24 de dezembro de 2019 - Chongqing, China

1.3K 107 194
                                    


"Se o mundo for mesmo acabar por conta de um vírus, eu queria pelo menos poder estar do teu lado. Apostar contigo pra ver quem é que vai morrer primeiro, torcendo escondido pra que o vírus faça o trabalho dele em mim antes de fazer em ti, porque eu não aguentaria estar vivo pra te ver dando o teu último suspiro. Foda-se, que seja você o sorteado pra lidar com a minha morte, e não o contrário!"

Martín lia a notinha impressa do recado que Luciano escreveu, e provavelmente ordenou que fosse colado ao presente entregue nas mãos do argentino por um dos funcionários do hotel no qual ele estava hospedado.

O loiro continuou a leitura do recado, imaginando com precisão o tom de voz de Luciano – que parecia ser capaz de transmitir a sua típica ousadia até mesmo por palavras escritas.

"Por que diabos tu decidiu passar o Natal na China?! Longe de tudo e de todos? Longe de mim? E no meio da anunciação do apocalipse? Sério, por que você é assim?!"

— Eu não tinha noção da suposta gravidade disso tudo, pelotudo... – Martín falou baixinho como se respondesse o recado de Luciano, referindo-se implicitamente às notícias sobre um vírus mortal para seres humanos que surgia em terras chinesas e se espalhava numa velocidade preocupante. — E na verdade nem me parece ser tão sério assim...

"Eu poderia facilmente te implorar pra que tu voltasse pra casa antes que esse país inteiro se feche para o mundo, mas eu sei que tu não vai fazer isso, não é? Eu sei... Então, será que tu poderia pelo menos passar uma horinha que fosse, das onze e meia até à meia-noite e meia do horário chinês, conversando comigo? O presente que tu recebeu é pra isso. Quando der esse horário, eu te ligo. E se tu não estiver usando o que eu te dei, eu desligo na hora!"

— "Eu tô quase doente de tanta saudade de ti, mas finge que eu não falei isso porque tu não tá merecendo saber disso não" – Martín leu a última frase da nota em voz alta, soltando pelo nariz um arzinho num semi-riso disfarçado, colocando-a com cuidado em cima da cama e pondo-se a desembrulhar o presente.

Havia uma caixa dentro do embrulho que fez Martín pensar ser, inicialmente, alguma peça de roupa.

O argentino levantou uma sobrancelha quando abriu a caixa, percebendo que de fato acertara sobre o que seria o presente, mas estranhando a cor chamativa do que quer que fosse aquela vestimenta.

As duas sobrancelhas claras de Martín se levantaram conjuntamente com a expressão de espanto que se formava em seus lábios, enquanto o loiro desdobrava a roupa e observava um macacão verde e felpudo tomando forma na frente de seu rosto.

A roupa fez o argentino pensar nos macacõezinhos que os bebês recém-nascidos geralmente usam, porque a peça única esverdeada que ele segurava realmente se assemelhava a um desses – se não fosse pelo capuz que caía às costas da roupa e denunciava claramente ser algum tipo de fantasia de um personagem fictício bem específico.

Martín jogou a roupa de qualquer jeito na cama – se arrependendo de imediato porque, ainda que fosse um presente absurdo, não deixava de ser um presente; e buscou o celular pelo quarto do hotel, parecendo não se lembrar de onde tinha colocado o aparelho.

A mensagem de áudio que ele imediatamente enviou para o brasileiro soou raivosa:

— Se você acha que eu vou te dar a chance de me fazer passar por esse vexame de graça e por livre e espontânea vontade minha, você claramente não me conhece. Feliz Natal e até ano que vem!

O argentino jogou o celular na cama, que caiu ao lado da roupa presenteada – agora cuidadosamente dobrada.

Martín revirou os olhos quando escutou o aparelho vibrar algumas vezes, já imaginando ser alguma mensagem de Luciano, e optando deliberadamente por ignorá-la.

One Hundred Days of Dreams (Luciano x Martín) (BRAARG)Onde histórias criam vida. Descubra agora