18. Até o fim do ano?

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Eu estava dentro do carro às sete da manhã, voltando para a casa da minha mãe. Ela me disse que esse sábado não trabalharia, então acreditei que estaria em casa quando eu chegasse.

— Não vai subir? — Perguntei, assim que meu pai parou o carro em frente ao meu bloco.

— Acho melhor não. — Abriu um sorriso fraco, como se aquilo fosse uma péssima ideia.

— Eu acho que você deveria. Seria bom tomar um café da manhã, não? Creio que não tem nada para fazer além de ficar enfurnado naquele seu escritório corrigindo trabalhos de alunos. — Ele ficou meio surpreso ao me ouvir dizer aquilo.

— Tudo bem, Isa. Eu subo. Mas não precisa ficar humilhando a minha vida adulta. — Eu fechei a porta do carro, dando uma leve risada. Observei enquanto o homem estacionava o automóvel e o aguardei até subir comigo.

Quando subimos, eu abri a porta de casa e entrei, sentindo um cheirinho de café sendo preparado.

Fui até a cozinha na ponta dos pés, tomando cuidado para que ela não me visse. Encostei em seu ombro delicadamente, causando-lhe um susto tão grande que ela derrubou o seu pão com a manteiga virada para baixo.

Meu pai começou a rir enquanto minha mãe tentava recuperar o fôlego.

— Você tá doida, Isa? — Ela apoiou a mão na pia da cozinha, ainda com as mãos sobre o peito. — Quase me matou do coração!

— Desculpa, mãe. Não resisti a tentação. — Abracei a mulher de lado, dando alguns beijinhos pelo seu rosto.

Nos sentamos ao redor da mesa pela primeira vez em muito tempo. Nem me lembro qual foi a última vez que tomei um café da manhã com os meus pais juntos. Normalmente era apenas com um dos dois.

Eles conversaram até que bastante tempo. Falaram sobre seus trabalhos, sobre a inflação, sobre o fato das minhas notas não subirem em matemática, sobre a minha vida amorosa e eu me engasguei pois minha atual situação estava me impedindo de falar sobre relacionamentos.

Depois de algumas horas, meu pai se despediu de nós e eu disse para que fosse visitar a vovó e me ligasse. Já estava com saudades dela e tenho certeza que se fosse para contar o que estava prestes a acontecer na minha vida a alguém, eu contaria a ela.

Não sei se aquilo a deixaria feliz por finalmente arrumar um namorado, ou a deixaria preocupada por ter chego na situação de precisar de um contrato para isso.

(...)

Conforme a tarde foi chegando, eu sabia que precisaria encontrar com Thomas e finalmente selar o nosso acordo.

Eu ainda não tinha ideia do que estava fazendo, e espero verdadeiramente não me arrepender disso.

Troquei de roupa e coloquei um vestido simples de alça. Ele tem a cor branca e uns desenhos em vermelho em formas de listras. Deixei o meu cabelo solto e peguei o regador, feliz por estar de volta para as minhas plantas.

Uma das coisas que a casa do meu pai mais precisava eram flores. E a da minha mãe precisava de um Masterchef.

Usei o elevador para descer e caminhei até o nosso ponto de encontro, próximo aos girassóis. Cumprimentei alguns vizinhos que sorriram ao me ver, e ao longe, avistei Thomas com uma cara irritada, o nariz vermelho e um boné na cabeça.

Ele coçava o nariz sem parar, como se o ar o incomodasse. O observei por mais alguns minutos e me lembrei do que disse quando sugeri que cuidasse das flores.

"detesto flores, me traz alergia"

— Está gostando da companhia delas? — Perguntei, ao me aproximar dele. O menino fechou ainda mais a sua cara, me fazendo rir.

Ele puxa o regador das minhas mãos e se levanta, balançando o objeto de forma violenta sobre as flores. Arregalei os olhos ao ver sua falta de delicadeza.

— Não! Está fazendo errado. — Tomei o regador de suas mãos e o passei suavemente para todos os lados, vendo que caía uma quantidade razoável de água.

Percebi que ao invés de olhar para o jeito que eu molhava as flores, ele tinha os seus olhos focados em mim. Me encarava de um jeito estranho, como se tentasse ler o que se passava em minha cabeça. Era engraçado porque essa não é a primeira vez que o vejo me encarando daquela forma, se perguntando de que planeta me tiraram.

O encarei de volta, abrindo um sorriso para ele. O menino desviou os seus olhos para a minha boca por alguns minutos, ele parecia envolvido em seus pensamentos quando um espirro o fez se afastar.

Ele começou a espirrar sem parar, se afastando das plantas ao ver que ficou tempo demais ao lado das suas maiores inimigas.

(...)

Nos sentamos na área de lazer do condomínio, um pouco longe das flores. Onde Thomas certamente estaria seguro.

— Tudo bem, vamos começar pelo tempo do acordo? Preciso de você até o fim do ano. — Arregalei os olhos ao ouvir aquilo. — Depois inventamos uma desculpa que resultou no fim do relacionamento.

— Até o fim do ano? — Perguntei, surpresa demais com o tempo que teria que mentir.

— Sim. E aqui estão algumas das exigências. — Ele estendeu uma lista gigante. — Preciso que sente ao meu lado nas aulas, que vá a todas as minhas sessões de fotos, sem exceções. Que me acompanhe nas festas da empresa e de alguns dos famosos e que conheça a minha mãe. — Ele me estendeu mais um papel, que parecia sua agenda de sessões fotográficas e alguns outros compromissos que eu deveria comparecer. Como até mesmo um desfile. — E para ser justo, acho que eu deveria conhecer seus pais também. Ah, e é claro, eu vou para onde você quiser. Você também deve me contar suas exigências. — Explicou, assinando o seu nome no contrato e passando para mim. — Teremos encontros uma vez na semana, faremos o teatrinho de casal na escola e preciso postar algumas fotos com você nas minhas redes sociais, ok? Então esteja sempre arrumada pois não posso tirar fotos com você descabelada.

— Me insulta de novo e eu rasgo esse papel e dou de adubo para as minhas plantas, ouviu? — Declarei, pegando aquele papel para ler mais atentamente.

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