia demorado para entender certas coisas, não era uma devota fervorosa do catolicismo, porém tinha conhecimento sobre a origem do pecado e uma interpretação igual a das outras pessoas, porém ao conhecer a face do mal, meus pensamentos mudaram completamente a respeito do que aconteceu no Éden.
— E eu não me sinto culpada por isso, não consigo sentir culpa por querer isso — Confessei, arracando o peso do peito.
O padre permaneceu em silêncio por alguns minutos, até dizer:
— Reze dez aves marias e dez pai nosso, é a sua penitência — Havia uma pontada de decepção na sua voz falha.
Engoli a seco.
— Não padre, minha alma já está condenada, pelo que estou prestes a fazer — Levantei, sentindo o peso daquelas palavras atingir o estômago e causar desconforto.
O padre tentou me alcançar e vir atrás, talvez para perguntar se eu me referia a entregar a castidade ao fruto do pecado, mas não, eu me referia à matar o usurpador que havia destruído minha família.
— Não se entregue ao mal filha, o profano espera que caia nas ciladas dele, ele não vem com chifres, um tridente e a face de uma besta, ele é um anjo caído, o mais belo dos anjos, pode assumir qualquer forma para engana-la — disse o velho padre, de longe, sua voz ecoava pelas paredes antigas da igreja.
— O diabo é real padre, e nem imagina o quão perto estou dele — Foi a última coisa que falei, saindo dali.
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Somos feitos de sangue e mentiras [Finalizada]
AléatoireTaissa é uma estudante de astronomia que por obséquio do destino acabou se afastando de seu amigo. Quando as aulas voltaram na universidade em que estudam, os dois retomam convivência, ela acaba notando estranhos comportamentos do ex-amigo, sem imag...