Presente / part. 6

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You

- Onde você está indo? - Perguntou minha mãe no momento em que eu estava indo para dentro de casa com minha mochila, minha intenção era ir guardar minhas coisas no carro para depois vim dar tchau para eles. O dia já estava chegando ao fim e eu não queria pegar estrada muito tarde e nesse horário eu conseguiria chegar em casa antes de estar muito tarde da noite.
- Vou guardar minhas coisas mãe. - Falei e ela ficou me olhando. - Eu preciso ir para casa mãe, não quero chegar muito tarde em casa. - Comentei e ela se aproximou levando seus braços ao meu ombro e sorriu.
- Eu tenho um ideia muito boa para você não precisar chegar em casa tarde. - Disse ela e eu apenas fiquei em silêncio esperando ela continuar sabendo que era alguma gracinha dela. - E só você não ir para casa, filha, para de ser chata e fica aqui com a gente. - Pediu e ficou me olhando, era impressionante que eu fiz toda minha força possível para tentar negar o pedido dela, mas mesmo assim não consegui.
- Eu não tenho roupa junto mãe. - Falei tentando fazer ela deixar essa ideia de lado, mas nada parecia abalar ela.
- Isso não importa, você dorme aqui hoje e amanhã cedinho você pode ir para casa. - Comentou e eu concordei me dando por vencida, não tinha mais o que falar para tentar fazer ela me deixar ir para casa. E também não era o fim do mundo passar a noite ali com eles, o clima estava um pouco melhor após a longa conversa que tive com Roberta.
- Tudo bem mãe só vou lá guardar a minha mochila e eu já volto. - Falei e dei um beijo em seu rosto antes de passar por ela e segui fazendo a volta em toda a casa para chegar até onde estava meu carro estacionado. Guardei minha mochila ali e entrei com ele até dentro da garagem, não ia deixar meu carro lá na rua mas nem fudendo. Desci do carro e tranquei ele, me virei para entrar dentro da casa e encontrei Roberta sentada na rede que tinha ali na frente na área da casa. A mulher parecia concentrada em alguma coisa, ela estava ali parada parecendo uma estátua encarando o lago que tinha um pouco mais a frente da casa. Fiquei ali encarando ela por um longo tempo antes de negar e dar um passo me aproximando mais dela e parando ao lado da rede.
- Tudo bem? - Perguntei chamando atenção da mulher que me olhou tomando um pequeno susto.
- Você me assustou. - Falou me olhando e eu sorri. - Mas sim, está tudo bem, só estou observando nosso lugar. - Disse ela me olhando e eu desviei meu rosto encarando o gramado onde geralmente a gente se sentava para conversar.
- Acho que não podemos chamar de nosso lugar. - Falei e ela negou encarando o lugar.
- Acho que podemos sim, esse sempre foi o lugar onde a gente teve nossos melhores momentos e nossas conversas mais importantes. - Observei o lugar que a tempos eu não me sentava lá, a última vez que estive lá foi quando vim a primeira vez aqui após ela ter ido embora. E ela tinha muita razão, nossas conversas mais importantes foram ali, esse era nosso lugar de paz quando mais novas. Sempre que a gente estava aqui era ali que a gente iniciava e terminava o dia observando o sol. - Desculpa falar isso, você talvez não queria relembrar aqueles momentos. - Disse ela e eu neguei, esse não era bem o problema, a grande questão era que lembrar de algumas coisas daquele tempo dá uma saudade tão grande e isso acaba me afetando um pouco.
- Eu também lembro, não me importo de você ter falado. - Falei e ela sorriu me olhando, ela ainda tinha o mesmo sorriso de quando era mais nova. Esse sorriso me trazia as melhores lembranças da gente juntas, e não sei se isso era bom.
- A gente podia ir lá conversar um pouco, o que você acha? - Perguntou me olhando e eu voltei a encarar o lugar. A gente não precisava ir até lá para conversar, dava para fazer isso aqui mesmo não via motivo para ela querer ir até lá, tá talvez eu via, mas não tinha certeza se queria fazer isso. - Tudo bem se você não quiser. - Falou e eu neguei.
- Vamos lá então. - Esperei ela se levantar e caminhamos até o lugar, Roberta se sentou e ficou me olhando e deu uma risadinha. Encarei ela e me sentei ao seu lado já me deitando e encarei o céu que estava lindo hoje, quando o sol começasse a se pôr ficaria ainda mais lindo.
- O dia está lindo hoje. - Falou e eu concordei. - Não é estranho que a gente ficava aqui quando criança e agora estamos aqui adultas. - Comentou e eu dei uma risadinha, o mais estranho era que a gente se conhecia desde berço e agora estamos as duas adultas.
- Acho que isso pode ser considerado como crise dos trinta. - Falei e ela começou a rir e negou.
- Você já teve? - Perguntou curiosa e eu neguei, nem tinha tempo para ter crise, ficava só trabalhando, nem dava muita bola para isso e nem pensava muito sobre.
- Acho que não. - Não tinha muita certeza disso, mas pelo que eu saiba não tinha passado por isso não e acho que nem ia passar.
- Não é crise, sabe, só acho engraçado isso. Eu quero te fazer uma pergunta eu posso? - Perguntou e eu encarei ela e concordei. - Você ficou com raiva de mim, por eu talvez te dado aquela notícia do pior jeito possível e ainda ficar as últimas duas semanas aqui te ignorando, mesmo sabendo que você ia me apoiar. - Falou e eu encarei o lago em nossa frente, talvez no primeiro momento eu tenha ficado um pouco sentida, mas com o passar dos anos eu fui percebendo que ela fez o que precisava fazer. Era o sonho dela, ela nem tinha que se importar tanto assim com nossa amizade, ela só não precisa ter ficado me evitando naquela última semana isso sim tinha me deixado chateada.
- Acho que não precisamos conversar sobre isso já passou faz mais de dez anos que isso aconteceu. Não vamos ficar revivendo esses momentos, não tem motivo para isso. - Falei sem olhar para ela, não tinha forças e nem coragem para encarar ela neste momento, não queria deixar claro para ela o quando eu fiquei mal com aquilo tudo. Mesmo achando que nossos pais deveria ter contado alguma coisa para ela, eu preferia evitar, não ia mudar nada então pra que puxar esse assunto de volta depois de tanto tempo.
- Sua resposta já deixa bem claro que você me odiou em algum momento. - Disse ela e eu neguei.
- Eu fiquei chateada nos primeiros dias, meu único pensamento era que você não precisa ter se afastado daquele jeito. Mas isso passou com o tempo, eu sempre soube que em algum momento você iria sair daqui para jogar em outro lugar, mas acho que não estava preparada para o jeito que tudo aconteceu. - Falei e ela levou sua mão ao meu joelho e fez um carinho chamando minha atenção para ela, encarei a mão da mulher em minha perna e encarei ela que me olhava.
- Achei que de alguma forma você fosse me pedir para ficar e eu não podia fazer isso. Mas eu me arrependi de ter ficado aquelas duas semanas sem falar com você, a minha mãe me contou que você ia todos os dias até a nossa casa para me ver. - Não tinha muito o que falar isso era verdade e ela parecia realmente ter se arrependido de tudo aquilo, mas isso não ia fazer diferença para a gente agora. A gente estava aqui conversando depois de anos sem trocar uma palavra, a gente não devia ficar falando desses momentos do passado eles só fazem a gente lembrar de momentos tristes e isso não é legal. Falei uma vez apenas sobre aquele momento e depois fiz questão de guardar tudo o que eu sentia apenas para mim, meus pais ficaram preocupados comigo na época e eu fazia de tudo para parecer estar bem na frente deles e foi desse jeito que eu segui minha vida. Mas a única coisa que eu tinha certeza sobre tudo isso, era que eu jamais pediria para ela não ir, mesmo sabendo que ela estaria longe e a gente não ia se ver todos os dias eu jamais pediria isso.
- Você sabe que eu jamais pediria isso, era seu sonho ali e eu sempre torci muito para você conseguir realizar ele. Mas como eu disse Roberta isso já passou e você fez a escolha certa, você não tinha que pensar em amizade nenhuma, o mais importante sempre foi sua carreira e seu sonho. - Falei e ela negou e me encarou séria.
- Não é bem assim que funciona, a gente era amigas há anos e a gente namorava na época, eu devia ter tido um pouco mais de cuidado quando fui contar para você. - Encarei o céu e o sol começava a ir embora tornando a paisagem ainda mais bonita. - Eu devia ter te contado bem antes quando soube da chance de ir jogar fora, mas eu fiquei esperando o melhor momento e ele nunca chegou. Meus pais falaram comigo aquele dia e eu decidi que era melhor te contar, mas eu não sabia como ia fazer isso e acabou saindo daquele jeito. - Se explicou e eu sorri observando o céu que parecia tão lindo hoje, não queria mais falar sobre esse assunto, ele era um tópico bem sensível para mim e eu não tinha certeza se estava pronta para falar sobre ele.
- Tá tudo bem, já passou faz anos que isso aconteceu, a gente mudou somos outras pessoas agora. - Falei tentando botar fim naquele assunto.
- Meus pais comentaram comigo que você não gostava de falar sobre esse assunto, mas eu achei que seria bom a gente conversar e não ficar esse clima estranho entre a gente. - Não era fácil assim ela chegar e querer resolver tudo isso.
- Eu prefiro não conversar sobre esse assunto, eu sei que devem ter contado para você tudo o que aconteceu após você ir embora, mas eles são um pouco exagerados nem foi tudo isso. - Comentei e ela me olhou séria.
- Então você não se isolou como eles me contaram, e também não passou dias sem querer sair do quarto para nada e se negar a falar com sua família? - Perguntou e eu me sentei, já chega não queria falar sobre isso ela ainda não tinha entendido que falar sobre isso me deixava mal.
- Talvez eu tenha feito isso sim, mas isso não é problema seu, não é como você se importasse tanto assim com nossa amizade na época, me lembro de ter falado algumas vezes com seus pais para ver se você tinha pelo menos perguntado sobre mim e eles sempre negaram. Então é melhor não vim agora depois de anos querer acertar algo que ficou no passado. A gente não precisa ser amigas, se você quiser eu nem apareço nessas saídas de vocês eu já estou acostumada com isso é eu nem ligo mais. - Falei e me levantei já me virando para ir para casa não ia ficar aqui, nem era para eu ter vindo.
- Eu sempre perguntei de você. - Disse ela e eu parei de caminhar. - Todas às vezes que eu falava com eles eu perguntava por você, eu até fui algumas vezes até o seu quarto matar um pouco a saudade que eu sentia de você. - Me virei e encarei ela que me olhava séria. - Eles só não devem ter contado para você, mas eu sempre quis saber como você estava. - Roberta se aproximou parando na minha frente e eu neguei estava com raiva.
- Eles não me falaram nada de você em momento algum, eu perguntei umas semanas depois de você viajar, se você tinha gostado de lá, mas eles não responderam só mandaram eu superar e seguir a minha vida e foi isso que eu fiz. Ai dias depois me chamaram para conversar que eu tava muito estranha e tinha me afastado deles, então nada que eles falaram você deveria levar em conta. Mas isso não é culpa sua, você não precisa tá escutando isso, foi bom rever você depois de tanto tempo e foi bom conversar com você, mas eu não gosto de falar sobre toda aquela situação. Eu não tenho raiva e nem ódio de você, não consigo, você sempre foi a minha melhor amiga quando a gente era mais novas e eu ainda tenho muito carinho por você. Agora deles eu já não posso dizer o mesmo, mas fico muito feliz que você conseguiu realizar seu sonho, e muito orgulhosa de você, sei o quanto você queria isso. Fico realmente feliz que você conseguiu sempre estive aqui torcendo por você, mas agora eu vou indo, desculpa se falei alguma coisa que você não gostou, já fique sabendo que isso não é culpa sua. - Falei isso e me virei caminhando até meu carro que já estava estacionando na garagem, mas eu precisava ir para casa, eu precisava me sentir em casa e aqui junto deles já tinha deixado de ser minha casa a muito tempo. Peguei meu carro e saí voltando para casa e nem me dei o trabalho de ir falar com eles, apenas mandei mensagem para minha mãe avisando que estava indo para casa, precisava ficar sozinha não queria voltar para aquele momento de novo e era lógico que eu não tinha superado, talvez tenha sido o fim do mundo quando ela me deixou ou talvez eu apenas não esperava que isso fosse acontecer.


















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