25. Tchau, Bella.

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— Sabe, eu acho que aquela modelo bonita não foi muito com a minha cara. — Estávamos dentro do Uber, chegando no condomínio.

— É só ignorá-la. — Ele disse aquilo da forma mais seca possível, dando a entender que os seres à sua volta, quando não atingiam as suas expectativas, podiam ser descartados a qualquer momento.

— Não é porque alguém me tratou de uma forma ruim que eu deveria fazer o mesmo. Não temos que mostrar o quanto somos diferentes com as nossas atitudes? — Eu arqueei uma das sobrancelhas, o questionando.

— Você e esses seus pensamentos inocentes. — Bufou, um pouco irritado.

— Você devia ser mais gentil. Ela parece gostar de você. — Eu dei de ombros, o vendo revirar os olhos.

— Ela é incoveniente, insistente e tediosa. — Ele declarou, erguendo um dedo a cada defeito citado. — Mas vamos parar de falar sobre isso. Não aguento essas suas reclamações.

— Mas eu nunca reclamo! Apenas comento sobre suas atitudes ruins. Não era para isso que precisava de mim? — Cruzei os braços, formando um bico nos lábios.

— Chegamos. — Falou assim que o carro parou em frente ao nosso condomínio. — Graças a Deus.

— Eu é quem deveria dizer isso! — Declarei.

Caminhamos em direção ao meu bloco. Ele fez questão de ir comigo pois segundo ele, se alguém nos visse seria muito bom para espalhar esse nosso relacionamento. Conversamos mais sobre os planos de amanhã e decidimos que ele só anunciaria publicamente depois que os nossos pais estivessem cientes de tudo. Principalmente os meus.

Odiaria que minha mãe soubesse sobre aquela história por uma página de fofocas.

Eu parei em frente ao bloco e sorri para ele. Não sabíamos muito bem como nos despedir, então ficamos longos minutos nos encarando, buscando algo para dizer.

— É... Foi divertido. — Falei, na tentativa de puxar um assunto.

— Foi sim. — Ele coçou a garganta, enfiando suas mãos no bolso. Parecia tão constrangido como eu. Namorados que não possuem intimidade alguma, que ótimo. — Até amanhã, Isabella. — Ele me olhou confuso ao ver que eu franzi o rosto. — O que foi?

— Podíamos nos chamar por apelidos, certo? As pessoas acreditariam mais se me chamasse de Isa, por exemplo. — Tentei convencê-lo.

— Por que se incomoda com isso? Tenho certeza que ninguém irá perceber se te chamo de uma coisa ou de outra. — Ele parecia disposto a brigar mais uma vez por algo mínimo.

— Você parece irritado toda vez que diz meu nome. Minha mãe me chama de Isabella quando algo está errado! — Debati, disposta a brigar também.

— Deve ser porque você me irrita sempre! Por isso que toda vez pareço irritado! — Cerrou os olhos, me desafiando.

— Como consegue ser tão... Insuportável assim? — Ele me olhou surpreso, como se não acreditasse que um ser tão puro como eu o chamou desse jeito. — Eu vou para o apartamento, tudo bem? Se passar mais um minutos do seu lado eu acho que perco toda a minha bondade. — Eu me virei para ir até o elevador.

— Tchau, Bella. — Escutei a sua voz dizer e no mesmo instante, parei. Não acreditando no que ele disse. — É melhor do que Isa. Pelo menos eu acho.

Todos ao meu redor sempre me chamaram de Isa. Era como um apelido universal. E ouvir me chamar por um apelido único depois de negar com todas as forças ser mais gentil, era fofo.

— Satisfeita? — Me virei para ele e sorri, mostrando o quanto estava satisfeita. — Pensa em um para mim, porque o seu vai ser Bella.

(...)

Passei o resto da noite conversando com a minha mãe, Tia Leyla e Yuri. Minha mãe me fez perguntas sobre onde eu estava, com quem eu estava e precisei até mesmo da ajuda de Yuri para encobrir minha mentira.

Não conseguia achar o momento perfeito para contar a ela que estava namorando um menino que conheci em menos de uma semana.

Estava começando a me questionar se contar a verdade era o ideal. Mas logo me lembrei de que prometi a Thomas de que não contaria a ninguém além das duas exceções no contrato: Yuri e Mel. E quanto mais sabem sobre algo, mais espalham e a verdade vem a tona.

Precisava esconder aquilo o máximo que eu puder. Eu só espero que isso não mude a forma como minha mãe me vê.

Fora que ainda precisava dizer ao meu querido pai. Graças a Deus eu só teria que me preocupar com isso na próxima semana.

— Que modelo bonita, menina! — Tia Leyla comentou enquanto comiamos juntos na mesa. Ela e minha mãe inventaram de fazer uma torta de frango que ficou boa, mas tenho certeza que não supera a do meu pai.

Mas se eu ainda quisesse morar no mesmo teto que a minha mãe, nunca admitiria isso.

— Ela é. Até agora não tive a oportunidade de vê-la aqui no condomínio. Mas a beleza dela... — Minha mãe comentou enquanto comia um pedaço da torta.

— Essa mulher é por acaso a mãe do Thomas? — Yuri sussurrou e só aí eu percebi que talvez era. Como não pensei nisso antes? Minha mãe comentou assim que eles se mudaram que era uma modelo que trabalharia em sua empresa. E se só tínhamos recebido eles como vizinhos da frente, a mãe de Thomas também era uma modelo!

— Por que eu não pensei nisso antes? — Sussurrei de volta.

— Ela é uma pessoa gentil? — Yuri perguntou com uma certa curiosidade.

— Ela é muito gentil. Parecia um pouco fechada no início quando eu fui entregar a sua papelada e a do seu filho, mas logo puxamos um assunto e ela se abriu mais. — Tia Leyla declarou.

— Eu descobri que ela engravidou cedo! — Minha mãe disse de repente, me fazendo prestar atenção. — E isso fica claro quando vi na ficha que ela tinha apenas trinta e quatro anos, enquanto o seu filho fez dezoito no mês passado!  — Eu arregalei meus olhos ao ver o quanto aquela mulher é fofoqueira.

— Deve ter sido bem difícil para ela trabalhar com um filho. — A mãe de Yuri acrescentou.

— Nada é difícil para os ricos, amiga. Provavelmente o seu irmão arrumou um jeito de colocá-la nas empresas do exterior. Para abafar o caso e fazê-la crescer profissionalmente. — Aquilo fazia sentido. Mas então, por que razão eles voltaram depois de tanto tempo? E por que em toda essa história eu não escutei um possível pai de Thomas?

Será que ele não tinha um? E talvez isso explique o seu jeito grotesco de ver a vida? Mas certamente perder alguém não te dar direito de tratar as pessoas como ele trata.

Bom, tinha muita coisa ainda que eu precisava saber.

O Fio Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora