23. Será que posso ajudar?

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Depois de um longo banho e de finalizar o meu cabelo que parecia um ninho de passarinhos, eu me sentei em frente a minha janela, na escrivaninha. Por mais que odiasse matemática, se eu não colocasse toda aquela matéria em dia e anotasse tudo que Thomas me explicou, certamente esqueceria e teria que voltar para a estaca zero.

Ao fechar o livro e ver que se passaram duas horas desde que me sentei, sentia minha cabeça rodando de tanta informação.

Tentei não culpar seja lá quem fosse que descobriu a trigonometria, mas era quase impossível. O jeito era me conformar que não nasci para aquilo.

Me levantei, apoiando os braços na janela na tentativa de espairecer um pouco a cabeça, Até que eu reparei em uma silhueta alta, usando um boné e roupas da cor preta. Parecia uma formiga no meio das flores.

Thomas regava as flores com um regador preto sem graça, mas parecia fazer do jeito certo dessa vez.

Tirei uma foto e enviei para ele com a legenda "o que é um ponto preto no meio do jardim da Isa? Ah, é a formiguinha Thomas!"

O observei por mais alguns minutos e percebi que ele tocou o bolso e pegou seu celular. O encarou por alguns segundos e depois o percebi se virar para o meu prédio, procurando por algo. Ou melhor, procurando por mim.

Fechei a janela antes que pudesse calcular qual seria o número do meu apartamento. Ele era bom com contas, então não demoraria muito.

Fui em direção ao meu armário e tirei um de meus vestidos floridos. Dessa vez, ele tinha um tom azul e caía sobre os ombros. Sua manga chegava até o cotovelo e sua saia era rodada. Prendi o meu cabelo em duas tranças embutidas e passei um enfeite com várias flores por elas, deixando as tranças enfeitadas com pequenas flores brancas. Calcei um tênis branco e coloquei alguns acessórios.

Enviei uma mensagem para a minha mãe dizendo que estava saindo para que não se preocupasse. Peguei minhas chaves, meu celular e um creme para as mãos. Tranquei a porta do apartamento e usei o elevador, correndo até às flores assim que cheguei ao primeiro andar.

Thomas ainda estava lá, sentado enquanto olhava para o seu celular com o regador ao seu lado. Me aproximei dele e abri um sorriso, vendo que ergueu sua cabeça rapidamente e me encarou por longos segundos. Ele parecia analisar calmamente a minha roupa e o meu cabelo.

Está bonita. — O ouvi sussurrar para si mesmo e quase não acreditei ao ouvir aquilo. Ele realmente me elogiou? — É... Quer dizer... Por que está com esse vestido horrível de florzinha mais uma vez? Estamos indo para uma sessão de fotos, não para uma festinha de criança. Está cheia de cor. — Ele se levantou em um movimento rápido, escondendo o seu rosto com o boné. Parecia envergonhado por alguma razão.

Eu bufei ao ver que provavelmente escutei errado e que na verdade ele devia estar reclamando de mais alguma coisa que notou na minha roupa. Puxei uma de suas mãos e passei o creme em sua palma, vendo o quanto ficou confuso ao me ver fazer aquilo.

— Sua mão é muito seca, devia hidratá-la. — O fiz esfregar as mãos. — Toma, fica com o creme. — Coloquei o creme em um de seus bolsos e o puxei para caminhar até a portaria. — Oi de novo, Silvio! — O homem sorri e abre o portão.

— Olá, Silvio. — O menino diz seguido de um curto movimento com a cabeça, fazendo Silvio sorrir para ele também.

(...)

— Eu me recuso a subir na sua moto. — Cruzei os meus braços ouvindo Thomas reclamar pela vigésima vez, insistindo para que eu subisse em sua moto. — Isso é perigoso! Não vou subir!

— Será que você pode colaborar e subir? Vamos nos atrasar se continuar com essa sua birra! — Ele estendeu mais uma vez o capacete, praticamente me implorando para subir. — Sobe, Isabella.

— Não vou subir! Não consigo, tá bem? Tenho medo. — Eu desviei o meu olhar, me sentindo meio insegura de declarar um medo para ele. Ele parecia o tipo de pessoa que debochava quando alguém dizia ter medo de algo.

— Olha... — Ele parou por alguns instantes e depois desceu da moto com a cara mais emburrada que eu já vi. Parecia muito irritado por eu não querer subir. Pegou o seu celular e digitou algumas coisas, sem me encarar.

— Me desculpa. — Tentei me reconciliar por me sentir culpada de estar atrasando a sua sessão de fotos.

— Você tem medo, não é? Não tem porquê se desculpar. — Ele levou o celular a orelha. — Vou pedir um Uber e vamos chegar no horário.

Assim que chegamos na grande empresa em que minha mãe trabalhava no setor de administração juntamente com a tia Leyla, fiquei me perguntando se esbarraria sem querer com as mulheres. Imagina ter que explicar que estava ali com o namorado que ainda nem havia apresentado para a minha mãe.

Não sei nem o que ela faria.

Thomas foi carregado para ser maquiado e vestido. Ele ainda exibia o seu semblante entendiado, fazendo com que muitos ao redor o olhassem com uma cara de nojo.

O lugar era uma verdadeira bagunça. Mas não uma bagunça pela falta de limpeza ou desorganização. Era uma confusão de pessoas para tudo quando é lado. Luzes, câmeras e roupas enchiam o ambiente. Modelos corriam de um lado para o outro no intervalo de suas fotos. Era uma bagunça organizada.

Thomas se posicionou em frente a câmera, fazendo um joinha para o fotógrafo que era muito simpático. O homem me ofereceu até balinhas.

— Vamos lá, Thomas. Me mostra como trabalhou nesse seu belo sorriso. Quero ver seus dentes brancos. — O homem com uma boina branca o incentivou.

Percebi Thomas ficar com um certo receio, até desviou os seus olhos e pensou um pouco antes de bufar e abrir um sorriso tão monstruoso que eu tenho certeza que se não o conhecesse, diria que sequestra criancinhas para fazer sopa.

O fotógrafo cruzou os braços, pensando no que faria para resolver aquela situação desesperadora.

De repente, uma ideia surgiu em minha mente e eu corri para tocar o seu ombro. O homem se virou para mim com as sobrancelhas arqueadas, provavelmente se perguntando porque eu atrapalhava.

— Será que posso ajudar? — Perguntei, com um sorriso gentil.

— Mas é claro, querida! Tem alguma ideia brilhante para fazermos ele parecer menos com o palhaço do It? — Eu segurei a risada, vendo que Thomas nos encarava com desconfiança.

— Tenho sim. — Fui na direção do menino e parei em sua frente, notando que ele se afastou um pouco ao ver o quanto eu estava perto. — Você tem o pior sorriso que eu já vi nesse mundo. — Eu sorri. Ele revirou os olhos e cruzou os braços.

— Não era você que dizia que não dá para ser bom em tudo? Pois bem. — Thomas parecia um pouco constrangido ao dizer aquilo.

— Sabe o que eu acho? Que você devia ser um bebê bem sério e rabugento. O médico que te tirou da barriga deve ter ficado intimidado. — Fiz uma careta. — Mas a sua sorte é que estou aqui e posso te fazer sorrir, que tal?

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