16. Me diz o que quer e eu farei.

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Quando o intervalo chegou, eu juntei as minhas coisas para finalmente dar a pausa nas aulas. Estava feliz. Por mais que Thomas tenha feito de tudo para tirar minha atenção das aulas e se vingar de ter perdido, eu consegui absorver muito conteúdo.

Coloquei a mochila nas costas e estava prestes a sair quando puxaram o meu braço, me fazendo voltar.

— Eu posso falar com você? — O menino me encarou com uma expressão neutra, ainda segurando minha mão.

— Eu vou para o intervalo, licença. — Puxei a minha mão e me retirei da sala, sem olhar para Thomas.

Eu não aguentava mais as perturbações desse menino. Se ele não aceita perder, não deveria ter competido. Mas infelizmente é um metidinho esnobe que acha que é bom em tudo.

Entrei no refeitório em busca de Yuri, mas avistei ele sentado em uma mesa com Mel e alguns amigos dela. Eles pareciam estar se divertindo, então fui para uma outra mesa e me sentei sozinha. Não iria atrapalhar e ele estava feliz.

Por mais que eu não tenha conseguido falar com ele ainda.

Coloquei o meu lanche sobre a mesa e sorri, contemplando o pedaço de bolo que peguei da cozinha pela manhã. O bolo que meu pai fazia como ninguém.

Levei um pedaço do bolo na boca e bufei ao ver que Thomas se aproximava da minha mesa. Ele se sentou ao meu lado e eu me senti irritada.

Nem comer em paz eu podia.

— Por que está me seguindo? O que quer, caramba? — Coloquei a colher do bolo no prato e o encarei, brava por ter que falar com ele de novo.

— "Caramba" é o mais próximo que você chegou de um palavrão? — Ele arqueou uma das sobrancelhas.

— Será que você pode dizer o que quer e ir embora? — O menino estendeu o seu dedo e limpou o canto da minha boca. Vi em seu dedo a calda de chocolate do bolo, que logo depois, ele limpou em um guardanapo. Aquilo me fez prender a respiração por alguns minutos, sem entender o que estava acontecendo.

— Quero que me responda. — Ele ainda tinha o guardanapo em mãos, me encarando com aqueles olhos intensos. — Quer ou não, ser minha namorada?

— Por que eu iria querer isso? — O olhei, tentando controlar a minha raiva. — Não! Eu não quero ser sua namorada! Que ideia! — Bufei, levando mais um pedaço do bolo até a boca.

— Por que alguém não iria querer namorar comigo? — Ele estreitou os olhos, parecendo incrédulo.

— Por que está persistindo tanto nisso? Você nem ao menos me conhece, Thomas! Se aproxima assim de repente, me pedindo para ser sua namorada. Que coisa! — Debati com o menino, vendo seu olhar mudar para um mais sério.

— É que... — Ele coçou a parte de trás da cabeça, ajeitando um pouco os cabelos. Parecia se render. Então, como se a ideia de eu não aceitar o irritasse, ele bufou e começou a dizer. — Eu preciso da sua ajuda, tá legal? Não é como se eu quisesse namorar com você. — Seu olhar desviou do meu, pela primeira vez em que conversamos, ele desviou o seu olhar.

— Como? — Aquela pergunta revelava a surpresa em minha voz. — Por que é que precisa da minha ajuda? E que ajuda absurda é essa? Isso não é ajudar alguém!

— Você não é a boazinha? Deveria ajudar alguém sem ficar perguntando muito! — Discutiu. — Por que não quer aceitar? Por acaso tem algum namorado? — Eu recusei de maneira rápida com a cabeça.

— Por que você acha que eu deveria aceitar isso? Não é porque não tenho um namorado que vou aceitar qualquer pedido que me fizerem! A gente nem se conhece! Você surgiu nessa escola tem sei lá, quatro dias contando com hoje? — Fiz uma careta, tentando passar o quão absurdo era aquilo.

— Eu estou te oferecendo fama, dinheiro e reconhecimento, sério que não quer aceitar? Imagina só a escola sabendo que é minha namorada! — Ele parecia indignado por eu não aceitar aquilo.

— Você acha que eu me importo? — Ficou ainda mais surpreso. — Vai precisar de bem mais do que isso para me convencer. — Terminei de comer o bolo e passei um guardanapo na boca.

— Então vai. — Ele se aproximou mais de mim. — Me diz o que quer e eu farei.

— Isso é ridículo... — Bufei. Olhei mais uma vez para o menino que estava próximo o suficiente para abraçar o meu corpo. Ele carregava um olhar diferente, parecia preocupado porque se eu não aceitasse, aquilo prejudicaria ele de alguma forma. — Tudo bem... — Respirei fundo, não acreditando no que eu diria depois. — Por que precisa tanto da minha ajuda? Primeiro me diz e quem sabe eu penso. — Ele parece pensar se era uma boa ideia dizer, até que se rende e suspira, começando a falar.

— Estou em uma nova empresa. — Começou. — E de acordo com os meus assessores e a minha agência, eu preciso mudar algumas coisas para me encaixar na imagem da empresa do meu tio. — Eu o encarei, ainda não entendendo o que ele queria dizer.

— E o que eu tenho a ver com isso? — Ele revirou os olhos.

— Eles me disseram que eu preciso de mais... — Ele virou para o outro lado, desviando o olhar pela segunda vez no dia. — de mais... Carisma. — Comecei a entender o que ele queria dizer e ele continuou. — Estou sendo bem criticado por ser fechado. Alguns me julgam como arrogante, egocêntrico e insolente. Então preciso manter a minha imagem caso queira continuar nesse ramo. E bom, acredito que possa me ajudar já que sei da sua fama de alegria do divertidamente. — Eu o encarei com os olhos cerrados. — E um namoro poderia ser um assunto do momento, sabe? Para as pessoas verem o quanto estou mudando através de um relacionamento, talvez...

O encarei por alguns segundos, vendo o quanto ele estava sendo sincero e o desespero nítido em seu olhar. Ele realmente parecia querer mudar, pois o medo de perder a sua carreira parecia pior do que sorrir e ser gentil com as pessoas.

Pensei no que estava me metendo e o quanto teria que mentir caso resolvesse entrar na brincadeirinha de Thomas. O que diria aos meus pais caso saísse em várias páginas de fofoca que estávamos namorando? Eu teria que mentir até mesmo para os meus pais?

Mas não conseguia simplesmente não ajudá-lo.

— Tá bom. — Por mais que os meus lábios tenham aceitado, a minha cabeça dizia que era uma péssima ideia. — Mas com duas condições... — Ele parecia muito interessado em saber quais eram as condições. — Você vai me pedir desculpas por tudo que fez até agora, desculpas sinceras. Essa é sua primeira lição de gentileza e empatia. E a segunda condição é que vai me ajudar a cuidar dos girassóis. Sua segunda lição para bondade e zelo. O que me diz? — Ele nega com a cabeça, certo daquilo.

— Por que eu pediria desculpas? Não fiz nada de errado. Você é boba em pensar que eu faria isso. E detesto flores, me traz alergia. — Ele deu de ombros.

— Então, tá. Nada feito. — Me levantei da mesa depois de juntar as minhas coisas e fui embora. O deixando lá sozinho.

O Fio Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora