Capítulo 5

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Se não fossem pelas grandes olheiras embaixo dos olhos, Pandora pareceria tão normal como sempre. O cabelo azul escuro que era sempre brilhante agora estava opaco, o que podia facilmente ser culpa do sol forte de Porto Seguro, e ninguém saberia o quão em pânico a menina estava por dentro se assim ela quisesse.

Os sorrisos meigos e animados foram mais fachada do que nunca enquanto ela descia as escadas e sorria docemente para os seus companheiros de viagem. Ela praticamente não pregara os olhos desde que descera do avião, e sentia a fadiga bater sobre si como um peso em cima dos ombros - puxando-a pra baixo, tentando afogá-la nas próprias duvidas.

Mas na noite passada, toda vez que a menina começava a adormecer, a voz de Carla voltava a sua mente num sussurro torturante, como se recitasse a maldição de sua vida "30 anos atrás".

E tudo o que ela conseguia pensar depois disso era que há 30 anos atrás ela tinha exatamente o mesmo rosto de agora. A quanto tempo ela tinha 19 anos?

Era nesse momento que as lágrimas ameaçavam cair e ela rolava na cama, tentado desesperadamente segurá-las - ela não ia chorar.

Ela pensava que era humana. Uma humana estranha, com poderes estranhos, sendo perseguida por seres estranhos graças a um motivo desconhecido - mas humana. Mas, até onde ela sabia, nenhum humano podia viver tanto tempo permanecendo com a mesma idade física.

Quem era ela? O que era ela? O que estava fazendo ali? Por que queriam matá-la? O que ela fez de errado?

As perguntas estavam mais fortes do que nunca na cabeça dela, e ela precisava desesperadamente de respostas.

Por isso, aproveitando a noite em claro, ela se levantou cedo e ficou de plantão no saguão do hotel, torcendo pra que ainda desse tempo de por seu plano em ação. Quando Felipe saiu do elevador acompanhado de seus dois amigos, ela forçou um sorriso na cara e disse que seus planos tinham sido cancelados.

Ela nem precisou se oferecer; assim que terminou de falar o rapaz já estava perguntando se ela queria acompanha-los. Depois de dizer que sim, pediu a um funcionário do hotel se ele podia encomendar flores para ela, e preparou as suas coisas.

Não soube exatamente porque, mas pegou o khopesh. Esvaziou a mochila de couro e colocou a espada curta nela, feliz ao constatar que encaixou perfeitamente, só depois preenchendo com as coisas que realmente precisava levar ao ir a praia.

Depois colocou outro de seus vestidos rodados por cima do biquini, para poder esconder suas armas sob ele da maneira com que sempre fazia. Lamentou não poder usar as botas, porque levantaria muitas suspeitas, então guardou as pistolas nas bolsas laterais da mochila.

E assim Pandora entrou no carro de três desconhecidos para tentar conversar com um ser místico que ela duvidava seriamente que existia.

Por alguns segundos depois de bater a porta e colocar o sinto de segurança, ela questionou a própria sanidade. O normal nunca se adequara a ela, mas aquilo já era insano.

Até ela perceber que não importava. As pistas dela tinham acabado. Ela não tinha mais rastros pra seguir ou pessoas pra conversar. E o desespero por respostas estava maior do que nunca. Ela não tinha nada a perder.

Fora um tanto constrangedor para Pandora explicar as flores. Todos olharam pra ela com expressões estranhas quando ela apareceu na garagem segurando um buquê de margaridas brancas e azuis, mas ela sorriu como se não fosse nada e explicou que era uma tradição de família jogar flores ao mar. Em algum momento durante a viagem, eles pararam de lançar olhares incômodos a ela.

Felipe ia dirigindo na frente, com um deus amigos no passageiro, e Pandora e o outro rapaz atrás. A menina negara educadamente o convite de ir ao lado do motorista - não queria encher o menino de esperanças. Ela se recordava muito bem o quanto o garoto de Los Angeles a incomodara depois de achar que eles estavam em um encontro de verdade, quase atrapalhando-a a questionar Ashley. Ela não queria que o mesmo acontecesse com Felipe.

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