03. Cheguei, mamãe.

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— Não entendo como você faz todo mundo te amar mesmo sendo tão insuportável! O porteiro acabou de te dar um regador porque a esposa dele lembrou de você e uma criança ficou feliz só porque te viu! Isso é demais para mim. — Ele gesticulava enquanto eu colocava o número cinco no elevador, indicando o quinto andar do nosso prédio. — Por que ninguém me adora assim?

Em nosso condomínio, havia quatro fileiras de prédios, cada fileira com três prédios de oito andares que eram divididos por blocos em que uma placa em frente ao prédio indicava o número do bloco. Cada prédio tinha um total de quatro apartamentos por andar e eram apartamentos grandes e muito espaçosos. Eu e Yuri morávamos na segunda fileira de prédios da esquerda para a direita. O número do nosso bloco era cinco e o meu apartamento era o 517, enquanto o do Yuri era o 518, ficando ao lado do meu.

— Acontece que essa sua cara de sapo cururu não ajuda. — Ele me empurrou com o ombro, me fazendo rir.

— Você não sabe apreciar uma verdadeira beleza, Isabella. — Ele balançou os seus cabelos, ajeitando eles no espelho do elevador.

— Claro que sei, aprecio a minha todos os dias. — Joguei os meus longos cabelos em sua cara e comecei a andar no exato momento em que o elevador abriu.

— Nos vemos mais tarde? — Ele perguntou, tirando suas chaves do bolso para abrir a porta. — Vamos fazer algo já que amanhã você vai para o seu pai.

— Vamos sim, daqui a pouco te chamo. — Ele concordou e adentrou o apartamento.

Eu coloquei as chaves na porta e antes mesmo de abrir, escutei altas risadas de dentro do apartamento.

— O chefe ficou tão irritado por conta dos relatórios que ele mesmo molhou menina! E adivinha só? Eu precisei refaze-los! — Eu sorri ao ver que quem estava rindo daquele jeito exagerado era minha mãe e a mãe de Yuri. — Mas eu fiquei tão irritada e pensei em duzentas maneiras de xinga-lo. Mas adivinha o que fiz? Comecei a orar a Deus e pedir misericórdia pela minha vida para não perder o emprego. — Minha mãe terminou a sua história, fazendo Leyla gargalhar.

— Cheguei, mamãe. — Passei pela porta e tirei o meu sapato, o tomando pela mão. Depositei um rápido beijo na bochecha de minha mãe e fui cumprimentar a mulher ao lado. — Oi, tia Leyla. — A abracei, sentindo que no mesmo instante, ela retribuiu o abraço com um sorriso.

— Cadê Yuri, minha filha? Não veio com você? — A mulher com o cabelo no mesmo tom de mel que o de Yuri, me questionou.

— Ele foi para casa. Acredito que não sabia que estava aqui. — Ela concordou com a cabeça.

Eu fui em direção ao meu quarto que ficava no corredor que dividia a sala da cozinha metade área. Havia três portas nesse corredor. Duas levavam aos dois quartos, meu e de minha mãe, e a outra porta levava ao banheiro. Seguindo o corredor, havia uma cozinha um pouco menor que a sala com um espaço para a área bem no canto. Nossos móveis eram todos em cores neutras pois minha mãe era fissurada nessas cores. Tudo em branco, marrom quase bege e um cinza cimento. O piso do apartamento inteiro era de um porcelanato polido e esmaltado, as paredes em um tom claro de cinza e alguns quadros estavam pendurados da sala até o corredor.

Eu entrei em meu quarto e liguei a luz, notando o quanto estava organizado. Logo abri a janela para que o ar puro entrasse no ambiente juntamente com a luz natural. Parei por alguns segundo na janela, analisando o lugar ao notar uma movimentação no apartamento da frente.

Era estranho ver uma movimentação no apartamento da frente já que ele estava sendo vendido a quase dois anos, e ninguém nunca comprou. Pelo menos até agora.

Eu não diria que o condomínio era um lugar ruim de morar, pois não era. Ficava em uma rua movimentada, perto dos mercados e algumas lojas. Era um condomínio com piscina, uma academia, um salão de festa com churrasqueira, uma quadra e até uma aérea para os cachorros. Eu diria que era um ótimo condomínio.

E por conta disso, os preços dos apartamentos eram altíssimos. As contas de água, luz e a própria conta do condomínio extrapolava o nível do normal as vezes. E talvez seja por isso que o apartamento só foi comprado agora.

Prendi o meu cabelo com uma pregadeira e o coloquei dentro da toca de banho. Peguei um vestido branco completamente florido com pequenas flores rosinhas, que batia até os joelhos. O vestido era de alça e sua saia rodada.

Fui em direção a área e peguei uma toalha no varal. Corri para o banheiro, ansiosa para tomar um longo banho.

(...)

Quando saí depois de uns vinte minutos, já estava arrumada e pronta para contar a Yuri sobre os nossos novos possíveis vizinhos. Deveríamos recebe-los com alegria para que se sinta bem no condomínio. Soltei o meu cabelo, o prendendo dessa vez em um rabo de cavalo, deixando apenas dois cachos caírem sobre o rosto. Adoraria deixá-lo solto, mas o calor do lado de fora não me permitia.

Passei pela sala vendo que as duas amigas ainda conversavam sem parar sobre alguma coisa que eu não consegui entender, abri a porta e notei que Yuri estava parado com a mão estendida, pronto para bater na porta.

— Estava indo agora falar com você. Tenho uma coisa pra te contar — Declarei.

— Eu também tenho. Mas antes, você sabe se minha mãe está por aí? Essa mulher nunca para em casa! — Eu ri de seu comentário e saí da frente da porta, o permitindo entrar. — Ah, a bonita está aí!

— Olá, meu filho! Que bom que chegou bem! — Ela sorriu para ele, que revirou os olhos com um sorriso nos lábios.

— As senhoras não têm vergonha de ficar fofocando o dia inteiro ao invés de trabalhar? — Ele levou a mão na cintura.

— Acontece, meu lindo, que nós senhoras estamos de folga hoje. Merecemos um dia de fofoca e papos furados. — Minha mãe respondeu no mesmo tom irônico que ele.

— Fofoca não é de Deus, tia Ingrid! — Ele foi em direção as duas mulheres e depositou um beijo na cabeça de ambas.

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