02. Tão bonita...

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— Você pode escolher entre tirar mais uma foto dela e guardar na sua pasta na galeria com o nome "melzinha" e irmos para casa, ou você pode ficar aí a encarando o dia inteiro. — Sugeri para o menino que revirou os olhos no mesmo momento.

— Não preciso tirar fotos dela. — Ele colocou sua mochila nas costas e saiu andando em minha frente, sem se preocupar em me deixar para trás.

— Já tem muitas, né? — Continuei zombando do garoto, vendo ele estender o seu dedo do meio enquanto ainda andava. — Eu vou contar para a sua mãe!

Caminhamos em direção ao ponto de ônibus enquanto víamos uma multidão saindo pelas portas do colégio com Melissa comandando aquele povo todo. Ela entrou em seu carro luxuoso que eu podia jurar ser uma BMW série 3 da cor preta, e acenou para todos eles com o seu mesmo sorriso meigo.

— Tão bonita... — Yuri soltou sem querer. E eu percebi isso pelo fato de ter levado a mão a boca, arrependido. Comecei a gargalhar no mesmo instante. — Não sei do que você tanto ri! Não tenho culpa de você ser uma bocó que nunca se apaixona por ninguém e não sabe o que é o amor!

— Olha só, agora você tá me ofendendo! — Levei a mão ao peito, chocada com as suas palavras. — Não é porque eu nunca me apaixonei que não sei o que é o amor. Sou formada em livros e filmes de romance. — Dessa vez, foi o menino quem começou a gargalhar.

— Fala sério! — Notamos o ônibus se aproximando e ele esticou a mão, fazendo sinal. — Então vai lá beijar seus personagens fictícios.

— Estou falando seríssimo! Tenho mais experiência que você meu querido, que ao invés de falar com a garota, fica olhando para ela como um psicopata. — Dei de ombros, passando na frente dele assim que o ônibus parou. — E eu beijaria meus personagens fictícios se eles fossem de carne e osso!

— Cala boca sua tampinha tagarela. — Ele me empurrou para o lado tentando passar na minha frente no ônibus, mas puxei sua mochila tão forte que o fez cambalear para trás. Subi o primeiro degrau do veículo, porém, o garoto me agarrou pela cintura e me puxou para trás.

— Me solta, Yuri! — Me debati contra os seus braços e percebemos o ônibus fechar as portas e prosseguir com o seu caminho. — Ah não! — Corremos em sua direção, mas parecia que o motorista acelerava ainda mais.

— Tá vendo! Você assustou o motorista com essa sua cara feia! — Ele bufou, respirando meio ofegante.

— Tenho certeza que foi essa sua cara de sapo cururu. — O acusei, vendo uma careta surgir em seu rosto.

— Eu acho que foi essa sua juba de leão. — Ele balançou o meu cabelo, correndo ao ver que eu me irritei.

Não se pode mexer nos cachos de uma garota.

(...)

Resolvemos ir caminhando para casa pois os quinze minutos que ficaríamos esperando o ônibus, chegaríamos em casa ao ir caminhando.

— Essa semana você vai para o seu pai, não é? — O garoto dos cabelos de mel me perguntou quando viramos a esquina do condomínio.

— Sim, essa semana é dele. — Sorri, me lembrando que provavelmente iríamos no hospital visitar a minha vó. Vovó estava sofrendo com insuficiência cardíaca congestiva, o que nos deixava extremamente preocupados com ela. Toda vez que a semana era do meu pai, eu pedia para visita-la.

Vovó era simplesmente um ser humano incrível. Tão amável e gentil com as pessoas, que fazia amigos por onde quer que passava. Quando eu era mais nova, ela me contava as histórias mais lindas de romance e eu sabia que na maioria das vezes, ela contava as histórias que teve com o meu falecido avô. Eu sabia que sentia muita falta dele.

Tinha a certeza de que se a lenda do fio vermelho fosse real, suas almas foram ligadas e destinadas a se encontrarem.

— E sua avó? Como está? — Yuri adorava a minha vó, não tinha como não gostar dela. Ele adorava ela principalmente pelo fato de que a senhora sempre elevava a autoestima dele com comentários do tipo: "como você está forte, meu filho", "está ficando um rapaz bonito" ou pior, "sua namorada terá muita sorte".

— Ela ainda não teve nenhuma melhora, mas acreditamos que uma hora ela vai ficar bem. — Abri um sorriso, parando em frente ao nosso condomínio. Coloquei o rosto no painel e o portão se abriu.

— Galerinha. — O porteiro Silvio, esticou a mão para que a gente batesse.

— Fala, Silvio! — Yuri falou, apoiando na janela para falar com o homem. — Que calor é esse, colega.

— Demais, irmão. Vou tomar aquele banho de uma hora quando chegar em casa. — O porteiro comentou.

— Nem fala, filho. Vou me afogar no chuveiro assim que cruzar as portas de casa. — Silvio concordou com a cabeça e me encarou.

— Isa! Tenho uma coisa para você. — Eu abri um sorriso no mesmo instante em que ele disse. — Minha esposa ficou muito feliz quando eu disse que você cuidava das plantas do jardim do condomínio, principalmente dos girassóis. — Ele buscava alguma coisa dentro da sua cabine enquanto falava. — Aí esses dias, ela foi comprar algumas coisas para o nosso bebezinho e passou em frente à uma loja de plantas. — Ele ergueu um regador em um tom claro de verde água repleto de pequenas flores brancas e o estendeu para mim com um sorriso. — Ela disse que achou a sua cara.

— Meu Deus! Que lindo, Silvio! — Eu peguei o objeto de suas mãos e o analisei com carinho. — Eu adorei! Diz a ela que agradeço muito por ter pensado em mim.

— Pode deixar que eu digo. — Ele apoiou os braços na janela da cabine, nos encarando.

— E o bebê? Como está? — Perguntei.

— Pulando muito na barrigada dela. — Aquilo me fez rir.

— Ela ainda anda tendo muitas contrações? — Apoiei o regador debaixo do braço e cruzei as pernas, me apoiando nas grades da portaria de um jeito relaxado.

— Muitas! Mas é normal pois está no final da gravidez. Chegamos a um total acordo de que na próxima semana ela já vai para a maternidade. — Eu concordei com a cabeça, feliz pelo bebê.

— Oi, Silvio! — Nesse momento, nossa vizinha do apartamento de frente ao Yuri passou por nós com sua filha. — Olá, Isa e Yuri!

— Tia Isa! — Laurinha, a filha da minha vizinha Rayane, pulou em meus braços com um sorriso amável no rosto. Ela era tão fofa com aquele sorrisinho banguelo, os olhinhos de anjo e suas perninhas miúdas.

— Oi, minha Linda! — A deixei me abraçar vendo a cara de tédio que Yuri fez.

O Fio Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora