Capítulo 10: Medo e mentiras

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Depois que eu e Hadassa tocamos na frente da loja de Saulo, eu a deixei em casa. Tia Maria, apesar de seu semblante sério, me recebeu com educação e Hadassa despediu-se tristemente, o que me fez pensar que aquele reencontro a havia feito verdadeiramente mal, mas ela não queria falar sobre isso.

Desde então, faz três dias que tenho mandado mensagens para ela. Dado bom dia e perguntado se está tudo bem, mas ela sempre me dá respostas muito curtas, e sinto medo de estar importunando-a se for direto demais em falar sobre essas questões, então de certa forma o recente acontecimento se tornou um tabu para nós. Era estranho não trocar mensagens tão animadamente com ela como tínhamos o costume, falando sobre nossas vidas, contando histórias. Só agora percebo como as histórias nunca incluíam seus pais e sua irmã.

Por outro lado… eu precisava pensar em qual seria o próximo passo do nosso treinamento. Talvez fosse um desafio a mais para ela cantar enquanto é filmada na íntegra, e ao mesmo tempo, ao ver o vídeo depois, ela teria dimensão da beleza da própria voz e talvez isso trouxesse mais confiança.

Por algum motivo, tive essa ideia enquanto me distraía olhando para minha xícara de café, no meio de uma conversa com a minha mãe e Teófilo num casual encontro depois que saí do trabalho.

— Oi, Terra chamando Jonas! — minha mãe estalou os dedos na minha frente. — Ouviu o que perguntei?

— Oi. Desculpa mãe, pode repetir? — Indaguei.

— Estávamos te perguntando que cor você acha melhor para as madrinhas e padrinhos do casamento. — Relembrou. — Queríamos algo que refletisse a personalidade de nós dois. — Ela sorriu para Teófilo, que esboçou um pequeno sorriso. Era bom ver como mesmo tento mais de quarenta anos, eles pareciam adolescentes apaixonados.

— Não sei mãe. Confesso que cores nunca foram meu ponto forte, não entendo nada de moda. — Respondi, enquanto dava um gole na minha caneca de café, minha mãe me olhou com descontentamento. — Já definiram a data do casamento?

Teófilo assentiu.

— Não queremos demorar muito, vamos nos casar em cinco meses, no dia dezesseis de setembro. — Explicou. — E queremos que seja um de nossos padrinhos.

Eu sorri de lado.

— Eu aceito, obviamente. O Noah também vai? — Indaguei, curioso.

— Vai sim. E já avisei para ele que não quero nenhuma namoradinha dele como par. — Minha mãe torceu o nariz. — Tudo que queria é que meu filho ainda estivesse no caminho de Cristo. — Falou com tristeza palpável.

— Você cumpriu bem seu papel, Lu. — Teófilo a consolou, abraçando-a de lado. — As escolhas que Noah fez depois de adulto e responsável por si são algo que você evitou o quanto podia, mas infelizmente você não podia mais ajudar.

— Ninguém podia. — Completei, enquanto terminava meu café, e de repente o copo havia se tornado muito interessante, de maneira que desviei meu olhar. — Por agora, só nos resta orar pelo Noah e abraçá-lo como a família dele.

Minha mãe assentiu.

— Está certo, meu filho. — Ela sorriu minimamente. Luiza é de fato linda por dentro e por fora, desde que comecei a aprender sobre a moralidade cristã em relacionamentos, sempre almejei me casar com uma moça que tivesse o caráter dela. — Bem Jonas, e aquela tal Hadassa. Quando vai nos apresentar?

Eu ri levemente.

— Primeiro o Sr. Yukki, depois o Saulo, e agora você. A Hadassa agora é alguma celebridade? — Indaguei com acidez.

Ela deu de ombros.

— É apenas curiosidade. Tem passado um tempo considerável com ela, considerando todos os seus afazeres. — Ela bebeu um pouco de seu café.

Redenção, Acordes e Amores [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora