Era como se o tempo tivesse parado, estacionado no lugar. O ar parecia rarefeito, pesado, e ridiculamente quieto - o vento tinha cessado, como se ele também prendesse a respiração para ver o que ia acontecer.
Raul tossiu em desespero, buscando por ar, antes de se sentar. Pandora sabia perfeitamente bem como ele se sentia, ela já tinha estado naquela posição diversas vezes. Mas mesmo assim ela só conseguiu assistir enquanto Felipe se adiantava e amparava o amigo, incapaz de se mover.
A boca dela estava aberta na mesma expressão de incredulidade que se formara quando o rapaz abrira os olhos, congelada.
Ela tinha mesmo acabado de fazer o que achava que tinha feito?
Não. Tinha que ser um truque. Um mentira, uma ilusão. Ela não podia simplesmente ter trago alguém de volta a vida.
Feito com outra pessoa exatamente o que fazia com si mesma.
A menina encarou as próprias mãos, procurando por algo de diferente nelas - qualquer coisa que pudesse ser responsável pela ressurreição de alguém. Mas eram as mesmas mãos pequenas de sempre, com as mesmas cicatrizes que sempre teve.
Então ela se lembrou do sonho com o gato laranja, que teve quando estava desmaiada no carro. Não era um sonho, agora era óbvio. Foi uma memória - outra lembrança que viera pra ela num momento conveniente.
Conveniente até demais. Era como se ela soubesse que ia precisar se lembrar da sua capacidade de trazer pessoas e animais de volta a vida, e tentara lhe passar a dica. Como se sua própria mente tivesse lhe mandando um alerta.
O que raios estava acontecendo? Ela passava um ano completamente no escuro, e de repente flashes de memórias começavam a surgir. Não só isso, um deles tinha vindo exatamente mo momento em que ela precisava dele. Não era aleatório.
Tinha alguma coisa muito errada ali.
-- Você está bem? Está sentindo alguma coisa? - Felipe perguntou, exasperado.
Raul estava sentado, a cabeça entre os joelhos, respirando pesadamente.
-- Só estou um pouco tonto. - A voz dele soou abafada.
Felipe franziu o senho, surpreso.
-- Você não está sentindo dor?
Raul levantou o rosto e então encarou o próprio corpo, imundo de sangue. Mas era apenas sujeira; todos os machucados tinha desaparecido.
-- Na verdade não - ele soou surpreso - O que aconteceu?
Felipe pareceu desesperado por alguns segundos, a tristeza e a confusão visíveis em seu rosto. Deu um olhar de relance para Pandora, então encolheu os ombros e disse:
-- Você morreu.
Raul congelou, as mãos a meio caminho do rosto. Ele abaixou-as lentamente, como se tivesse medo de fazer movimentos bruscos, e fitou o amigo de volta. Esperou, provavelmente achando que Felipe ia rir e dizer que era brincadeira.
Mas o menino não disse nada, e o olhar de Raul se contorceu em uma careta.
-- O quê? - a voz dele subiu uns dois tons pela incredulidade.
Pela primeira vez, Pandora quis poder ler mentes. O olhar de Felipe era uma mistura perturbadora de felicidade e tristeza, e ela daria qualquer coisa para saber o que se passava dentro de sua cabeça.
Ele continuou lançando olhares de esguelha a ela, como se quisesse encará-la mas não conseguisse. Isso deixou a menina triste - que tipo de monstro ele acha que ela era?
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Pandora
FantasyO que é ser forte? É acordar em um quarto de hotel sem saber quem é ou como chegou ali, com um único recado dizendo pra você sobreviver, e mesmo assim seguir em frente de cabeça erguida em busca de respostas? Ser caçada ao redor do mundo por seres e...