Capítulo 8: O sangue ruim e o amor

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O culto havia sido de muito esclarecimento, eu mais uma vez sentia paz, e estava convicto do que faria depois. 

Após cumprimentar meus pastores, Saulo e alguns conhecidos, eu me encaminhei para a casa de Noah, consolidar o convite que havia feito. Eu parei diante daquela casa e suspirei profundamente, como se fosse Davi diante do gigante Golias, eu me senti pequeno. 

Senhor… me dê sabedoria.

Eu sei o que preciso fazer. Sei o que preciso dizer. Mas até homens como eu, as vezes temem a reação de outras pessoas. 

Toquei a campainha. Esperei alguns instantes e Noah não demorou a me atender. Ele estava com roupas casuais, porém arrumadas o suficiente para quem iria a uma churrascaria.

— Boa noite. — Falei, e suspirei profundamente, pensando que agora não havia mais como voltar atrás.

— Boa noite. — Respondeu, me encarando de forma séria e analítica. — Vamos?

Eu assenti. Fomos andando para a churrascaria que não ficava muito longe dali. Nos sentamos à mesa e fizemos o pedido de uma porção de bifes empanados.

— E então, sobre o que queria conversar? — Noah perguntou, me encarando com seriedade. — Isso não é muito do seu feitio. — Observou com desconfiança.

Eu suspirei profundamente.

— Vim resolver nossas diferenças. Deixamos nossa mãe chateada. — Relembrei.

— É, não gostei nenhum pouco daquilo. — Deu de ombros.

Suspirei e cuspi as palavras antes que perdesse a coragem:

— Quero fazer as pazes. 

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Por que isso agora?

— Porque somos irmãos. E eu não venho te tratando como tal. — Falei. — Jesus me diz para ser manso e humilde, perdoar e suportar. Mas tudo que tenho feito é te excluir. E você tem razão, eu não fui um bom exemplo. — Suspirei profundamente. — Eu discordo de você, mas não precisamos ser inimigos.

Ele encarava a madeira da mesa com olhar analítico, tamborilando a ponta dos dedos no material. Eu me mantinha inalterável, observando qualquer sinal que ele pudesse dar do que viria em seguida, muito provavelmente tentando me proteger de uma possível rejeição.

Ele suspirou profundamente.

— Confesso que seu afastamento foi difícil mim. — Falou, desviando o olhar para algum ponto vazio. — A gente sempre foi tão próximo e do nada…

— Eu tive meus motivos. — Cortei. Por mais que admitisse meus erros em relação a Noah, havia coisas das quais eu nunca me arrependeria. 

— Eu sei. E eu também fui imaturo quanto a isso. — Noah desviou o olhar. — Eu não entendi porque você quis sair da banda. Mas eu devia ter considerado que a Lírio dos Vales já não te fazia mais feliz.

Foi a minha vez de desviar o olhar. Lembro que naquela época fazia um ano  e meio que eu havia perdido a Julieta. Eu saí da Lírio dos Vales uma semana depois de me arrepender dos meus pecados e terminar com Mara. Já fazia um ano e meio que eu não era feliz de verdade, em que aos poucos eu me perdia de mim mesmo, dos meus objetivos, e só tentava ter em mim a mínima fagulha de felicidade, que lutava pela minha fé, mas até ela deixei de lado em partes da caminhada. Não conseguia conversar com ninguém sobre a intensidade do meu luto e da minha culpa, e só acompanhei o fluxo de corrupção da Lírio dos Vales sem conseguir me posicionar por mais que no fundo da minha alma e do meu conhecimento eu soubesse quão errado eu estava me tornando.

Redenção, Acordes e Amores [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora