Se tem um lugar capaz de me fazer sentir paz, é a minha igreja.
Depois que a Lírio dos Vales declinou, a maioria dos membros abandonou a igreja Calvário Santo, onde eu e Noah crescemos. Por mais que morássemos em um bairro pobre, ele não era tão longe do centro da cidade, uma área mais segura e movimentada onde se localizava nossa igreja. Mara e alguns membros da Lírio dos Vales também eram de lá, exceto Ágatha, que entrou na banda após conhecer Noah e eu numa conferência. A Calvário Santo sempre foi uma igreja verdadeiramente bíblica, e ela não permitiu mais que a Lírio dos Vales tocasse nela após os membros se entregarem às heresias e ao mundanismo, como resultado, a banda abandonou a igreja.
Eu percebi que não voltaria atrás ao sair da Lírio dos Vales, porque assim que tomei essa decisão, fruto de um arrependimento e confissão ao Pai, eu fui ao pastor Henrique confessar todos os meus pecados. Desde então, após ser acolhido novamente pela igreja onde cresci, me envolvendo novamente com a obra e a propagação do reino, que percebi que jamais poderia viver longe desse lugar. Casa é o lugar onde durmo, verdadeiramente, meu lar se localiza aqui.
Foi o que pensei enquanto recebia a benção apostólica após esse culto, nessa manhã de domingo. E enquanto terminava de guardar os instrumentos, com a barriga roncando de fome e pensando em qual sabor de miojo ia comer hoje, avistei uma figura vindo em direção do púlpito sobre o qual eu ainda estava, me encarando com um sorriso.
Quando vi aquele homem alto, de pele levemente morena e olhos tipicamente asiáticos, usando um grande óculos redondo, cujos cabelos estavam presos em um coque, vestia uma grossa jaqueta jeans clara e uma calça cargo escura com um coturno preto, eu arqueei ambas as sobrancelhas e esbocei um sorriso, tendo certeza — e ao mesmo tempo não acreditando — de quem estava vendo.
— Meu Deus, Saulo! — Deixei o que estava fazendo para ir até meu amigo e atracá-lo num abraço de irmãos. — Não creio cara, você voltou! — Exclamei.
— Ih… já vi que tá de bom humor. — Ele zombou. — Sim, eu voltei.
— Como foi no Tocantins? — Indaguei.
Sim, eu sei que esse comportamento é atípico vindo de mim. Porém, Saulo é meu melhor amigo desde os doze anos, quando ele passou a frequentar a mesma igreja e a mesma escola que eu. Sempre fomos muito destacados por ambos sempre termos sido mais altos que o normal, até conhecer ele, eu nunca tinha conhecido alguém da minha idade que tivesse a minha altura.
Saulo estava há um ano numa viagem missionária no Tocantins, ajudando comunidades carentes. E agora tínhamos muita conversa para colocar em dia.
Meus planos de comer miojo em pleno domingo foram frustrados, pois eu e Saulo resolvemos almoçar num restaurante próximo dali. Confesso que só ia comer miojo por não ter vontade de cozinhar, e que aquele frango assado estava realmente melhor que um miojo de galinha caipira.
Saulo contava satisfeito de todas as suas vivências no Tocantins. A convivência com as comunidades onde esteve trabalhando, o quanto pôde aprender com todas aquelas pessoas e também ensiná-las, e como apesar de não ter tido sucesso em trazer comunidades inteiras ao evangelho, se sentia satisfeito em suas missões terem resgatado muitas almas.
— Algumas comunidades eram mais duras e fechadas, e demorava muito mais tempo até conseguirmos que eles se abrissem para a mensagem. Outras eram acolhedoras, receptivas, e conseguimos nos expressar com mais facilidade. Num geral, foi uma experiência trabalhosa, mas muito gratificante. — Saulo sorria contando. Ele sempre teve um coração com enorme desejo de ajudar ao próximo e propagar o reino àqueles onde o evangelho ainda era pouco acessível. Ele sempre foi mais bondoso que eu. Ele sempre quis largar tudo e se arriscar, e ver que ele conseguia realizar esse sonho me deixava imensamente feliz. — Teve uma vez que fui ajudar um senhor com problemas na perna a ir ao hospital enquanto ele me rogava pragas, porque não queria a ajuda de um religioso.
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Redenção, Acordes e Amores [COMPLETO]
RomanceDedico essa história a todos aqueles que já perderam alguém que amavam. A vida de Jonas foi marcada por perdas. Perdas de inocência, de pessoas, de pureza. A única coisa que Jonas nunca aceitou perder foi sua fé em Cristo, e continuava a confiar aci...