Capítulo 16: Mau pressentimento

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A sexta feira de início do retiro enfim chegou, eram seis da manhã quando parei em frente à casa de Hadassa e ao menos uma vez, tudo estava em silêncio. Eu bati na porta e me anunciei, não demorou muito para ouvir os leves passos de Hadassa e minha baixinha abrir a porta para mim com um sorriso, me abraçando fortemente.

— Oi, você chegou cedo. — Ela falou, me soltando do abraço, me permitindo ver sua roupa de hoje. Ela usava uma calça preta larga e uma camiseta por dentro com a clássica estampa do Smilinguido. — Vamos evitar fazer barulho porque a tia Maria está dormindo. Estou quase pronta, só preciso calçar meus tênis. Quer entrar e comer alguma coisa?

Eu balancei a cabeça, a acompanhando casa adentro e vendo sua mochila no sofá da sala, assim como uma bolsa grande de pano com toda sua roupa de cama.

— Não precisa, eu já comi. — Respondi. — Calce alguma coisa confortável e leve seus chinelos, vai ser melhor para usar lá.

— Meus chinelos já estão na mochila. — Falou já se encaminhando à escada. — Vou pegar meu tênis lá em cima e já volto.

Eu assenti, logo vendo-a descer novamente com seus tênis pretos em mãos, calçando-os animadamente. Eu sorri minimamente. Estava namorando uma garota com quem viveria uma vida com Deus, ir para um retiro juntos era apenas o início de muitas coisas que viriam.

— Estou pronta. — Ela falou, se levantando e cruzando as mãos na frente do corpo ansiosamente.

Eu sorri minimamente.

— Você está linda. — Afirmei, encarando-a de cima abaixo.

Ela sorriu de forma acanhada.

— Obrigada.

Eu me levantei do sofá, indo até ela e acariciando suavemente seu rosto de formas arredondadas, ela me olhava com expectativa.

— Seu cabelo é perfeito. Não te dou permissão para alisar, entendido? — Indaguei, ela pareceu surpresa com isso, mas prontamente sorriu e assentiu.

— Certo. Não vou alisar. — Falou, com a voz serena, encostando a cabeça em meu peito devagar, eu acariciei seus cabelos, infiltrando minha mão entre seus fios, tocando seu couro cabeludo, fazendo leves carinhos. — Você sabe fazer carinho num cabelo crespo sem estragar… você é um dos poucos. — Ela falou, se recostando mais enquanto eu fazia carinho.

— Eu vi um vídeo ensinando uma vez, redes sociais às vezes são úteis. — Eu sorri, enquanto ainda fazia carinho.

— Dá vontade de ficar assim pra sempre, mas o primeiro ônibus para o retiro sai às sete, correto? — Indagou, se afastando do abraço, por consequência afastei minha mão de seu cabelo.

Eu assenti.

— Sim, é melhor irmos. Aproveitarei para te apresentar ao pastor Henrique. — Comentei, enquanto ela pegava sua mochila, e eu sua bolsa com roupas de cama. — Abrace a bolsa e abrace a mim enquanto estivermos na moto. — Instruí, Hadassa assentiu. Ela havia perdido o medo de andar de moto.

Por mais improvisado que tenha sido, Hadassa abraçou sua enorme bolsa de roupas de cama até chegarmos à igreja, e adentrarmos no pátio principal onde a maioria dos membros e alguns não membros que iriam ao retiro já esperavam a eminente saída do ônibus. Deixamos nossas bolsas por enquanto em algumas cadeiras dentro da igreja. Algumas pessoas me olhavam diferente por entrar de mãos dadas com Hadassa, algumas tinham coragem de perguntar se estávamos juntos, e reagiam com surpresa quando eu dizia que sim. Já era um senso comum para a maioria da igreja que eu era o filho introvertido da Luiza, então era inédita a ideia de me ver com uma namorada.

Redenção, Acordes e Amores [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora