Capítulo 28: Uma bíblia e três túmulos

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Meu coração se apertava conforme eu entrava naquela sala mal iluminada, e me sentava em uma das cadeiras, atrás daquela mesa enorme de ferro, e o guarda que me acompanhou dizia:

— Aguarde um pouco, traremos ele aqui.

Eu assenti e ele fechou a porta de ferro com força. Olhei para minhas próprias mãos que se moviam inquietas. Nunca antes eu tinha tido coragem de visitar aquele lugar, mas agora, faltando um dia para eu me casar, eu sentia que precisava fazer nosso último acerto de contas.

De repente a porta de ferro se abriu me deixando em alerta, e o guarda que antes me trouxe aqui, trazia o prisioneiro com as mãos algemadas nas costas. Eu olhei bem para ele, sem mudar de expressão. Na sua cabeça faltava cabelo, ele parecia mais velho, sua barba grisalha estava por fazer, seu rosto estava enrugado e seus olhos cansados. Nem mesmo o uniforme laranja da prisão conseguia esconder que ele continuava barrigudo. O guarda o deixou sentado na cadeira. Ele estava sério. Eu o encarei sem expressão.

— O que quer comigo? — Indagou, desinteressado. Eu ri sem humor.

— Olá, pai. — Cumprimentei-o, esperando que ele soubesse quem eu sou.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Pai? Seja mais específico. Já fiz filho em muito lugar por aí. — Banalizou.

Eu suspirei profundamente.

— Jonas, filho da Suzana Rocha. — Me apresentei.

Ele ficou em silêncio por um instante e então emitiu um pequeno riso anasalado.

— Ah, Suzana. A mulher que acabou me colocando aqui. — Ele riu sem humor. — Você demorou um cadinho para visitar seu velho né? — Ironizou.

Eu suspirei profundamente.

— Eu vim só para te contar que vou me casar amanhã. — Contei. Ele arqueou ambas as sobrancelhas. — Nosso enxoval está pronto, já tínhamos a maioria das coisas porque eu já morava sozinho antes. Ganhamos uma cama de presente, compramos um sofá e um guarda roupa. — Descrevi, ele ouvia atentamente, parecendo surpreso. — Amanhã vai ser a festa e a cerimônia. Contratamos um buffet, ganhamos de graça o salão, aluguel de mesas e cadeiras, e de caixas de som. Economizamos meses para pagar as decorações e lembrancinhas. Fizemos o curso de noivos da igreja, ela decidiu se mudar para a minha igreja. Amanhã vou me casar com a mulher que eu amo, a mulher mais linda, doce e gentil que existe.

Ele ri sem humor.

— Meus parabéns. Me traga bem-casado quando terminar, sempre gostei desse doce. — Sorriu. — Aliás, um conselho: aproveita que ela é toda doce e meiga e faça um filho bem rápido pra essa mulher nem pensar em te largar. Se ela quiser, você usa o filho como desculpa e faz uma chantagem, mulheres são muito manipuláveis. Tendo um filho, você vai poder fazer o que quiser e vai ter ela na palma da mão. As mulheres doces são as melhores pra isso.

Eu contraí o lábio, enojado por receber um conselho desse tipo. Eu sabia que esse homem não prestava, mas confesso que não esperava por isso.

— Eu não manipularia a mulher com quem quero construir uma nova vida. — Respondi.

— Ah garoto, acha mesmo que vai se contentar com uma só mulher? Uma hora elas ficam sem graça, você sabe. As vezes se precisa do gosto de carne nova. — Ele insistiu, com desdém.

Eu suspirei profundamente, e tirei minha mochila das costas, depositando-a sobre a mesa de forma consideravelmente barulhenta.

— Eu não vim aqui atrás de conselhos. — Retruquei com secura, abri minha mochila, tirando de dentro dela uma bíblia e depositando-a na frente dele, que a olhou com o cenho franzido. — Toma, é sua.

Redenção, Acordes e Amores [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora