Redenção, Acordes e Amores [COMPLETO]

Capítulo 17: Infantil

“Eu estava parado num canto. A Lírio dos Vales comemorava na casa que na época era minha e de Noah, o nosso primeiro clipe que teve mais de um milhão de visualizações nas redes sociais. Depois do aparato da gravadora, conseguimos mais estrutura, patrocínio e divulgação do que poderíamos prever, e nossa primeira música a alcançar isso, apesar de eu sentir que ela não havia sido o tipo de música que eu gostaria de compôr, havia sido um sucesso estrondoso.

Mas na comemoração, enquanto todos brincavam, conversavam e curtiam, eu estava parado num canto. Às vezes mexendo no celular, às vezes comendo, mas isolado em minha melancolia, que depois de certo tempo havia se tornado apenas uma apatia quase total. Até que Mara veio até mim. Nessa época, Mara e eu conversávamos ocasionalmente e mantínhamos uma amizade.

— Sem bateria social? — Ela perguntou.

— Você entende. — Falei.

— Pior que entendo. — Sentou-se ao meu lado, observando como eles brincavam e curtiam como se fossem crianças. — Tá afim de sair daqui?

Dei de ombros.

— Pode ser.

Eu e Mara resolvemos caminhar noite à fora, paramos numa praça onde havia uma barraquinha de sorvete, resolvemos parar para comer.

— Tenho te observado por curiosidade. Você é distante, mas ao mesmo tempo gente boa. Já faz um ano que somos parte da mesma banda e desde então você nunca namorou, ou se namorou é muito discreto. — Comentou.

Eu dei de ombros.

— Digamos que não tenho muita sorte no amor. E se for usar a mesma métrica, você também não. Nunca te vi namorando. — Comentei.

— É, ninguém é digno. — Riu levemente, me arrancando um pequeno riso anasalado. — Olha só… você sorriu.

— É, parabéns. — Ironizei.

— Sabe Jonas, eu acho que a gente se entende. — Ela falou. — Eu tenho te observado, falado com você, e cada vez mais sinto que me identifico.

— Você também é uma boa pessoa. E com todo respeito, muito bonita. — Eu comentei.

Ela riu, se aproximando.

— Obrigada. Significa muito ouvir isso de você. — Ela olhava em meus olhos com intensidade. — Jonas… você já gostou de uma garota antes?

Eu assenti.

— Sim.

— Eu também já gostei de garotos antes. Mas eu preciso confessar que… nunca do jeito como tenho gostado de você.

— Eu confesso que isso me surpreende. O que acha que há de bom em mim? — Indaguei, descrente, porém ocultando minhas emoções.

Mara sorriu, se aproximando ainda mais de mim, mantendo nossos olhares fixos e nossos rostos próximos.

— Tudo.”

Chegamos no retiro e tivemos nosso primeiro discurso inicial no salão comunal do sítio onde ficaríamos hospedados. Nossos celulares foram confiscados para melhorar nossa experiência, e fizemos filas divididas por sexo para ir ao dormitório. Foi a primeira vez que me separei de Hadassa.

Fiquei no mesmo dormitório que Saulo e mais dois homens com os quais não tinha muita intimidade, que só conhecia por vista e por nome. O que categoriza uma parte significativa da igreja, ela é grande demais para eu conseguir conhecer todos. Todos os dormitórios tinham uma cor específica na porta e recebemos pulseiras com essa mesma cor, o meu era roxo.