UM ANO DEPOIS
Pandora não queria levantar. Estava deitada na cama há um bom tempo, sem vontade alguma de voltar a dormir, e menos ainda de se mexer. Devia ser por volta de quatro da tarde, e fazia um calor escaldante na Califórnia.
Tinha rastros novos que precisava seguir, mas a vontade de deixar tudo pra lá aumentava conforme a temperatura. Estava tentada a ir pra praia e passar o resto da semana fingindo que era só mais uma pessoa comum, entre tantas outras, curtindo as férias de verão.
Mas ela não era.
Com um suspiro pesado, Pandora colocou os pés no piso de linóleo frio e saiu da cama. Abriu a janela e deixou o vento invadir seu pequeno quarto de hotel.
Sentia falta do frio da Europa. Era muito mais fácil esconder suas armas e seu cabelo marcante com as roupas pesadas e sobretudos. No calor, não podia usar o khopesh e sentia falta da praticidade da arma.
Entrou de baixo do chuveiro e se preparou para uma noite longa. Estava em Los Angeles faziam dois dias e ainda não tinha conseguido encontrar muita coisa.
Era como brincar de caça ao tesouro. Achava uma pista aqui, que levava pra outra ali, e uma outra em outro lugar... Quanto mais achava, maior era sensação de que estava longe do X.
Tudo que Pandora tinha estavam ligados as identidades que encontrara em sua mala. Elas levavam a propriedades, documentos, contas bancárias milionárias ou outros nomes e tudo se tornava uma questão de quem subornar, chantagear ou torturar.
Era ainda mais fácil, já que Pandora tecnicamente não existia. Não tinha um único sistema no planeta que contivesse sua digital, ou dados que soassem verdadeiros sobre seu passado. Isso atrapalhava a descobrir mais sobre si mesma, mas nada explicava o conforto de não precisar se preocupar em ser descoberta por algo tão banal como a polícia. Sem contar nas quantidades abusivas de dinheiro que encontrava em contas dos nomes falsos, que lhe garantia acesso ao mundo todo.
Ela teria pensado que era uma mafiosa perigosa, se já não soubesse que era muito mais que isso.
Saiu do banho e se trocou, escondendo cuidadosamente as armas no corpo. Sintas ligas seguravam uma adaga cada por baixo do vestido, e socara facas nas botas.
Tinha um nome pra caçar, e tudo indicava que iria encontrá-lo na noite da cidade.
Mas ainda queria aproveitar o resto de sol disponível para olhar a praia.
Passou pelo hall mantendo a cabeça baixa como sempre, procurando ser discreta. O cabelo era um obstáculo, claro. Mas ela não tinha pretenção alguma de modificá-lo.
Caminhou confiante até uma confeitaria aos arredores do hotel, onde fez o mesmo pedido dos dias anteriores. Assentiu ao boa tarde da vendedora e voltou seu caminho até a praia, onde se sentou e olhou pro céu, pronta para ver os espetáculos de cores do por do sol.
Ela sentia falta de conversar com alguém. A vida de fuga era vazia e genérica. As vezes, Pandora cantava no chuveiro só para lembrar como era o som da própria voz.
E então, quando as luzes ao seu redor se ascenderam, ela se levantou e respirou fundo, se preparando mentalmente para as surpresas que a noite traria.
A primeira coisa que precisava era arranjar alguém que conhecesse a cidade, e os lugares mais frequentados por jovens. Então voltou para o hotel, pronta para abordar algum funcionário.
Logo na recepção encontrou um menino conversando com a funcionária loura responsável pelo check-in. Rapidamente olhou qual era o próprio nome na identidade falsa, e arrumou o vestido. Então se aproximou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pandora
FantasyO que é ser forte? É acordar em um quarto de hotel sem saber quem é ou como chegou ali, com um único recado dizendo pra você sobreviver, e mesmo assim seguir em frente de cabeça erguida em busca de respostas? Ser caçada ao redor do mundo por seres e...