O vento atirava os cabelos azuis dela para todos os lados, soltando-os do rabo de cavalo frouxo. Em algum momento, e Pandora não fazia ideia de qual, sua peruca preta tinha caído e revelado a cor vibrante por baixo. Provavelmente quando ela se chocara contra as portas de vidro e terminara rolando pela calçada.
Seria agradável, o ar gelado da noite refrescando seu corpo onde o tecido rosa claro do vestido colava em suas costas, se isso não fosse graças a uma perseguição policial em alta velocidade.
Pandora se mantinha abaixada, os joelhos começando a doer ao apoiar no chão irregular da caçamba da caminhonete, enquanto retirava suas armas do sobretudo preto e fazia um inventario do que tinha.
A conclusão era desanimadora – o khopesh estava lá, reluzindo com sua lâmina amarelada, assim como diversas outras adagas e facas. Mas não era disso que ela precisava no momento. Pandora queria armas de projéteis, de preferênciagrandes e de tiros rápidos, e ela só tinha cinco ao todo, dois revólveres e três pistolas – contando com a que roubara do segurança no aeroporto.
Empilhando suas caixas de munição, tinha aproximadamente umas cem balas de pistola em seis carregadores e pouco menos de cinquenta de revolver. Em qualquer outra situação, seria mais do que o suficiente – ela só esperava que nessa também fosse.
Começou a carregar as armas que tinha, se preparando para o ataque que sentia chegando – seu extinto já estava em pânico, gritando pra que ela fizesse alguma coisa, saísse do caminho e se escondesse – mas seus dedos tremiam pelo medo do que estava por vir e os solavancos do veículo em alta velocidade dificultavam a atividade.
De repente, o tranco da caminhonete foi tão forte que atirou seu corpo para o lado. A menina caiu na caçamba, batendo o joelho nas pilhas de munição que se espalharam pelo chão.
-- Ei! – ela gritou, e aproveitou sua posição estranha com as pernas elevadas pra chutar a janela traseira do carro.
As manobras arriscadas de Felipe se deviam a fuga apressada deles. Podiam ouvir as sirenes da polícia não muito longe de onde estavam, e o menino costurava entre os carros da rodovia, se enfiando em lugares que ela nunca imaginaria que o veículo caberia para acelerar e ficar o mais distante possível da policia.
Ela olhou para a bagunça de cartuchos dourados espalhados por toda a extensão da caçamba e gemeu de frustração. Ótimo. Fantástico. Era tudo o que ela precisava naquele momento.
O barulho da janelinha traseira sendo aberta encheu seus ouvidos enquanto ela se sentava, e encontrou os olhos castanhos de Vítor fitando-a com um misto de apreensão e diversão.
-- Desculpa! – a voz de Felipe soou abafada de dentro do veículo.
A menina suspirou e começou a juntar o máximo de balas que suas mãos pequenas conseguiam segurar. Depois colocou a maioria de volta em um das caixas, pegou um dos revolveres e o carregou, e então entregou a arma a Vítor.
O menino segurou a arma como se ela estivesse envenenada. Olhou-a com curiosidade e receio, claramente sem saber o que fazer. Pandora aproveitou sua distração para enfiar a parte superior do corpo dentro da cabine e tentar olhar os três rapazes nos olhos.
-- Se alguma coisa aparecer na frente desse carro – seu olhar encontrou o de Felipe no espelho dianteiro, e a menina se imaginou encolhendo no colo dele e chorando, sua verdadeira vontade naquele momento. Não ela se repreendeu Você não vai dar esse gostinho pra ele - Atire.
Os olhos de Vitor finalmente se ergueram da arma de fogo em suas mãos e se focaram nos dela.
-- Mas... – ele parecia confuso – Atirar em policiais? Eles...
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Pandora
FantasyO que é ser forte? É acordar em um quarto de hotel sem saber quem é ou como chegou ali, com um único recado dizendo pra você sobreviver, e mesmo assim seguir em frente de cabeça erguida em busca de respostas? Ser caçada ao redor do mundo por seres e...