Capítulo 8

1.1K 138 30
                                    

Existe uma coisa extremamente terapêutica em andar. Em colocar um pé na frente do outro de novo e de novo, em um ritmo acelerado, ouvindo seu peso esmagando as pedras no chão. Em criar o seu próprio compasso, caminhando a sua maneira, seguindo em frente.

Principalmente quando era um dia bonito, poucas nuvens no céu azulado, o sol brilhando forte sob sua cabeça. Pássaros cantavam alegremente, voando entre as árvores, fazendo os galhos farfalharem levemente.

Era um contraste horrível com o clima do grupo.

Pandora não se lembrava a última vez que se sentira assim tão cansada. Seu corpo estava pesado, os ombros encurvados para baixo, e ela arrastava as pernas no chão de terra enquanto liderava o caminho. Sua vontade era de se jogar no chão e permanecer ali pra sempre, dormindo.

E era o que teria feito, se ainda não pudesse senti-los. Os demônios, caçando por eles, fazendo os instintos da menina dispararem alertas, implorando para que ela corresse.

Mas ninguém ali era capaz de se mover mais rápido. Eles já tinham assumido um ritmo muito acima do que realmente podiam fazer, e todos estavam desesperados por uma pausa. E mesmo assim eles continuaram com seus passos largos, as costas tão envergadas quanto as dela. Todos estavam exaustos.

É claro que não era só isso que deixava a atmosfera ao redor deles intragável. Os meninos tinham semblantes ora tristes, ora furiosos, e Pandora tinha certeza de que eles já a teriam deixado à beira da estrada se pudessem.

Mas não podiam, claro. Ela ainda era a única chance que eles tinham de sobreviver aquilo, e continuaria sendo até que chegassem no hotel e fosse seguro se separar. Ou no mínimo que despistassem os demônios - o que ela sabia que era improvável.

A menina deu um olhar de esgueira pra trás, mais um entre muitos.

Seus olhos caíram sobre Felipe e sua expressão infeliz. O sol refletia em sua pele bronzeada, e os olhos verdes eram maravilhosos daquele ângulo. Pandora percebeu que poderia encará-los por uma eternidade e ainda achá-los fascinantes. A maneira como podiam mudar do castanho pro musgo era incrível, e o brilho deles ainda mais.

Felipe era bonito. Ela tinha percebido isso no segundo em que bateu os olhos nele, mas tinha algo a mais quando se parava para reparar. Pandora tinha grande apreço por caras bonitos. Seu temperamento de jovem rebelde causava isso, e a quantidade de tequilas que já tinham passado por seu corpo estavam ai pra provar.

Mas por mais que fosse adorar culpar isso pela situação onde se encontravam, ela não podia. Ela podia gostar de beleza, mas não era o tipo de garota que faria loucuras por um rapaz bonito; a razão sempre falava mais alto. No hotel, tinha sido fácil dizer não a ele quando percebeu que era uma má ideia. Só gostaria de não ter ido a eles quando precisou de carona.

E, pelo olhar no rosto do rapaz, ele provavelmente pensava a mesma coisa. Pandora imaginou que ele se lamentava por ter ido falar com ela, por ter dito que ela podia ir com eles, por ter aceitado de bom grado quando a menina demonstrou interesse em acompanha-los mesmo depois da recusa.

Mas eles não podiam mudar o que estava feito, e pela primeira vez Pandora decidiu deixar o passado para trás.

Então ela voltou a olhar pra frente e se concentrar apenas em mover suas pernas e nos instintos, ainda agitados graças aos demônios.

Seu instinto era algo estranho de entender, funcionava como um sexto sentido. Ela simplesmente podia sentir o perigo se aproximando, como sentia o vento nos cabelos ou o sol na pele. Era como um formigamento na nuca, aquela mesma sensação de ter uma pessoa te encarando. Deixava o corpo inteiro da menina em alerta, e fazia com que tivesse vontade de olhar em volta, procurando o problema.

PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora