Capítulo 6

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Pandora era um criança de novo, dessa vez correndo em uma casa. Seus pés estavam descalços e ela conseguia sentir a madeira fria do chão enquanto se apressava pelo corredor.

Ela se desviou por pouco de bater na mesa a sua frente, e então se jogou por de baixo dela. Enquanto engatinhava, tinha que tomar cuidado onde colocava as mãos para não apoiá-las no cabelo castanho escuro, tão grande que arrastava no chão.

Foi se embrenhando no labirinto de cadeiras, o espaço sob a mesa parecendo gigante para uma criança pequena. Pareceu que tinha andado quilômetros quando finalmente encontrou o que estava procurando e parou no meio da mesa.

Era um gato ruivo, grande e gordo com listras marrons. Ela sentiu o afeto lhe dominar ao olhar pra ele, antes de encarar seus olhos amarelos vidrados - e mortos. O gato estava morto.

Pandora gritou seu choro de criança enquanto observava o corpo de seu bichinho de estimação, esperando que ele se movesse. Mas ele não ia, claro. Ela sabia perfeitamente bem o que morto significava.

Ela esticou suas mãos pequenas e segurou o gato, sacudindo-o, e tudo que pensava era o quanto queria que ele não estivesse morto, que ele voltasse a vida. Fechou os olhos, se agarrando as memórias de seu amigo peludo vivo, e deixou as lágrimas escorrerem pelo rosto.

Até que sentiu algo se movendo sob suas mãos. Surpresa, ela abriu os olhos, bem a tempo de ver o bichano se sacudir e então se levantar. Ele se esfregou nela carinhosamente, e então se sentou e se lambeu.

Como se nada tivesse acontecido - como se ele não estivesse morto a segundos atrás. De alguma forma, o gato estava vivo.

*****

Tinha um barulhinho suave, mas sua insistência fez com que ela acordasse. Pandora ficou alguns segundos a deriva, os olhos fechados, tentando entender o que estava acontecendo. E então a dor veio.

Ela gemeu pesadamente e tentou abrir os olhos, apenas para descobrir que não conseguia. Seu corpo estava contorcido em ângulos estranhos, e estava pendurada, alguma coisa segurando sua perna de forma dolorosa e impedindo-a de cair.

Ela tinha morrido. Ou não. Ela sentia dor de mais, e sempre que despertava da morte as dores já tinham ido embora. Então o que tinha acontecido?

Tudo voltou pra ela de uma vez - os demônios, a luta, o carro derrapando e então o choque. Eles bateram em alguma coisa.

Eles. Os meninos...!

Pandora forçou seus olhos a abrirem e olhou ao seu redor. Ainda estava dentro do carro, que de alguma forma estava torto, o lado esquerdo mais alto que o outro. As pernas estavam presas entre os bancos, e era a única coisa que a impedia de cair em direção a porta aberta.

Ela estava sozinha.

90% de seu corpo doía insuportavelmente. Um gemido escapou de seus lábios quando tentou se mover para se soltar. Ela provavelmente quebrara uma costela. A menina tentou se mexer outra vez, segurando o grito quando a dor a invadiu. Talvez duas costelas.

Mas ela tinha que sair dali. Respirou fundo e içou o corpo, um som estrangulado de dor saindo de sua garganta, e então alcançou suas pernas. Puxou-as com toda a força que tinha, ouvindo a pele rasgar, e então despencou.

O corpo bateu no chão com um baque surdo, a dor tão grande que a impedia de respirar. Ela ficou deitada sobre os cacos de vidro por alguns segundos, tentando descobrir um jeito de fazer o ar voltar para o seus pulmões.

Assim que conseguiu, a menina se levantou ligeiramente sobre os cotovelos para avaliar o próprio estado. Ela tinha quebrado algumas costelas, um corte bem grande começava em sua testa e terminava no pescoço, alguns outro menores mas tão fundos quanto nos ombros. A perna direita estava quebrada, a pele dilacerada.

PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora