Marquei com a Hadassa para buscá-la em três dias na casa dela, e fiquei surpreso em descobrir que ela mora num bairro vizinho ao que eu mesmo morei quando era criança. A diferença é que o bairro dela não tem barricadas, não tem bocas de fumo, não tem tiroteios. Diria que é um lugar seguro ao lado de um lugar excessivamente perigoso.
Parei na frente do muro de sua casa, de tamanho mediano, como a de Noah, mas consideravelmente mais simples, com um muro médio necessitando de uma pintura nova. Marcamos à tarde pois ela faz faculdade pela manhã, então o sol já está escaldante sobre minha cabeça. Eu previa isso, então estou com uma blusa cinza sem mangas.
É sábado, eu estou de folga hoje. No dojô do Sr. Yukki dou aula nos dias de terça e quinta, no outro dojô em que também trabalho dou aula nos dias de segunda e quarta. Com organização, creio que tudo se encaixa e ainda tenho tempo para descansar.
Depois de uma pequena espera, ela abriu o portão. Ela trajava uma blusa amarela vibrante sem mangas e uma calça jeans larga com alguns rasgos, na cor preta. Pedi expressamente que para melhor sucesso do exercício, ela sempre usasse roupas bonitas e chamativas, com cores vibrantes, e estivesse bem arrumada. E nada disso é átoa.
— Boa tarde. Está pronta? — Fui direto.
Ela sorriu sem graça.
— Ah… você poderia fazer uma coisinha antes? — Indagou, hesitante.
Eu dei de ombros.
— O que seria?
— Falar com a minha tia. Ela quer saber com quem eu vou sair. — Ela pediu, sem graça.
Eu ri sem humor.
— Não vou pedir sua mão em casamento, vou te levar para você crescer. — Brinquei. — Inclusive, acho que isso vai ser uma tarefa e tanto.
Ela revirou os olhos.
— Nossa, que original zombar da minha altura. — Bufou. — Sério, ela não vai me deixar em paz até te conhecer. É só se apresentar pra ela e deixar claras as intenções, vai ser rápido.
Suspirei profundamente.
Vou ter que falar com desconhecidos e parecer confiável. Isso é sempre estranho, mas eu consigo.
— Tudo bem. Pode ser.
Ela me deu espaço para entrar no quintal concretado frente à casa de paredes amarelas e porta cinza. Entrei na sala aconchegante com uma decoração tipicamente cristã, quadros com versículos bíblicos nas paredes com a pintura já vencida, sofás marrons, uma mesa de centro com algumas bagunças e cinco bíblias empilhadas, uma estante com uma televisão de tela plana onde passava o jornal.
Mas eu não via a tia de Hadassa, só uma garota vestindo short jeans e regata, com cabelo trançado, que descia as escadas no canto da sala quando parou no meio do caminho ao me ver, arqueou ambas as sobrancelhas e entreabriu os lábios em surpresa, se pondo a gritar:
— Ô mãaaaaae! O paquera da Hadassa tá aqui! — Gritou com sua voz profundamente estridente, me fazendo piscar atônito. — Ô mãaaae!
— Lety, para de gritar! — Hadassa protestou envergonhada, saindo do meu lado e se aproximando dela. — Tia Maria está terminando de se arrumar, e ele não é meu paquera!
— Aham, sei. — A garota riu de escárnio, terminando de descer as escadas e vindo falar comigo. Só então percebi que ela mascava um chiclete. Mantive minha postura intocável enquanto aquela garota vinha falar comigo, já que observando o comportamento dela, já entendi que ela pode ser imprevisível. Ela quis ficar a menos de um metro de mim, mas dei um passo pra trás. Quando se é um homem cristão, você entende que precisa de toda postura do mundo quando uma mulher com roupas muito curtas e justas e um decote escandaloso se aproxima de você. — Tu é bem alto hein? Aqui nós é tudo baixinha. — Ela riu, me olhando de cima abaixo. — Meu nome é Letícia, Lety pros chegados. E o seu?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Redenção, Acordes e Amores [COMPLETO]
RomanceDedico essa história a todos aqueles que já perderam alguém que amavam. A vida de Jonas foi marcada por perdas. Perdas de inocência, de pessoas, de pureza. A única coisa que Jonas nunca aceitou perder foi sua fé em Cristo, e continuava a confiar aci...