Taissa.
Às 19:00 da noite de um domingo sem sol, me encontrei pensando em tudo que me levou até ali. Desde o momento em que o conheci numa maldita festa, até o momento em que o apunhalei pelas costas de maneira traiçoeira, o meu conforto interno lutava contra a culpa, pois eu precisava e tinha o direito de fazer aquilo, depois de tudo o que Basemon me causou.
- Queima Taissa, joga tudo no fogo - A voz de Laura sobressaiu as chamas crepitantes diante de nós.
- O fogo apaga tudo de ruim, é o que diz minha mãe - Kay teve receio de dizer, ele era mais um que não sabia ao certo como me consolar.
Não havia como.
Peguei as poucas coisas que ele havia me dado, exceto a aliança de noivado, foi a única coisa que não consegui me desfazer. Quando fui jogar o punhal, Lúcifer me impediu.
- É melhor guardar para caso de falha né - Tomou para si e guardou no bolso da espécie de túnica que vestia.
A mulher esguio ao seu lado lhe lançou um olhar torto.
- Calado você é um poeta - resmungou ela de canto, discretamente.
Laura revirou os olhos para os dois, enquanto eu me mantive olhando tudo queimar.
As chamas em meio ao matagal subiam até quase atingir o céu. O corpo deitado sobre a grama não havia sido atingido.
- Lamento - Foram as únicas palavras que saíram da boca do belo homem, vendo Tamar chorar pelo irmão morto.
Basemon havia ficado tempo demais em posse do corpo de Rubens, portanto, tornaram-se um só, embora o ritual fizesse isso, já não adiantaria mais. Então os dois morreram quando eu cravei o punhal no corpo.
- Vamos Tai, acabou - As mãos da loira envolveram meus braços descobertos.
- Vão indo na frente, já vou - falei, tão baixo que somente ela escutou bem.
- Ainda tenho meus pais, só não sei como contarei isso a eles - A voz de Tamar saiu igual chumbo batendo em pedra.
- Primeiro vamos cuidar de você - A conduziu para onde o carro estava estacionado.
- Estamos te esperando - disse Maria, abraçando o próprio moletom que não a protegia do frio muito bem. Assenti.
- Se você tivesse me pedido para te entender, eu poderia tentar... - O vento frio cortou minha voz.
- Eu amei você, não o outro, amei você Basemon, com tudo que fez, não consigo deixar de te amar, de pensar em como teria sido diferente se tivesse dito desde o início... A mentira doeu mais do que a verdade - Me ajoelhei, contemplando o cadáver gélido ali.
Puxei o galão contendo álcool próximo a nós e joguei um pouco sobre o cadáver, acendi um fósforo e me afastei.
Nós.
Essa palavra já não existia mais.
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Somos feitos de sangue e mentiras [Finalizada]
De TodoTaissa é uma estudante de astronomia que por obséquio do destino acabou se afastando de seu amigo. Quando as aulas voltaram na universidade em que estudam, os dois retomam convivência, ela acaba notando estranhos comportamentos do ex-amigo, sem imag...