Capítulo 16

1K 124 22
                                    

Ela odiava aeroportos.

A vigilância excessiva, os detectores de metais, os seguranças a postos em cada canto... Era o suficiente pra deixar até mesmo Pandora nervosa.

Principalmente considerando que ela tinha que fazer todo aquele processo desarmada.

Era arriscado demais deixar suas adagas e pistolas presas ao corpo, mesmo que muito bem escondidas. Com a quantidade de câmeras, e especialmente dos detectores de metais, um gesto em falso poderia levar todo o seu disfarce por água a baixo.

E ela o tinha arquitetado muito bem. Entrou no aeroporto com o capuz puxado e a cabeça baixa, se enfiando no primeiro banheiro que encontrou. Lá, colocou uma peruca loira e se vestiu com roupas refinadas, tentando se passar por uma menina da alta classe alemã.

Odiou a si mesma por ter se esquecido de tomar esse tipo de precaução no hotel, antes mesmo de chegar lá.

Sua mente estava tão nublada com a perspectiva de deixar os meninos que acabou empurrando o que realmente importava para o lado.

É claro que isso mostrava pra ela o quanto foi importante ter se despedido deles.

Eles só serviam para distraí-la; Pandora não podia se dar ao luxo de tê-los por perto.

Mas mesmo assim, esses e os vários outros motivos que ela tinha pra se garantir de que fora por uma boa causa não eram o suficiente pra deixa-la menos chateada quando pensava neles.

Então ela fez a única coisa que podia a respeito:

Evitou pensar nisso.

Forçou seu cérebro a se preocupar com o que realmente importava, disposta a seguir em frente.

Quando saiu do banheiro feminino, Pandora era uma pessoa diferente.

Seu nome era Harriet Barth e ela era natural de Berlim, Alemanha. Tinha vindo ao Brasil a negócios, e agora estava voltando pra casa.

Nada que chamasse a atenção.

Os saltos altos estalavam no chão frio enquanto ela se movia, o queixo ligeiramente levantado e a expressão vazia.

Fez o check-in com calma, se forçando a disfarçar o nervosismo.

Sentia como se cada segurança e cada funcionário do lugar a estivesse encarando com desconfiança. Como se cada câmera do aeroporto inteiro estivesse apontada pra ela, monitorando todos os seus movimentos.

Ela começou a suar embaixo da peruca.

Quando chegou no detector de metal, foi necessário uma força descomunal pra não deixar o nervosismo transparecer. Entregou sua bagagem a mulher entediada do outro lado do balcão, retirou o casaco, e prendeu a respiração enquanto passava pelo arco de metal.

Não tinha nada que pudesse fazer a máquina apitar, mas mesmo assim prendeu a respiração nos poucos segundos que levou para atravessa-la. Estava do outro lado antes que pudesse perceber, e disfarçou ao soltar o ar – não queria levantar nenhuma suspeita.

E então voltou-se para a esteira, e assistiu sua mala preta ser escaneada, sabendo que suas armas estavam seguras – nada seria descoberto. O leve nervosismo da situação era apenas de praxe – tinha alguma coisa naquela mala que fazia com que seus objetos mortais desaparecessem nos aparelhos humanos. Quem sabe, se um dia recuperasse a memória, ela descobrisse por que.

Assim que finalmente recolheu suas coisas, não conseguiu evitar o suspiro de alivio; uma parte já fora. Faltavam todo o resto.

Começou a dizer pra si mesma que todo esse nervosismo era desnecessário. Aeroportos podiam ser lugares com monitoramento e cuidado, mas pra Pandora era só mais uma artimanha humana que não poderia detê-la.

PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora